Guaxupé, sexta-feira, 26 de abril de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Padre Francisco Carlos Pereira, o Padre Carlinhos, pároco da Catedral de Guaxupé, é entrevistado por colunista do Jornal da Região

domingo, 8 de maio de 2022
Padre Francisco Carlos Pereira, o Padre Carlinhos, pároco da Catedral de Guaxupé, é entrevistado por colunista do Jornal da Região Padre Francisco Carlos Pereira, o padre Carlinhos (Foto: Facebook da Catedral de Guaxupé)

Guaxupé é uma cidade marcada pelo desenvolvimento da fé cristã.
A Igreja Católica se fez presente desde o início da história dessa cidade.
Um dos cartões postais e também um dos mais importantes centros de evangelização, é a belíssima Catedral Diocesana Nossa Senhora das Dores.
Recentemente, sob a autoridade do Bispo Diocesano Dom José Lanza Neto, a Catedral ganhou seu novo pároco, o Padre Francisco Carlos Pereira, que estará comemorando, no dia 09 de maio deste ano de 2022, segunda-feira, 25 anos de sacerdócio!
Nosso colunista, o psicólogo e professor Rodrigo Fernando Ribeiro, mais uma vez, além de seus artigos, conseguiu uma entrevista exclusiva.
Confira, na íntegra, a entrevista com o atual pároco da Catedral de Guaxupé, Padre Carlinhos:
 
Rodrigo: Padre Francisco Carlos, na sua época de criança, o que de melhor recorda da educação familiar e escolar que recebeu?
 
Padre Francisco: Eu nasci em 1969, sou o filho caçula de 8 irmãos. Criado numa família simples onde, mesmo não tendo tudo, nunca nos faltou o cuidado, a atenção e a presença constante de nossos pais. Tenho lembranças muito vivas desse convívio familiar, a vida de fé, oração e exemplos de meus pais, tudo na maior simplicidade; uma vida dedicada ao trabalho. Da vida escolar trago comigo as lembranças de minhas primeiras professoras, que ainda vivem; sempre amáveis e dedicadas. Uma gratidão imensa por tudo que me ensinaram.
 
Rodrigo: Quando e de que modo se deu o seu chamado ao sacerdócio católico?
 
Padre Francisco: A vocação que Deus nos chama sempre precisa de mediação humana e de experiências próximas da vida do vocacionado. Deus se serviu da vida de fé de minha família, onde aprendi a rezar e tive contato com a Palavra de Deus, e também da vida da comunidade onde sempre participamos. Naquela comunidade, em Divisa Nova – MG, nem sempre tinha padre para assisti-la. Recordo de uma ocasião em que assim me expressei, num diálogo interior: “Ser padre? Por que não eu?”. Das experiências de fé no seio da família e de minha abertura ao chamado, fui aos poucos dando minha resposta ao chamado de Deus.
 
Rodrigo: Na sua opinião, fundamentada evidentemente na sua experiência, quais são os maiores desafios e as melhores conquistas de ser padre?
 
Padre Francisco: Ao meu ver, o maior desafio da atualidade é ter um diálogo com o ser humano deste tempo com profundas transformações, o que chamamos de “mudança de época”. Mudanças profundas que ativem valores antes incontestáveis, imprimindo novos paradigmas em todos os setores da sociedade. A maior conquista é conseguir não ceder à essas mudanças, mas também não ser indiferente. Ceder só para não ficar de fora, para não perder “os ouvintes”. Parece-me que, em pleno século XXI, repete o que fora vivido em outras épocas: “ser cristão é andar na contramão do mundo”. A Igreja, com seus ministros ordenados e os cristãos leigos precisa estar preparada para anunciar a Palavra de Deus ao homem do nosso tempo. Anunciá-la com alegria e fidelidade ao Senhor.
 
Rodrigo: O senhor comemoraria seus 25 anos de sacerdócio na cidade de Poços de Caldas, onde estava exercendo o seu ministério. No entanto, foi transferido para a cidade de Guaxupé, a pedido do Bispo Diocesano Dom José Lanza Neto. Desse modo, o senhor comemorará seus 25 anos de sacerdócio nesse outro cantinho mineiro. Quais estão sendo suas primeiras impressões da cidade de Guaxupé?
 
Padre Francisco: Mantenho o meu coração sereno, alegre e entregue ao Senhor que me escolheu e me quer padre. Um sentimento de gratidão a Deus devido a todas as comunidades onde trabalhei (esta é quarta paróquia que trabalho como pároco). Aqui em Guaxupé, estou feliz, me adaptando bem a nova dinâmica de trabalho junto à comunidade da Catedral Nossa Senhora das Dores. Encontrei uma comunidade muito bem organizada, dinâmica, entusiasmada e querendo trabalhar; disposta a retomar os trabalhos pastorais neste cenário pós-pandemia, que espero que se firme e volte ao “novo normal” o mais rápido possível. Não sou o melhor para afirmar isto, mas, ouso dizer que há uma empatia muito grande entre comunidade e padre.
 
Rodrigo: Verificamos, ao longo da história da humanidade, que infelizmente o avanço técnico-científico não é acompanhado pela evolução mental, moral e ética. Todos os anos: guerras. E sabemos que a guerra começa dentro de nós. Sabemos também que o Espírito Santo nos habita, somos território sagrado, morada de Deus. Do ponto de vista da teologia ou do Magistério da Igreja, como se explica tal conflito persistente no interior de cada ser humano – conflito este já presente no início da nossa história, onde o primeiro casal, Adão e Eva, desobedeceu a Deus e, em seguida, um crime entre irmãos: Caim mata Abel.
 
Padre Francisco: Infelizmente, o fratricídio narrado no Livro do Gênesis, continua acontecendo até hoje: irmão matando irmão, muitas vezes sem saberem porquê. Realmente, a guerra é expressão de uma humanidade em conflito, de homens divididos em seu interior. O ser humano, desde que pecou não conseguiu reestabelecer a harmonia dos sentimentos em seu interior. A busca pelo poder parece que permite tudo. Essa busca de reestabelecer a ordem de paz que foi rompida não será alcançada sem Deus. Vemos uma humanidade fechada a uma experiência com Deus, que não tem ou nunca teve a Palavra de Deus como referência para uma visão de mundo e de ser humano, que se faz pessoa melhor à luz do amor de Deus que nos foi revelado.
 
Rodrigo: É tradição da Igreja Católica considerar o Bispo de Roma (Papa) legítimo sucessor do Apóstolo Pedro. De fato, historicamente também podemos comprovar que o ministério petrino jamais foi interrompido ao longo de mais de 2.000 anos de história do cristianismo. Citando apenas os dois últimos Bispos e o atual Papa, alguns analistas os definem assim: João Paulo II foi um grande filósofo e comunicador. Bento XVI foi um grande teólogo, professor e escritor. Já o Papa Francisco é um grande pastor e pacificador, apaziguador de conflitos. Na sua opinião, Deus envia, mesmo com a influência dos homens, o Papa certo para cada época?
 
Padre Francisco: A sucessão apostólica ela é uma tradição mantida e é uma riqueza de nossa Igreja. Partindo daí, eu afirmo, sem sombras de dúvidas: para cada tempo da história da Igreja, Deus envia pessoas capacitadas, a pessoa certa para conduzir a sua Igreja. O Espírito Santo continua assistindo a sua Igreja. Assim sendo, aos homens que servem a Igreja, com suas funções, cabe, não influenciar na escolha daquele que será o papa para a época em questão, mas, eles devem abrirem-se à ação do Espírito Santo e discernirem qual é a vontade, a escolha de Deus para o governo de sua Igreja. Tendo citado os três últimos papas que tivemos, eu afirmo que foram os homens de Deus para a sua Igreja, até mesmo possuidores de uma visão à frente do tempo, enxergando horizontes humanos e de fé que outros, em postos de liderança e expressão mundial, não possuem.
 
Rodrigo: Apesar de algumas diferenças e de alguns aspectos irreconciliáveis de fé, a Igreja Católica e as demais Igrejas oriundas da Reforma Protestante são consideradas igrejas irmãs. Todas acreditam que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador. Em praticamente todas as cidades onde a Igreja Católica se faz presente, existem também as Igrejas Protestantes. Como conviver em harmonia?
 
Padre Francisco: Esta harmonia para nós chama-se Unidade dos Cristãos, buscada através da prática do Ecumenismo e também do diálogo inter-religioso. O que facilita a busca pela Unidade, que não é acabar com nenhuma Igreja, é conhecer bem a minha fé, aceitar que há irmãos que creem no mesmo Deus, porém trilham caminhos institucionais diferentes do meu.
 
Rodrigo: Sendo o senhor um padre, pedimos a sua oração final.
 
Padre Francisco: Que a bênção de Deus venha sobre todos os homens e mulheres de boa vontade. Que recebamos de Deus toda graça e favor para sermos promotores do bem, da justiça, trabalhando todos a serviço da vida e da paz.
Muito obrigado por esta oportunidade que me foi concedida. Meu fraternal abraço.
 

 
 
 

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