Ainda estamos aqui pela democracia que pulsa luz

Mar 4, 2025 - 14:13
Ainda estamos aqui pela democracia que pulsa luz
Foto: Divulgação

A consagração do cinema nacional ao conquistar o primeiro Oscar da sua história com o filme “Ainda Estou Aqui” é muito mais que uma premiação, é um grito de alerta ao mundo sobre o perigo de um regime ditatorial, dos ataques à democracia, tendo como centro a denúncia de um assassinato, uma história verídica como a de tantas outras vítimas da repressão militar.

É preciso estar atento com a pulsação democrática, pois com sua luminosidade é possível a revelação dos horrores dos porões dos anos de chumbo de uma época tenebrosa.

Então, não se trata apenas de cinema, o melhor filme internacional relata os horrores de um passado que muitos querem apagar.

Contar essa história é um ato de resistência, um escudo contra os golpistas de plantão que visam retornar ao poder central do país.

Essa conquista tem a mão da Comissão Nacional da Verdade, que investigou os crimes da ditadura, retomando o caso do desaparecimento e assassinato do ex-deputado federal Rubens Paiva.

O que se tornou numa busca incansável e corajosa de sua esposa Eunice Paiva pela verdade e pela justiça.

Uma história contada com maestria pelo filho do casal, o escritor Marcelo Rubens Paiva.

Não se deve perder a memória política de tempos sombrios, pois quando eles são ignorados ou negados, retornam mais fortalecidos em sua crueldade.

A conquista do Oscar pelo “Ainda Estou Aqui” deixou os golpistas babando ódio nas redes sociais, ficaram enfurecidos com sua vitória, provando mais uma vez o quanto a imbecilidade dessa gente é desprezível.

Gado verde e amarelo ruminando ódio tóxico e desprezo pela cultura nacional e pela verdade histórica.

Falsos patriotas em desespero.

A grande mídia corporativa, que, em sua pequenez, andou de mãos dadas com a ditadura militar e flerta com o golpismo nazifascista, também ficou sem chão com o sucesso do filme.

Tempos atrás, essa mesma mídia golpista tentou suavizar a ditadura, falando em “dita branda”.

A arte do diretor Walter Salles foi indicada em três categorias ao Oscar de 2025, de melhor filme internacional, melhor filme e melhor atriz, com a interpretação ímpar de Fernanda Torres.

O mais importante é que se trata de um filme baseado em livro.

Viva a literatura!

A obra comprova o que disse o poeta Ferreira Gullar, de que “a arte existe porque a vida não basta”.

Apesar das trevas, mesmo que a vida não baste, realmente a vida presta, vale muito pelas lutas e conquistas.

O filme é uma vitória da democracia e do compromisso com a memória e a verdade e demonstra a importância da cultura como canal para reflexão e mudança social.

Sim, “nós vamos sorrir”!

Na comemoração do Oscar o grito de “anistia não” ecoou pelo país durante o Carnaval.

Uma manifestação popular contra a impunidade, para que terroristas que atentam contra a democracia paguem por seus atos criminosos.

A consagração do filme é uma vitória da resistência de todos aqueles que estão do lado certo da história, que não desistiram de lutar e resgatar a memória dos que foram brutalmente assassinados pela força de repressão da ditadura militar, dos presos políticos, torturados, enfim, mortos e desaparecidos.

Então, não se trata apenas de um filme, mas da história do país, da memória política que negacionistas ainda tentam apagar.

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça, ditadura nunca mais!

O compromisso com a verdade e com a memória histórica é fundamental para uma democracia revigorada, resistente e forte.

Por isso, ainda estamos aqui pela democracia que pulsa luz!

(João Júlio da Silva é jornalista)