Guaxupé, domingo, 28 de abril de 2024
João Júlio da Silva
João Júlio da Silva PAPOENTRELINHAS João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé. Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com

AGOSTO DO MESTRE ELIAS JOSÉ

domingo, 2 de agosto de 2020
AGOSTO DO MESTRE ELIAS JOSÉ Hoje, dia 2 de agosto, está completando 12 anos que o escritor Elias José faleceu

Agosto é marcante para a literatura brasileira, principalmente para o sudoeste de Minas Gerais, pois é o mês em que nasceu e morreu Elias José. A data de nascimento do escritor é 25 de agosto de 1936; a 23 dias de completar 72 anos, ele faleceu no litoral sul de São Paulo, em 2 de agosto de 2008; portanto, está completando 12 anos de sua morte. Natural de Santa Cruz da Prata, a “Pratinha”, distrito de Guaranésia, Elias viveu a maior parte de sua vida em Guaxupé.
O escritor teve uma trajetória literária construída por diversas obras, principalmente na criação infantojuvenil. Elias era um talento nas letras e deixou um rico legado para o país, que perdeu um grande mestre, pois era um dos seus maiores nomes, mas sua obra ficou e deve ser tratada com o devido valor.
Em Guaxupé, entre velhos casarões com seus belos telhados, quintais arborizados, jardins, montanhas e a bela Catedral, Elias José escreveu mais de cem livros. Ele recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior. Muitos de seus escritos foram publicados em livros didáticos das escolas e sua obra indicada para leitura.
Elias José era mestre em brincar com as palavras, enfocando sempre temas como meio ambiente, cidadania, folclore e valores humanos. Com magia na arte de escrever, desvendava as muitas poesias escondidas nas palavras. Revelava a capacidade que as palavras têm de fazer pensar, rir, sentir, provocar emoções e as mais diversas sensações. Sugeria que as palavras bem manejadas são capazes de mudar o mundo, cada vez mais sem cor e sem graça.
Sua obra abrange um grande universo literário, pois trabalhou com poesia, conto e prosa, sempre buscando novas formas de narrativa. Atuou entre o real e o maravilhoso, com grande técnica no manejo das palavras. Além de escritor, Elias José era professor universitário aposentado de Literatura Brasileira e de Teoria da Literatura e foi também professor de Língua Portuguesa e Literatura por longos anos.
Elias José estreou em livro com "A Mal-Amada", em 1970; anteriormente, tinha conquistado o segundo lugar no Concurso José Lins do Rego, da Livraria José Olympio Editora, em 1968. Em 1971, publicou "O Tempo", "Camila", "Minicontos". Em 1974, "Inquieta Viagem no Fundo do Poço" e "Contos", ambos na Imprensa Oficial, sendo que este último ganhou o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL) como Melhor Livro de Contos daquele ano e o prêmio Governador do Distrito Federal como Melhor Livro de Ficção de 1974. Seus contos e poemas foram traduzidos e publicados em revistas literárias e antologias de autores brasileiros, no México, Argentina, Estados Unidos, Itália, Polônia, Nicarágua e Canadá. Por várias vezes foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para representar o Brasil em feiras de livros internacionais. Jurado de vários concursos literários, ele ministrou cursos, oficinas e palestras, tendo participado de vários congressos de educação, linguística e literatura por este país afora.
Entre seus livros publicados estão: "O Jogo das Palavras Mágicas; Quem Quiser que Conte Outra; Ao Pé das Fogueiras Acesas; Mundo Criado, Trabalho Dobrado; Viagem Criada, Emoção Dobrada; Cantigas de Adolescer; Amor Adolescente; De Amora e Amor; Namorinho de Portão; Segredinhos de Amor; Amor Sem Fronteiras; A Cidade Salva pelos Brinquedos; Bicho Que te Quero Livre; Deu Doideira na Cidade; Caixa Mágica de Surpresas; O Incrível Bicho-Homem e Ri Bem Melhor Quem Junto Ri".
Certa vez, Elias José chegou a fazer uma breve autobiografia: "Sou mineiro, sou poeta, escritor, professor e gente feliz. Feliz porque a vida foi sempre boa para mim, mesmo com muitos desafios e momentos tristes de perdas e dores. Escrevo desde a minha juventude, quando era estudante do ensino médio, como hoje se diz. Estudava, mas gostava mais de ler e de escrever no jornal da escola, criado por mim e por meu grupo de colegas. Quando ousei escrever um conto e com ele concorrer em concurso de nível, ganhando-o, já estava perdidamente apaixonado pela literatura. Nunca mais parei de escrever e de publicar e de vibrar com o livro que acabei de escrever ou que as editoras editaram. Livros alheios também amo com igual carinho. A leitura faz parte da minha vida de forma tão intensa como é a escrita. Os livros aumentaram, hoje são quase cem. Vieram as várias reedições, as boas críticas, os ótimos prêmios e muitos e muitos amigos escritores ou leitores ou gente até que nem lê, para completar a alegria. Se me perguntarem se gosto mais de escrever para adultos, para jovens ou para crianças, não tenho dúvidas. Escrever histórias e poesias infantis faz o menino que fui vir à tona, querendo brincar, rir e fazer novos meninos entrarem na brincadeira que é o texto da literatura infantil".
Com certeza a obra de Elias José continuará produzindo muitos frutos, pois o seu caminhar pela literatura não foi em vão. Que este país sem memória ainda dê o devido reconhecimento ao seu grande nome. E que os verdadeiros valores deste país possam um dia ser contemplados e homenageados como merecem ainda em vida.
Tenho um orgulho imenso de ter sido aluno de Elias José, pois foi meu professor de Língua Portuguesa nos tempos de colégio em Guaxupé. Lembro-me bem da enorme quantidade de livros e trabalhos de alunos que sempre levava para a sala de aula. Era um professor muito dedicado e exigente, por isso mesmo, excelente.
Anos mais tarde, em certa ocasião, lhe entreguei um calhamaço do que eu achava ser "poesia" para que avaliasse. Prestativo e atencioso, ele não só leu tudo aquilo como também me deu várias dicas para prosperar no caminho das letras. Ele sempre buscava orientar os novos apaixonados pela literatura. Até hoje guardo uma carta sua, generosa e estimulante.
Elias José era de baixa estatura, mas, com certeza, foi um gigante ao lidar com as palavras. E repito, merecia um reconhecimento maior ainda em vida. Infelizmente, no Brasil é assim.
Para encerrar, nada como as palavras do mestre: "A poesia tem tudo a ver com tua dor e alegrias, com as cores, as formas, os cheiros, os sabores e a música do mundo. A poesia tem tudo a ver com o sorriso da criança, o diálogo dos namorados, as lágrimas diante da morte, os olhos pedindo pão. A poesia tem tudo a ver com a plumagem, o voo e o canto, a veloz acrobacia dos peixes, as cores do arco-íris, o ritmo dos rios e cachoeiras, o brilho da lua, do sol e das estrelas, a explosão em verde, em flores e frutos. A poesia --é só abrir os olhos e ver-- tem tudo a ver com tudo".
Salve, Elias José!

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