Em meio à queda nos preços de café no Sul de Minas, produtores agora se preocupam com a taxação imposta pelos EUA
O presidente Donald Trump assinou nesta quarta-feira, 30, um decreto que estabelece tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, incluindo o café
Produtores de café em Minas Gerais vivem um momento de incerteza com a forte oscilação nos preços do grão e, agora, com a nova taxação imposta pelos Estados Unidos.
O presidente Donald Trump assinou nesta quarta-feira, 30, um decreto que estabelece tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, incluindo o café.
A medida passa a valer no próximo dia 6 de agosto e causou imediata reação do setor exportador.
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgou um vídeo em que manifesta preocupação com o impacto da medida sobre a principal pauta de exportação agrícola brasileira.
Segundo o diretor-geral Marcos Matos, o Brasil é o maior fornecedor de café para os EUA, com 33% do mercado.
“O Brasil vai seguir exportando. O Brasil é insubstituível, da mesma forma que os Estados Unidos também são insubstituíveis. O esforço agora é criar um ambiente para iniciar a negociação”, afirmou.
Enquanto as negociações não avançam, no campo, os efeitos da instabilidade já são sentidos.
Na Fazenda São Domingos, em Três Pontas-MG, o cafeicultor Rodrigo Vilela Rezende enfrenta dificuldades para aproveitar os bons momentos do mercado.
Com 38 hectares plantados e cinco variedades, ele viu a saca de café atingir o pico de R$ 2.769 em fevereiro, mas só conseguiu iniciar a colheita agora — quando o preço caiu para cerca de R$ 1.795, uma desvalorização de 35%.
“Eu não tinha estoque e não tinha café sendo colhido. Então não consegui aproveitar o momento de café a R$ 2.700. Agora estamos com 70% a 80% da colheita das árvores concluída, e vamos começar a varrição, que está atrasada”, relata Rodrigo.
Ao lado do pai, Roberto Rezende, ele administra a lavoura com ensinamentos que vêm desde 1915.
“O cafeicultor é refém do mercado. A gente sempre tem contas a pagar, depende da venda do produto e sofre com as intempéries e o comportamento volátil das commodities”, diz o pai.
A produção deste ano deve ser menor que a de 2024: foram 700 sacas colhidas no ano passado, contra uma expectativa de, no máximo, 500 neste ano.
Além disso, o produtor já tem parte da produção comprometida — 60 sacas em troca de insumos com a cooperativa e outras 20 sacas travadas a R$ 1.400.
“Tem que focar nas variáveis que conseguimos controlar, como o custo de produção. E buscar produzir cafés especiais, que paguem acima da média de mercado”, avalia Rodrigo.
Cenário global e tarifas
A queda no preço do café, segundo analistas, já era esperada com a entrada da safra brasileira no mercado.
O corretor Luiz Antônio Russo Furlan explica que o movimento de alta começou com a frustração da safra no Vietnã e foi intensificado por problemas climáticos no Brasil.
“O mercado reagiu à possibilidade de escassez e os preços subiram até junho. Agora, com maior oferta, houve recuo. Mas o cenário global segue sensível”, destaca.
Mesmo com a queda, o exportador Edson Menegueli vê o momento como positivo.
“Café entre R$ 1.800 e R$ 2.000 é um ótimo preço. A taxação dos EUA não deve afetar diretamente o mercado, porque haverá apenas uma reorganização dos fluxos: o café que iria aos Estados Unidos vai para a Europa e vice-versa”, avalia.
Para ele, o fator que pode sustentar os preços nos próximos meses é a queda na produção durante a limpa — fase da colheita em que os grãos restantes são recolhidos do chão.
Para o presidente do Centro do Comércio de Café de Minas Gerais, Ricardo Schneider, uma nova disparada de preços, como a de fevereiro, não é esperada no curto prazo.
“A tendência é o mercado buscar um novo patamar de equilíbrio. O produtor não está vendendo com os preços atuais, e isso reduz o fluxo de comercialização. É uma queda de braço entre quem vende e quem compra”, afirma.
Enquanto o mercado internacional se movimenta e as tarifas ameaçam afetar a competitividade do produto brasileiro, produtores como Rodrigo seguem firmes.
A paixão pela atividade fala mais alto.
“Desistir de ser cafeicultor não passa pela minha cabeça. Café corre na veia da gente aqui”, diz ele.
(Com EPTV)











