Quando não procurar psicoterapia
No caso da Psicologia, tem crescido o número de pessoas procurando tratamento para ansiedade e tristeza.
Mas como assim? Desde quando se trata ansiedade e tristeza?
Ansiedade, tristeza... não é situação para se tratar, e sim pra se viver! Ponto. É necessário viver!
Passar por períodos ansiosos e tristonhos faz parte da vida.
Tudo bem: quando não há alguém capaz de acompanhar uma pessoa que esteja passando por momentos de ansiedade e tristeza, quando não há nenhum familiar nem amigo próximo que esteja disposto a ouvir com atenção e ternura, o profissional da Psicologia poderá ser uma espécie de companheiro de viagem, se assim o paciente quiser, e estiver disposto a investir em algumas sessões. Apenas isso. Mas não se trata isso (estou me referindo aqui ao tratamento quando estamos diante de uma doença). O paciente poderá partilhar isso, esses momentos de certa angústia de alma. Ansiedade e tristeza não fazem parte daquilo que está sujeito a um tratamento.
Você está achando estranho o que estou dizendo aqui? Continue a leitura e certamente você compreenderá melhor.
Ansiedade e tristeza não são doenças.
São contingências, quer dizer, podem acontecer ou não em função das circunstâncias, e quando acontecem episódios ansiosos ou momentos de tristeza, devem ser vividos com normalidade, encarados com naturalidade.
Dois exemplos comuns...
Fulano procura o psicólogo porque está ansioso. Até o médico mal informado registra no encaminhamento: “ansiedade”. Daí o paciente diz o motivo: Irá prestar concurso público, e não quer sentir ansiedade, quer curar sua ansiedade. Ora, em primeiro lugar, é evidente que sentirá ansiedade, pois está diante de um momento importante da vida, e é até bom que sinta ansiedade, pois, nesse caso, a ansiedade o manterá alerta, mentalmente ativo, focado, concentrado. Em segundo lugar, como já disse acima, não há cura para ansiedade. A ansiedade é uma condição da nossa existência. Quer dizer: se não há cura para a ansiedade, há simconsciência do que ela significa.
Curar a ansiedade seria um grave equívoco... Seria o mesmo que anestesiar a presa, a fim de facilitar a vida do predador.
Beltrano procura o psicólogo porque está triste. Motivo: Falecimento de um ente querido. Outro equívoco a busca por psicoterapia nesse caso. Por que equívoco? Ora, porque é claro que o sujeito está entristecido! Está em luto. Um ente querido faleceu! O estranho seria o sujeito entrar no consultório dançando, gargalhando, apitando, festejando... Aí sim seria motivo de estranheza, de maluquice. Se o ente é querido, houve vínculo, existiu afeto. Por isso, surge a dor da saudade quando a morte chega. Do mesmo modo que na ansiedade, não faz sentido fazer psicoterapia com a ilusória pretensão de curar tristeza. A tristeza também é uma condição da nossa existência.
Curar a tristeza seria como nos transformar emcínicos conformistas, em apáticos robôs, em insensíveisnormopatas ou até em inescrupulosos condutopatas. Curar a tristeza, nesta terra, nesta condição de vida, seria um grave equívoco.
De acordo com a teologia cristã, somente no Paraíso Celestial não haverá ansiedade nem tristeza. A eternidade em Deus será sempre nova e feliz.
Você está me acompanhando nessas reflexões?
Ansiedade e tristeza: Cada um de nós precisa viver, e não esconder esses estados de espírito.
Se não viver, o indivíduo não vai aprender a lidar com seus naturais sentimentos.
Sem aprender, não irá se desenvolver enquanto pessoa, enquanto ser humano.
Tristeza e ansiedade são estados naturais pelos quais passa a alma humana.
Repito: são estados naturais, são normais, ou seja, ansiedade e tristeza não são doenças!
Penso que você já está entendendo o perigo que corre o sujeito que começa a tomar remédio ao sentir tristeza e ansiedade, não é? É um perigo. Vai camuflar a própria existência e, aí sim, num futuro não tão distante, poderá ter mesmo uma doença de verdade, uma disfunção, uma anormalidade.
Dê ênfase: Não podemos nos esquivar de reações naturais fazendo psicoterapia, muito menos tomando remédio.
Mas quando o remédio e a psicoterapia se fazem necessárias? A resposta é simples: Somente quando houver um franco desequilíbrio. Por exemplo, quando a ansiedade se torna síndrome do pânico, paranoia, perseverante insônia, insistentes crises hipertensivas; quando a tristeza se torna melancolia, profunda amargura, quando se tem a sensação de que tudo irrita, que nada está bom, e essa severa melancolia se torna depressão. Aí assim estaremos diante de austeras perturbações psíquicas, dignas de cuidados maiores oferecidos pelos profissionais psicólogos e psiquiatras, podendo também contar com o apoio de neurologistas, fisioterapeutas, educadores físicos e diretores espirituais.
Na ansiedade descontrolada, notamos uma agitação permanente diante da serenidade da vida, uma demasiada preocupação com o futuro, uma inquietação trêmula que transpira medo constante.
Na melancolia e na depressão, notamos uma lamentação incessante perante a suavidade e a beleza da vida, uma patológica fixação ao passado que, por ser fixação, parece que o passado não passou... Nunca passa. O passado se faz presente o tempo todo e, por isso, para o depressivo, o presente não há. Não há o novo, não há a novidade. E mesmo se houver, rapidamente o brilho deslustrará.
Nesses dois casos, onde podemos ver desajustes intensos tanto na ansiedade como na tristeza, torando-as patologias, a pessoa passa por sérios prejuízos no relacionamento familiar, tem dificuldades no trabalho e por aí vai...
Portanto, somente onde se detectam tais desequilíbrios é que devemos procurar auxílio profissional para tratar daquilo que se tornou anormal e antinatural. Se não existir nada disso, viva... Apenas viva!