Guaxupé, quinta-feira, 2 de maio de 2024
Artigos

Transformação: De fora pra dentro e de dentro pra fora

quinta-feira, 10 de setembro de 2020
Transformação: De fora pra dentro e de dentro pra fora

O cristianismo tem sempre suas curiosidades.
A religião quando é feita instituição, acaba, de algumas maneiras, ou até de muitos modos, se desviando das origens.
Homens e mulheres de fé quando assim percebem, sentem angústias na alma, querem se manifestar, desejam retomar os princípios.
A revolta em alguns gera um certo tipo de silêncio, daqueles que não entram em rota de colisão com a toda poderosa instituição, mas que seguem fazendo o que consideram ser a prática da fé genuína, noutras dimensões da vida em comunidade. Foi o que fez São Francisco de Assis frente ao Papa mais poderoso da História, Inocêncio III.
Já na nossa época, o cristianismo católico e protestante ainda se depara com dois dos seus famosos representantes que se desligaram de uma função institucional, de um papel oficial na Igreja: Leonardo Boff, então frei, e Caio Fábio, então reverendo.
Ambos seguem seus caminhos, cada um a seu modo, preservando a fé em Jesus Cristo, só que não mais formalmente aderidos a instituição, o que gerou, claro, desconforto em muitos. Por outro lado, despertou a mesma coragem em outros, no sentido da manifestação da liberdade de pensar e decidir sobre a própria existência, e a compreensão subjetiva da vida.
Leonardo Boff se aborreceu com o poder monárquico da Igreja Católica, formada por muitos bispos e cardeais ávidos pelo poder de ostentação, distante das pessoas mais simples, indiferente aos mais pobres, uma alta hierarquia desejosa em perpetuar a infantilização dos leigos, mantendo-os na condição de supersticiosa e alienada massa de manobra. Mas há exceções. Podemos falar do recém falecido Dom Pedro Casaldáliga, que era Bispo, nunca deixou a instituição católica, e fez de sua autoridade instituída um exímio ministério de serviço, de amor ao próximo, de doação, de partilha. Casaldáliga foi exemplar cristão.
Já Caio Fábio chegou a chamar os evangélicos de “anencéfalos”, comunidades incapazes de raciocinar, de refletir, que também se tornaram massa de manobra nas mãos de pastores espertalhões, manipuladores, com segundas e terceiras intenções, sustentando o que Caio denomina “igreja das loucuras”, ansiosas por obter cada vez mais lucros. Mas aqui também existem exceções. Martin Luther King é um grande exemplo mundial de bom evangélico, que se manteve vinculado à instituição batista.
Leonardo Boff deixou o celibato e se casou com uma mulher. Caio Fábio deixou a primeira esposa e se casou com outra mulher. E ambos, Caio e Boff, seguem com suas revoltas e inquietações. Será que eles ainda não encontram aquela quietude proposta por Santo Agostinho?
Voltando a falar de São Francisco de Assis, na Idade Média, ele que também se deparou com incoerências e absurdos da toda poderosa instituição católica romana, decidiu não se desvincular. Não se desligou. Francisco não fundou uma igreja nova. O que ele fundou foi uma ordem, a ordem dos frades menores, de vida simples, ao lado das pessoas simples. Dentro da Instituição Romana, Francisco fundou um novo modo de ser e de viver, com a devida autorização papal. Francisco não foi tentar a mudança de fora pra dentro, mas sim de dentro pra fora. E se tornou mundialmente amado, respeitado, devotado, reverenciado, não somente pelo cristianismo, mas também por diversas outras crenças. Francisco de Assis continua fazendo as pessoas pararem para pensar, requalificar a vida. Francisco ainda nos faz chorar.
O nome Francisco, quando remetido ao Santo de Assis, tem, por si só, grande força de impacto afetivo. Tanto que o atual Bispo de Roma, Francisco, o Papa Bergoglio, tem conseguido criar muito mais pontes do que muros, muito mais diálogo do que distanciamento, muito mais sinceros companheiros afetuosos do que lobos em pele de ovelha. Até Leonardo Boff e Caio Fábio são grandes admiradores de Francisco.
Francisco é aquele que enfrenta o inimigo de frente.
E de frente também acolhe o amigo. (Nicola Archangello)

Comente, compartilhe!