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Colunista do Jornal da Região tem poema publicado em livro de antologia

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Colunista do Jornal da Região tem poema publicado em livro de antologia "Estar no livro já é um prêmio, pois o projeto recebeu mais de mil textos, inclusive, de outros países, disse o escritor João Júlio da Silva (Foto: Arquivo Pessoal)

O jornalista e escritor João Júlio da Silva, que assina a coluna Papoentrelinhas, do Jornal da Região, está fechando 2021 com chave de ouro, pois acaba de ser lançado o livro "Percepção Poética da Pandemia”, um projeto da prefeitura da cidade paulista de Salto, "Antologia do XXIX Prêmio Moutonnée de Poesia", de 2021, o qual ele participa com o poema “Acenos em Salto Poético”.
Conforme consta na contracapa do livro: "Esta antologia reflete o exercício de sensibilidade de mais de mil poetas do Brasil, além da Alemanha, Angola, Austrália, Estados Unidos, Itália, Moçambique e Portugal. Todos submeteram seus trabalhos a esse concurso, cuja temática foi a Percepção Poética da Pandemia. O resultado estético está impresso nas páginas do livro: um retrato multifacetado de empatia e intuição. Nosso período histórico interpretado poeticamente".
Para o autor, é "Fechamento de ano com alegria. Estar no livro já é um prêmio, pois o projeto recebeu mais de mil textos, inclusive, de outros sete países".

O poema

Acenos em Salto Poético
No princípio era o vírus,
e o vírus estava com a morte,
e o vírus era a morte.
O big-bang da pandemia tudo mudou,
a grande explosão desumana...
E o vírus se fez trevas,
e habitou entre nós,
e vimos a sua força,
a força do mal no mundo,
de infecção e morte.
Nos perdigotos da maldição,
a imbecilidade mortífera,
sem vacina, sem máscara.
Aglomerações em contaminados canteiros,
acenos de sepulturas por abrir.
Da planaltina casa de vidro,
o monstro abjeto e sarcástico,
hiena gargalhando em delírio,
infectou o povo e desprezou a vida.
E o vírus se fez carne,
carne sufocada de escuridão,
na ausência de vida!

Há sobreviventes no ar rarefeito,
ainda salta poesia à flor da pele!
No princípio era o verbo...
Do prelúdio do seu voo
brotou a beleza do verso.
E sua luz espalhou sonhos
até os confins do mundo...
Da melódica poesia resplandeceu o poeta.
O verbo se fez poesia e
semeou versos entre nós,
num derramar de sons, cores e luz,
uma pintura de encantamentos.
Ouve-se o grito de Munch
na ponte do horror humano,
angústia trêmula de múmia em pânico,
o céu sangrando a luz do sol a morrer,
como se ouvisse eternamente
o último dobrar de sinos das catedrais.
Ainda assim pode-se vislumbrar
a noite estrelada de Van Gogh
acenando um turbilhão de esperanças.
No campo de trigo com corvos
é possível semear os girassóis
a sorrir arrebatadas manhãs.
No princípio era o verbo,
e o verso estava com ele,
e sua luz derramou sonhos mundo afora,
o homem saltou das trevas e se fez poeta!

A peste há de passar
no voo derradeiro
do abutre do apocalipse
de tenebrosa maldição...
Do outro lado da parede
não há ninguém a caminhar
pela gênese de incautos versos,
a gritar por saída em beco de rua.
O vírus espreita o corpo 
com mortalha solta aos ventos,
bandeira em farrapos, sem cor,
ainda que haja vestígios de
verde e amarelo em sua desgraça.
Arte é resistência,
o verso persiste, a poesia acena
no salto de um novo respirar
além da explosão desumana...
 

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