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Estudo da UFLA define quatro principais perfis de usuários que utilizam aplicativos de namoro para se relacionar

sábado, 17 de dezembro de 2022
Estudo da UFLA define quatro principais perfis de usuários que utilizam aplicativos de namoro para se relacionar Foto: Reprodução/BBC

O humano líquido, a solitária, o pegador e a empoderada. Esses são os quatro perfis dos usuários de aplicativos de namoro, segundo um artigo científico publicado em 2022 na Revista Alcance, produzido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Participaram do estudo 318 pessoas que utilizam aplicativos de namoro, em especial, o “Tinder”, incluindo também as que já utilizaram os aplicativos de relacionamento, mas abandonaram a prática, principalmente a partir do início de um relacionamento sério.

“As novas tecnologias têm transformado o dia a dia da sociedade em muitos aspectos, e um deles é a mudança na forma como se iniciam os relacionamentos entre as pessoas, transformando os modelos tradicionais de envolvimento afetivo em pré-interações mediadas pela tecnologia móvel, seja esse movimento positivo ou negativo para a sociedade. Daí a importância de compreendermos esses movimentos, como forma de subsidiar reflexões sobre as preocupações emergentes desta sociedade pós-moderna em que vivemos. Alguns autores vêm discutindo essa temática, e essa pesquisa confirma esses argumentos”, explica uma das autoras do estudo, Juliana Vieira Borges.

A pesquisa buscou apresentar as características de indivíduos que fazem uso dos meios virtuais, mais especificamente os aplicativos de namoro, além de identificar a existência de perfis definidos de usuários de aplicativos de namoro, as variáveis relevantes na diferenciação desses usuários e a forma como podem ser identificados nas redes.

A amostragem de respostas foi composta a partir do envio de questionários em Google Forms por meio de diferentes veículos e a diversos públicos. O quadro final de respondentes foi de pessoas que são, em sua maioria, mulheres, heterossexuais, com nível de escolaridade superior, residentes em cidades do interior e solteiras. O estudo mostra que os quatro perfis de usuários de aplicativos de namoro possuem comportamentos heterogêneos entre si, moldados majoritariamente por questões de gênero, por questões psicológicas (solidão, autoestima e narcisismo) e motivos relacionados a sexo e entretenimento.

Entenda as características de cada perfil
De acordo com a pesquisa, o ‘Humano Líquido’ é o agrupamento de indivíduos que parecem imersos na modernidade líquida, em que as relações são imediatas e pouco duradouras e que, portanto, são indivíduos que se sentem sempre solitários. Por isso, estão constantemente buscando consumir aplicativos de namoro para se relacionar social e sexualmente. Este personagem não tem nem gênero e nem orientação sexual definida.

Já a ‘Solitária’ é um agrupamento de mulheres que são solitárias e buscam relações sociais que possam gerar um relacionamento duradouro no longo prazo.

O ‘Pegador’ representa o perfil de usuários masculino e diversificado em orientações sexuais, autossuficiente, que busca por aventuras sexuais. Este perfil busca por sexo e é mais elevado entre usuários homossexuais e bissexuais do que heterossexuais. A pesquisa ainda mostra que esse comportamento se relaciona ao ‘Humano Líquido’, uma vez que possui diversas orientações sexuais e diversos gêneros.

A ‘Empoderada’ é um “cluster”, ou seja, aglomerado de respostas, composto prioritariamente por mulheres, que possuem maior nível de escolaridade, são sociáveis e autossuficientes. Possuem curiosidade social e, por isso, afirmam usar aplicativos de namoro.

Segundo a pesquisadora Juliana Vieira Borges, de forma resumida, o grupo "Humano Líquido" parece imerso na modernidade líquida, usa os ‘apps’ de namoro na busca de relações imediatas e pouco duradouras. A “Solitária” busca relações sociais que possam gerar um relacionamento duradouro no longo prazo. O “Pegador” é um ‘bom vivant’ e usa ‘apps’ como suporte ao seu comportamento sexual. A “Empoderada” busca satisfazer sua curiosidade social, mas sem intenções sexuais.

Entenda como foi feita a análise das respostas de cada usuário
As respostas dos usuários foram analisadas a partir de uma metodologia de pesquisa quantitativa do tipo descritiva, que descreve as características de grupos, desvenda ou confere a existência de relação entre variáveis, e estima a proporção de elementos de uma população específica, que tenham determinados comportamentos ou características.

E, para definir o perfil dos usuários de aplicativos de namoro, foi utilizada a análise de conglomerados ou clusters, que busca classificar casos em grupos relativamente homogêneos, em que cada grupo tende a ser semelhante entre si e diferente dos demais. Aliada à análise de clusters, foi adicionada a técnica de discriminante, buscando construir perfis dos grupos a partir da relação entre esses grupos e as demais variáveis intervalares preditoras ou independentes. Para os autores do estudo, é fundamental que o público entenda que os nomes atribuídos, como “O pegador, a empoderada, o humano líquido e a solitária”, não fazem nenhum tipo de exclusão social. Apenas estão relacionados às características desses conglomerados de respostas.

A partir das análises iniciadas pela pesquisa, é possível concluir que a atual sociedade utiliza aplicativos virtuais para diversas necessidades diferentes. De acordo com Juliana, há pessoas que se vestem de outros avatares para representarem algo que não são, e há pessoas que buscam aplicativos para curar carências, conhecer pessoas ou suprir uma demanda interna.

“É importante ficarmos atentos aos objetivos do uso dos aplicativos, visto que são programados para estreitar e aproximar os laços entre as pessoas e, assim, a partir desse contato prévio, construírem um relacionamento. Mas, na verdade, essas mesmas pessoas buscam os aplicativos para suprir deficiências ou demandas pessoais que não necessariamente são funções do aplicativo”, destaca a pesquisadora Juliana.

Além de Juliana Vieira Borges, que atualmente é professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e doutora pela UFLA, são autores do estudo os integrantes do Programa de Pós-graduação em Administração (PPGA/UFLA) Alyce Cardoso Campos, o professor Daniel Carvalho de Rezende e o professor Luiz Marcelo Antonialli.

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