Guaxupé, domingo, 28 de abril de 2024
Cidades

Veterinário e presidente de Ong de Guaxupé fala sobre animais abandonados e da falta de conscientização da população

sexta-feira, 17 de março de 2023
Veterinário e presidente de Ong de Guaxupé fala sobre animais abandonados e da falta de conscientização da população O médico veterinário e presidente da Ong Onda Verde, Helbert Ananias Valverde (Fotos: Arquivo Pessoal)

O médico veterinário e presidente da ONG guaxupeana de proteção aos animais, Onda Verde, Helbert Ananias Valverde, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal da Região para falar um pouco mais sobre a Associação e também a respeito do constante abandono de animais nas ruas do município.
 
1. Jornal da Região: Helbert, como surgiu a Onda Verde?
 
Helbert: Ela surgiu da união de três pessoas: Lofrano, Cida e eu. Ela foi desenvolvida para acolher projetos sociais ainda não formalizados nas áreas animal, ambiental, cultural e social. Lofrano é psicólogo e assistente social e já presidiu a ONG hoje extinta, Angakira. A Cida Sandroni é economiária aposentada, protetora dos animais, tem longa experiência atuando na Luz da Vida e em ONGs de proteção animal. Eu fui procurado pela Cida e pelo Lofrano em 2017 e convidei os demais diretores. Isso ocorreu ao longo de 5 anos, começamos a conversar em 2017 e a Ong foi registrada em 2022. Eu tenho muito orgulho do grupo que trabalha conosco, pois são muito comprometidos e me representam.
 
2. Jornal da Região: Qual a proposta da associação para os animais abandonados de Guaxupé e no que ela se difere das demais?
 
Helbert: A nossa proposta é  a conscientização para que a população não abandone os seus animais e também para que a castração seja usada como método de controle populacional de cães e gatos.
A Onda Verde não busca se diferenciar das demais ONGs de proteção animal e sempre tem contato e parcerias com as demais ONGs, em especial com a AMA, por entender que todos trabalham movidos pelo mesmo ideal: amor aos animais.

 
3. Jornal da Região: Como é desenvolvido o trabalho de proteção a esses animais? 
 
Helbert: A ONG já realizou um projeto de castração de animais da população carente e está indo para o segundo projeto de castração em menos de dois anos. Na associação encontram-se os protetores: Cida Sandroni, Regina Santos, Silvana Farah, Helenilce, Helbert e Adriano, além dos associados, que estão sempre presentes nas ações do grupo e atuam como "vigias"; são os nossos olhos. A Onda Verde participa do Conselho Municipal de Bem Estar Animal, onde tem cinco cadeiras e da Frente Mineira de Proteção Animal, que agrega protetores de Minas Gerais. 
Como acreditamos que a castração é a única saída para o controle populacional de cães e gatos, Cida e Silvana são as coordenadoras do protocolo CED de Guaxupé, onde os animais de rua são capturados, esterilizados (castrados) e devolvidos ao lugar de onde foram capturados e monitorados pela Associação. Dessa forma, pedimos a participação da população que cuida dos animais, controlamos o número de animais nas ruas e promovemos a educação da população para oferecer bem-estar aos animais.
 
4. Jornal da Região: A associação possui algum local para abrigar os animais abandonados?
 
Helbert: A Onda Verde está alinhada com as propostas nacionais de Saúde Única, que não recomendam os abrigos, canis e gatis de qualquer espécie. Trabalhamos apenas com o lar temporário, assim para recolher um animal ou resgatar de maus-tratos; primeiro precisamos de alguém para recebê-los temporariamente e alguém que doe a ração para eles até o final do tratamento. Do contrário optamos por cuidar dele na rua, onde é mais seguro, nas condições que temos.
 
5. Jornal da Região: Constatados maus tratos ou abandono de animais, quais são as providências adotadas? 

Helbert: Em 90% das situações verificadas não são constatados como maus-tratos, mas todas precisam ser investigadas. O recomendado é buscar a polícia local e fazer o boletim de ocorrência, munido do nome completo do suspeito de agressão, endereço e provas de maus tratos.
Infelizmente, por ordem das autoridades locais, só é feita a denúncia e averiguação quando é possível levar o animal para outro lugar (lar temporário), mas estamos trabalhando para ter algo como uma Delegacia de Proteção Animal em Guaxupé. Muitos casos de agressão ainda ficam impunes, infelizmente.
 
6. Jornal da Região: É a própria ONG que faz o BO junto ao órgão policial?

Helbert: Sim, os protetores da ONG também podem verificar o fato e se constatado maus-tratos e for possível levar o animal a outro local provisório (lar temporário ou definitivo) o boletim é feito e o animal é removido com escolta policial. É importante lembrar que somente se o animal tiver para onde ir podemos levar as denúncias adiantes. É triste, mas a realidade, mesmo tendo leis de proteção animal, ainda não possuímos estrutura para fazer com que sejam cumpridas.
 
7. Jornal da Região: Se alguém encontrar um animal na rua em situação de abandono, o que pode ou deve ser feito? 

Helbert: Como não damos conta de acolher  todos os animais, aconselhamos que se o animal animal estiver doente, que receba os cuidados e seja adotado ou permaneça no local. Sempre que somos procurados, buscamos apresentar essa, que é a nossa situação atual e sensibilizar a população para que cuide do animal, o alimente e não permita maus-tratos, como preveem as leis do nosso país, que dizem que legalmente o animal abandonado pode e deve receber cuidados nas ruas. Em paralelo a isso, buscamos lar para esses animais abandonados o tempo todo, divulgando na internet e falando com os conhecidos. Não é tarefa fácil doar os animais adultos, mas seguimos tentando.
 
8. Jornal da Região: Como identificar se a situação é de abandono ou apenas o animal está solto na rua?

Helbert: O ideal é perguntar aos vizinhos próximos, em Guaxupé, na maioria dos casos, contamos com uma grande rede de “ajudadores”, são muitos os anjos que amam os animais e nos ajudam a protegê-los. Mas, lembrando que soltar os animais não é seguro e nem recomendado, se o animal for adotado pode ser difícil reavê-lo. Fique atento ao risco de atropelamentos, brigas e morte dos animais soltos.
 
9. Jornal da Região: Onde os recursos financeiros são angariados? E a prefeitura municipal, destina alguma ajuda para a ONG? 

Helbert: As ONGs de proteção animal não recebem recursos da prefeitura, e angaria os recursos a partir de doações dos associados, rifas, inclusive estamos vendendo Pastel da Adelma para conseguir dinheiro para cuidar dos animais em lar temporário; nos procurem para comprar, rs. Chamamos a todos para que se associem e contribuam com a Onda Verde, é a nossa maior fonte de renda. Temos muito que agradecer à reikiana e protetora dos animais Maria Madureira, que contribui muito com a ONG, oferecendo os valores arrecadados com o Reiki Solidário à Onda Verde.
 
10. Jornal da Região: Como está sendo feito o trabalho de conscientização para que a população não abandone os seus animais?

Helbert: Os protetores já estão em contato com a população há bastante tempo, mas o nosso trabalho não é suficiente. Infelizmente, em Guaxupé, ainda não está estabelecido que os animais abandonados representam uma situação de Saúde Pública. Mas, estamos trabalhando ativamente para isso, muitos pensam que a saúde animal está separada da saúde humana, o que não se verifica. Esperamos que num futuro próximo o Agente Comunitário de Saúde, que atende os humanos seja um multiplicador da ideia de que os animais também precisam da nossa atenção e cuidado.
 
11. Jornal da Região: Que mensagem você deixa para aqueles que abandonam os animais?

Helbert: A nossa vida é o espelho dos nossos passos. Se você está passando por um pedaço difícil, peça ajuda e peça também a Deus que se lembre de você e da sua família e jamais tente "cortar caminho" abandonando o seu animal. Passe aperto junto com ele, mas não o abandone, a vida passa e dias melhores chegam até nós se mantivermos o coração voltado para o bem.
Não tenho comigo um discurso de ódio, mas de amor, inclusive por quem toma tal atitude; não posso julgar as pessoas, apenas aconselhar com base no que acredito e no que a minha família me ensinou e me ensina até hoje.
 
 
 

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