Guaxupé, sexta-feira, 10 de maio de 2024
Cidades

Contra o inconsciente coletivo, lustres retirados não voltarão à Catedral

quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Contra o inconsciente coletivo, lustres retirados não voltarão à Catedral Imagem interna da Catedral, sem os lustres. (Foto: Carlos Henrique Gabriel, Kiba)

A retirada definitiva dos lustres da catedral diocesana Nossa Senhora das Dores, em Guaxupé, foi confirmada pelo padre Reginaldo da Silva em entrevista à Rádio Clube no dia 12 de agosto. O motivo nem é a falta de segurança representada pelo peso de cada luminária, entre 70 e 80 quilos. A justificativa é que só será preservado e restaurado na Catedral o que for histórico.
A guaxupeana Isis Baldini, conservadora e restauradora de obras de arte e doutora pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, alerta que a exclusão das luminárias vai contra o inconsciente coletivo da comunidade: “Muitos objetos não são da época de determinada construção, mas já estão inseridos no monumento há tanto tempo que passa a fazer parte do inconsciente coletivo da comunidade. Nesses casos, a remoção é questionável e quase sempre os tombamentos asseguram a sua permanência. O que está no inconsciente coletivo da comunidade tem que ser preservado, pois passou a fazer parte da história daquela comunidade.”
Restauros ou reformas que tendem a privilegiar o estético, o gosto do momento ou a leitura de determinado estilo foram muito realizados na segunda metade do século 19, mas violentamente criticados posteriormente. Hoje, são  considerados crimes, pois descontextualizam e descaracterizam o bem a ser preservado. “Agir em relação à conservação e o restauro do patrimônio cultural tendo o gosto como motivador principal é muito perigoso, pois o gosto é subjetivo e mutável”, ressalta a especialista. 
Segundo padre Reginaldo, a retirada dos lustres foi decidida em conjunto com o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico. A comunidade foi representada por conselhos municipais. O entrevistado não comentou se houve aprovação do IPHAN (Instituto Histórico de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O órgão determina que um patrimônio tombado mantenha as características que possuía na data do tombamento.
Para a reforma e restauração da Catedral, o Cristo de bronze, o piso e os 110 bancos serão preservados. Já os lustres e a capela do Santíssimo foram consideradas iniciativas sem projeto, na visão da equipe responsável. Não possuem a harmonia que a liturgia pede, quando se olha o conjunto da obra. O projeto atual visa valorizar a arquitetura interna da Catedral, de preferência a um custo inferior. A manutenção das 600 lâmpadas dos lustres gerava uma despesa entre R$ 35 mil e R$ 40 mil.
Os lustres não eram originários da fundação da Catedral de Guaxupé. Vieram com o tempo. Com a reforma realizada pelo bispo Dom Hugo Bressane de Araújo, doações se tornaram bens patrimoniais. Ísis Baldini reforça que “Qualquer alteração em patrimônio tombado deve ouvir um arquiteto restaurador, que vai tomar decisões analisando o dossiê de tombamento, a contextualização do bem para a comunidade e o relatório de um historiador, quando necessário. Além disso, mesmo quando o bem não seja tombado, mas faz parte da identidade cultural de uma comunidade, ou seja, faz parte do inconsciente coletivo, o melhor seria ouvir a comunidade, de preferência os mais velhos.”
Ísis acrescenta: “Padres vão e vêm, pessoas vão e vêm, gostos vão e vêm, mas o patrimônio é o elo que une as diversas gerações, que cria pertencimento. Uma comunidade sem links com o passado é como uma árvore sem raízes”. Ela concluiu a análise: “O valor cultural dos objetos é dado pela comunidade local; muitos objetos e obras que são considerados históricos ou artísticos hoje não o eram até poucos anos atrás”.
Padre Reginaldo anunciou a criação de um museu com peças que estiveram na igreja. “Tem muitas coisas que foram colocadas na Catedral que nada têm a ver com a história. Tem mais ligação afetiva do que com a história.” Por terem valor histórico, os lustres retirados ficarão no museu.
 

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