Guaxupé, segunda-feira, 29 de abril de 2024
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Terras da família Pallos poderão se tornar um bairro com o primeiro museu-residência de Guaxupé

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
Terras da família Pallos poderão se tornar um bairro com o primeiro museu-residência de Guaxupé Sala de jantar com mobiliários de época (Fotos: Luís Phillipe Grande Sarto)

O antigo sítio Bela Vista, próximo de um dos trevos de Guaxupé, passou por mudanças ao longo do tempo. Em meados dos anos 1920, o casal de imigrantes portugueses, João Francisco Pallos e a esposa Jesuína Gomes Pallos, adquiriu as terras para construir um casarão, onde moraram com os 11 filhos.
À medida que os descendentes se casavam, tinham a opção de morar numa área dos 50.065,00 m² da grande propriedade familiar. Hoje, a nora Alda Marques Pallos (Nena) é a moradora mais antiga da propriedade
. Com 97 anos e mãe de 14 filhos, ela participou da inauguração de uma capela bem próxima ao casarão, em 2004. Mais de cem familiares estiveram presentes. Na época, dona Nena comentou que a pintura artística do casarão dos avós foi feita pelo português Antônio Urias.
Uma grande mudança nessa propriedade familiar foi iniciada em 2018, quando os herdeiros decidiram transformar os 50 mil m² em loteamento e abriram um processo na Secretaria Municipal de Obras. “O projeto urbanístico já atendeu às diretrizes e passou pelo conselho de análise e aprovação de loteamento. Atualmente, os proprietários estão em fase de elaboração dos projetos complementares para aprovação final”, informou a arquiteta e urbanista da prefeitura de Guaxupé, Luciana Charavallote.
A intenção de construir um novo bairro no local vai depender da apresentação de pendências exigidas pela prefeitura. Luciana acrescentou que qualquer loteamento se torna um novo bairro na cidade. O casarão já pertenceu ao bairro Taboão. Hoje, está localizado no Alto da Colina.
Paralelo ao loteamento, o casarão construído por volta de 1930 já foi inventariado. Se a família se interessar pela restauração e tombamento histórico será o primeiro museu-residência de Guaxupé.
 
Riquezas patrimoniais
Depois do falecimento dos patriarcas fundadores, os filhos preservaram o casarão com os móveis da época. Algumas peças são de madeira maciça. A edificação nunca foi reformada ou pintada. 
Pelo seu valor histórico, estilístico e cultural, o Patrimônio Histórico de Guaxupé decidiu pelo inventário do imóvel, em agosto de 2021.  Para esse trabalho, a Secretaria de Cultura contou com a assessoria da empresa AME Cultura, de Machado / MG, especializada em políticas públicas para programas e projetos culturais.
Dois técnicos da AME, a historiadora Cristiane Magalhães e o arquiteto urbanista Luís Phillipe Grande Sarto, realizaram pesquisa documental, iconográfica e de campo para a elaboração da Ficha de Inventário do bem imóvel, em parceria com o historiador Marcos David, do Museu Histórico e Geográfico de Guaxupé. Cristiane ressalta que o inventário oferece subsídios fundamentais à salvaguarda do imóvel, mas é diferente de tombamento histórico, que possui uma proteção mais rígida.
Entre as características arquitetônicas e decorativas, a edificação tem estilo colonial e também eclético. Internamente, as pinturas parietais, principalmente nas salas, possuem semelhanças com o estilo art noveau. “Esse tipo de ornamentação revela a identidade e classe social – burguesia – dos moradores, além dos costumes decorativos do final de 1930”, consta no vídeo Casarão Família Pallos, disponível no YouTube.
Cada cômodo da casa possui uma cor e estilo diferentes. A sala de visitas tem retratos pintados dos patriarcas e matriarcas. A sala de jantar apresenta barrado superior com motivos florais, provavelmente pintada à mão. São os ambientes que ostentam o maior número de detalhes de arte mural e mobiliários.
A diversidade de detalhes surpreende, como o uso de marmorino na parede, imitação de mármore com pintura. Nos quartos das crianças – vermelho/rosa para as meninas e azul para os meninos – a decoração é suave, com motivos infantis.
 
Restauração e tombamento
Para preservar a edificação original e os seus elementos artísticos integrados é essencial um trabalho de restauro. A contratação de profissionais especializados é responsabilidade dos proprietários do casarão.
Segundo Cristiane Magalhães, um imóvel tombado possui a proteção legal do instrumento jurídico do tombamento e não pode ser alterado. Já um bem inventariado, com a aprovação do Conselho de Patrimônio Histórico, pode passar por reformas, restauros ou adequações. Nesses dois casos, a família Pallos continuará proprietária do imóvel.
A arquiteta Luciana Charavalotte acrescenta: “Conforme a lei de uso e ocupação, a área a ser loteada está localizada na ZR1 (zona residencial 1), onde a taxa de ocupação máxima é de 80%. Assim que o imóvel for tombado, deverá ser observada a lei do patrimônio histórico referente ao entorno.”
Para tornar o casarão um museu-residência, com visitação pública, os proprietários podem fazer parcerias com o município e/ou parceiros empresariais para viabilizar esse projeto. (Sílvio Reis)
 
 

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