Guaxupé, domingo, 28 de abril de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

“A família maravilhosa!”

domingo, 19 de março de 2023
“A família maravilhosa!” Imagem: Divulgação

É desejo de todos que a família pudesse se tornar, de fato, um santuário, território sagrado, casa de oração, igreja doméstica. No discurso religioso esse ideal é bonitinho, mas, na prática, sabemos que a família não é tão maravilhosa assim.
 
Dois terços das doenças psicossomáticas começam a surgir dentro da família!
 
No consultório, certa vez, a mãe veio trazer sua filha, uma criança de apenas 5 anos.
 
A mãe queria deixar a menina sozinha na recepção para que pudesse fazer outra coisa na cidade.
 
A menina, evidentemente, começou a chorar, dizendo que não queria ficar sozinha.
 
Foi quando a mãe assumiu uma expressão facial de ira e disse pra criança em tom violento: “Eu vou arrebentar tua cara, sua ‘fidumaégua’!” E falou outras coisas mais, terríveis... Um horror. Terá sido somente uma reação de estresse da mãe, ou será uma cena familiar rotineira que também se manifesta em outros contextos?
 
De que modo essa criança irá se desenvolver psicologicamente? Será uma criança com sério desequilíbrio emocional, com perturbações mentais? Como será o seu temperamento? Como será estruturado o seu caráter? Será uma criança medrosa, insegura, violenta, birrenta? Como será a sua personalidade? Conseguirá conviver bem em sociedade? Seguirá as normas da civilidade? Como ela será na adolescência, na idade adulta?
 
Então, fica claro, que a pessoa que mais precisa de tratamento, no caso acima, é a genitora, e não a criança.
 
E se você pensou que casos assim são raros, engano seu. São casos frequentes. Eu mencionei aqui um único exemplo. Existem casos mais brandos e casos bem piores.
 
O profissional da Psicologia, seja trabalhando quatro, seis ou oito horas por dia, passa o trabalho todo escutando a maioria das pessoas se queixar da família.
 
Os piores palavrões, os piores xingamentos, as piores cobranças e todos os demais acréscimos piorados acontecem na família.
 
Aí surgem os “engraçadinhos” adeptos à uma ideologia fajuta, apesar de “famosinha”, propondo o fim da família. O resultado disso é uma desgraça ainda maior: isolamento, conduta antissocial, libertinagem, aumento do consumo de drogas, da ansiedade, da angústia, do estresse, da melancolia e até da depressão – males que já acontecem em família, e podem se intensificar ainda mais quando o sujeito decide viver longe da família. Isso nos faz lembrar daquela frase “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.”
 
São pouquíssimos os casos em que uma pessoa consiga viver bem, sozinha, longe dos familiares e demais parentes. Gente assim tem, no máximo, um bichinho de estimação e consegue viver realmente bem, ficar tranquila e feliz.
 
Mesmo com todas as desgraças possíveis e impensáveis, a família se mantém porque o afeto é garantido – ao menos na imaginação de muitos.
 
Em família, são poucos os casos de abandono ou crime hediondo. Na maioria das vezes, mesmo em meio aos conflitos diários, a família se mantém unida.
 
Note que, em muitas famílias, a expressão “igreja doméstica” na verdade é irreal, ilusória – uma utopia. O que verificamos mesmo é uma jaula de oponentes, bichos ferozes, irracionais, irados e implacáveis.
 
Família que consegue viver em harmonia, fundamentada no respeito, na gentileza e na ternura é algo raro, é exceção mesmo.
 
Na maioria das vezes a desgraça reina... Por isso, repito, surgem os adeptos de uma ideologia fajuta pretendendo acabar com a família.
 
Acontece que esses patetas da fumacinha alternativa não percebem que se a sociedade está uma porcaria com a existência da família, sem a família seria ainda pior. Muito pior.
 
O caminho, portanto, não é acabar com a família, e sim orientar a família, cuidar da família, oferecendo à família todas as oportunidades vindas da Psicologia, de uma Religião sadia, da Pediatria, da Neurologia, da Nutrição, da Pedagogia. É estender as mãos num gesto de acolhimento e ajuda. Ajudar no que for possível. Sugerir, orientar, testemunhar, partilhar, servir, fazer alguma coisa enfim. Pelo menos tentar, porque a omissão é tão perigosa e inútil quanto a reclamação.
 
Mas esse trabalho de tentativa de melhorias, transformações e aperfeiçoamentos precisa ser essencialmente preventivo, porque tentar oportunizar conhecimentos e sabedoria para adultos com a mente obtusa e o coração petrificado no orgulho, seria tão ineficaz quanto pretender reter água num balde cheio de furos ou, como diria Jesus, atirar pérolas aos porcos.

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