Guaxupé, quinta-feira, 2 de maio de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Confissões: Sozinho, sim. Solidão... não.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023
Confissões:  Sozinho, sim. Solidão... não. O psicólogo Rodrigo Fernando Ribeiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Com boa frequência me perguntam se eu sinto solidão.
 
E no conteúdo das perguntas, os temas são recorrentes: viagens (praias, Disney, cruzeiros, visita a santuários), preferência musical, livros, filmes, vida profissional e familiar, toque (contato humano de pele com pele), festas de crianças, carnaval e outros mais.
 
Note que são temas dos quais eu já escrevi aqui. Então, alguns leitores, curiosos, querem saber minha opinião sobre o que eu tenho escrito. Se minha opinião ou reflexão manifestada é também por mim vivenciada.
 
Repito: quem me faz essa pergunta sobre a solidão são os leitores dos artigos que eu escrevo aqui no Jornal. Então, minha resposta será dada aqui mesmo. Não vejo problema em mostrar alguns aspectos da minha vida, das minhas escolhas. É bom. Deixa claro que o psicólogo, antes de ser psicólogo, é gente, é pessoa normal, comum, que tem fragilidades e virtudes, tem preferências, faz escolhas. Nada de mais.
 
“Você sente solidão?”
 
Respondo que não. Solidão não.
 
Mas, frequentemente me sinto sozinho no meu propósito de vida.
 
Algo que certamente acontece com outras pessoas por aí... Não estou falando nenhuma novidade nem manifestando nenhuma exclusividade. Não estou isolado. Basta procurar.
 
E o que eu irei escrever aqui não tem nada de vitimismo ou coitadismo. “Que peninha”, “que tristeza”, “tadinho”. Não, não, nada disso. O que ocorre é simples inadequação. Eu fiz escolhas certas, na minha opinião, claro, mas que não se ajustam ao contexto em que vivo. Quem sabe um dia eu consiga a tão sonhada harmonia, ainda que seja no outro mundo, na dimensão espiritual.
 
Procuro viver de um jeito que eu mesmo escolhi, e tudo fundamentado na essência de quem sou – evidentemente. Todas as minhas escolhas estão substancialmente vinculadas à minha personalidade, aos meus traços de caráter, ao meu temperamento, às minhas heranças (biológica, psicológica, cultural) e influências educacionais, do mesmo modo que ocorre com você, leitor, e com qualquer outra pessoa que busca autenticidade e congruência. Harmonia do ser. Saúde mental, equilíbrio emocional, fortalecimento espiritual, civilizadas relações interpessoais, apesar de nada disso ser perfeito em ninguém.
 
Qual é o preço de não dançar conforme a música? Qual é o preço de não nadar a favor da correnteza? Qual é o preço de não se afeiçoar por modismos? Qual é o preço de ter a ousadia de pensar e dizer não àquilo que é mau, quando a maioria não pensa e diz sim a tudo, achando que é normal? O preço é se tornar para sempre alvo de críticas – especialmente críticas depreciativas, com o intuito de ofender o caráter. Quer dizer, já me chamaram de tudo: esquisito, antissocial, chato, quadrado, antiquado e por aí vai. Pessoas de fora, e também as queridas pessoas de dentro da “sagrada família.”
 
Quando não dói tanto, dou risada. Ultimamente acho que tenho dado mais risada do que me entristecido. Aliás, me entristeço e dou risada pelo mesmo motivo das críticas direcionadas a mim, que me chegam através de palavras e olhares de reprovação – palavras e olhares que já nem me surpreendem mais:  a condenação que recebo; uma condenação insistente daqueles que optaram em não compreender.
 
A multidão que sempre nada a favor da correnteza fica incomodada com os peixes de piracema, que nadam contra a correnteza. Para a multidão, se está tocando certo tipo de “música” por aí, então todos precisam e devem dançar e cantar. Eu não. Não preciso, não quero, nem devo fazer parte de algo que, na minha opinião, não é música nem cultura. Para a multidão, se a galera enche a cara de bebida alcóolica e outras drogas, eu deveria fazer o mesmo. Não, não farei uso dessas coisas. A multidão gosta de assistir a programação padrão da TV e do Rádio. Não, eu não assisto. Não ouço. Não gosto. Porque tem piorado, e o intuito desses veículos de comunicação é fazer sempre o mesmo com a população: emburrecer, e não esclarecer.
 
Que o outro viva conforme escolheu viver. Não é? E eu do meu modo. Pronto e ponto. Poderia ser simplesmente assim. Mas porque tem gente que ainda se incomoda com o meu jeito de ser e de viver? Estranha constatação.
 
Outros exemplos fundamentados em convites reais que vez ou outra acabo recebendo: Viagens, turismo... Sim, gosto de viajar. Pouco. Prefiro lugares mais próximos de casa, porque gosto de estar em casa, perto de familiares e bons amigos.
 
Cruzeiro: Eu não tenho o menor interesse em fazer parte de um “cruzeiro”. As pessoas dizem: “Ah, mas é chique; ah, mas tem boate, cassino, drinks; ah, mas tem sinuca no salão; ah, mas tem piscina.” Pois é, mas eu nunca quis levar uma vida de ostentação. Tem gente que gosta. Pois então vá ao “cruzeiro” quem gosta desse tipo de passeio. Para mim, a felicidade vem da simplicidade. Tenho repulsa a boate. Não me interesso por cassino nem por sinuca. Não faço uso de bebida alcoólica. Onde eu vivo, tenho natureza, vivo ao ar livre e já tem piscina. Ouço as músicas que quero, colho frutas do pé, faço sucos naturais.
 
Agora, tema polêmico... Hora de eu ser implacavelmente “julgado” com sentença definida. Quer ver só? Muitíssimos fiéis católicos devotos dizem que eu preciso ir à Aparecida, no Santuário, naquela Igreja enorme. Por que eu preciso? Antes de afirmar que eu preciso, alguém perguntou se eu realmente preciso? Não. Não, eu não preciso viajar pra tão longe, sentir um calor enorme (tem gente com uma estranha mania de marcar excursões no verão, em meio à multidão em incessante transpiração), sendo induzido a comprar “coisinhas” de lembrança e olhar para uma estátua. Nossa, pronto, quando eu falo coisas assim, sou quase excomungado.
 
O modo como eu vivo o transcendente é diferente. Eu sinto Deus em mim o tempo todo, do mesmo modo que percebo a presença da bondade de Deus ao meu redor, perto de mim, no olhar e no sorriso de meus pais, da minha esposa, das minhas filhas, na alegria das minha cachorrinhas de estimação, no ensinamento que me chega de uma pessoa idosa, na lua que reflete a luz do sol, nas estrelas encantando o céu, no dia que nasce, na chuva, no vento que passa, nas flores que surgem, nos frutos que amadurecem, no canto dos pássaros, nas fontes e nascentes e por aí vai... Não preciso viajar para longe pra ter um encontro com Deus. Ele está perto. Ele está no meio de nós.
 
Sinto Deus como Ele é, presente, em Espírito e Verdade. Não preciso ficar olhando para uma estátua, por mais que ela seja um ícone sagrado cheio de mensagem e significado. Eu tenho meus ícones também. Respeito. Mas são enfeites. Apenas isso, pelo menos pra mim. Do mesmo modo que os judeus tinham a Arca da Aliança, a serpente de bronze, os anjos – imagens –, e os católicos têm suas imagens representativas de pessoas que foram praticantes do ensino de Jesus, santos, santas, eu também tenho algumas imagens. De modo especial, preservo duas que ganhei de minha mãe. Um bonequinho representando a minha profissão, e outro bonequinho do Carlitos, personagem do Charles Chaplin. Também ganhei uma caneca do Chaves. Só isso. Sem idolatria. Apenas lembranças afetivas.
 
Não gosto de coisinhas compradas que a gente guarda pra gente ou dá de presente, e depois são deixadas num canto e nunca mais são usadas nem recordadas. Fitinhas, por exemplo... Claro, é um gesto de carinho, de gentileza, e tem gente que vive disso. Compreendo isso sim. Somente digo que eu não tenho necessidade de coisas assim. Estou sendo chato, né.
 
De volta aos santuários e já encerrando essa parte... De modo geral, a multidão prefere a ilusão do que a Verdade. Prefere a instituição do que a Palavra. Tem mais apreço pela matéria, pelo transitório, se distraindo do Espírito Santo, do eterno. Deus deve ser adorado em Espírito e Verdade, disse Jesus. Note bem: Não estou dizendo que nunca irei num Santuário. Não estou negando o seu valor espiritual. Não estou negando o bem estar que santuários causam nos peregrinos, e que poderá causar em mim também. Só digo que o meu modo de vivenciar a espiritualidade é diferente. Talvez algum dia eu possa ir a um santuário. Vontade não tenho. Quem sabe um dia, ao menos pra acompanhar algum familiar devoto.
 
Mudando de assunto. Músicas... Imagina só. Eu gosto de ouvir música erudita, Mozart, Bach, Beethoven, Chopin, Vivaldi, Strauss, Tchaikovsky etc. Meus pais colocavam essas belíssimas e imortais composições desde quando minha irmã e eu éramos crianças. Gosto das apresentações do grupo de músicos e cantores da Orquestra de André Rieu. Gosto de Luciano Paravotti, Gianni Morandi, Lucio Dalla, Demis Roussos, Ray Charles, Steve Wonder, Tony Bennett,  Andrea Bocelli, Laura Pausini, Carmen Monarcha, Anna Netrebko, Sarah Brightman. Dos mais populares, e agora incluindo artistas brasileiros, gosto de algumas composições e letras de Toquinho, Jair Rodrigues, Milton Nascimento, Fagner, Paulinho Pedra Azul, Maria Bethânia, Marisa Monte. Gosto muito das canções de Pena Branca e Xavantinho. Das cantoras religiosas, ouço Irmã Kelly Patrícia, Maíra Jaber, Ana Lúcia Biajone, Sarah Sabará, Gabriela Rocha, Júlia Vitória, Karina Starnino.
 
Pois é... Talvez eu seja um E.T. mesmo. Se tiver alguém lendo isso aqui e goste também do que eu gosto, deixe o seu comentário, embora eu tenha quase certeza que ninguém comentará – por desinteresse, por considerar essa matéria muito chata e desnecessária, por preguiça mesmo, ou pelo famoso “não tenho tempo”, “tô na correria”. Não é?
 
Algum colega E.T. terá tempo. Mesmo não escrevendo, nos comunicaremos por telepatia.
 
Aliás, relacionado a isso, sobre dar atenção e ignorar, procuro não deixar ninguém sem ao menos uma resposta, uma devolutiva, uma atenção. Eu “arrumo” tempo, pois sei a dor da indiferença, e não pretendo ser indiferente com ninguém que mereça atenção. Dar atenção a um ser humano ou a um animalzinho de estimação é tão importante quanto o sol e a água para a planta.
 
Eu atendo de 30 a 40 pacientes por semana, em três clínicas, palestro, escrevo, gravo vídeos, e faço tudo isso sem descuidar de minha família. Sou filho, sou marido, sou pai, caminho com minha cachorrinha, e assim vou cumprindo bem meus papéis. O tempo fica “apertado”, claro. Mas procuro criar contato e convívio de qualidade no pouco tempo que tenho.
 
Se eu não me canso? Claro que sim! E eu resolvo isso descansando – simplesmente e obviamente assim. Durmo bem.
 
Cinema... Tenho fascínio pelo Cinema. Prefiro filmes. Tem gente que prefere séries.
 
Leitura... Eu prefiro livros. Tem gente que não se desgruda do celular.
 
Eu gosto de abraçar, espontaneamente, enquanto tem gente adepta do “não me toque”. Abraçados, marido e esposa, pais e filhos, nos fortalecemos, bloqueamos impulsos violentos, aliviamos tensões e angústias, cultivamos afeto e ternura.
 
Pra mim, festinha de crianças deve respeitar a infância – sempre. Porém, existem adultos, e não são poucos, frequentemente até os próprios pais da criança, que organizam festas de crianças, mas, na verdade, são festas de adultos, para os adultos, e muitos desses adultos sempre gostam de transformar liberdade em libertinagem. Durante a festa de crianças colocam músicas de conteúdo pornográfico – velado ou escancarado –, além da presença sempre farta de bebidas alcoólicas e outras drogas etc. Um horror. Um horror... Deveria ser considerado crime inafiançável causar escândalos assim às crianças.
 
Carnaval... Não gosto de carnaval nem de retiros religiosos. Prefiro ficar em casa, com a família. Brincar com as crianças, passear com minha cachorrinha, ler livros com minhas filhas, assistir a bons filmes.
 
Minha intenção é conseguir passar sagrados valores para as minhas filhas. Minha oração é para que elas não se corrompam com as seduções desse mundo de muitos modos perigoso, devasso, doentio, perdido, ilusório e efêmero. Peço a Deus que as proteja do mal.
 
Não é prudente ficar escrevendo muito. Já chega!
 
Se tiver alguma pessoa extraterrestre por aí interessada em dialogar...

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