Milhões de alunos e pouquíssimos estudantes
quarta-feira, 30 de março de 2022
Imagem: Divulgação
Triste ver o que vem acontecendo, ainda, em muitas escolas brasileiras.
De modo geral, deixarei aqui algumas reflexões contundentes de um professor, PierluigiPiazzi, que conheceu de perto a educação brasileira e de muitos outros lugares do mundo por onde passou para realizar sua pesquisa, e divulgar suas percepções.
“O Brasil tem milhões de alunos e pouquíssimos estudantes.”
A frase é dele mesmo, do saudoso Professor Pierluigi Piazzi (Prof. Pier).
O que isso quer dizer?
Quer dizer que o brasileiro até sabe assistir aula, mas não sabe estudar. O brasileiro não foi ensinado a estudar. Foi apenas conduzido a assistir aula.
Assistir aula não é estudar. Repito: assistir aula não é estudar!
Assistir aula é algo coletivo e passivo.
Estudar é algo solitário e ativo.
Outra constatação: Grupo de estudo é pura ilusão. Não existe grupo de estudo. Em grupo, as pessoas não estudam. Ao contrário, conversam, fofocam, contam piadas.
O estudo é uma atividade individual.
Ninguém consegue trocar o pneu de um carro com o carro em movimento. Nos estudos, do mesmo modo, é preciso parar e se concentrar.
E depois de estudar, é necessário sim descontrair, caminhar, relaxar, dialogar, ouvir uma boa música, meditar, orar e... Descansar.
Sim: Dormir! Durante um bom sono, existe muita atividade cerebral de registros e reparação! Dormir não é coisa de preguiçoso ou gente vagabunda. Dormir é uma necessidade psicofisiológica em todos nós. Quem acumula noites mal dormidas aumenta significativamente os riscos de desenvolver infarto e mal de Alzheimer.
Privação do sono é tortura. Privação do sono pode levar a pessoa a enlouquecer, provocar danos permanentes.
Dormimos para sonhar. O cérebro tem imensa necessidade de sonhar. No sono ocorre uma espécie de desentupimento de tóxicos, de lixo. A boa noite de sono faz uma limpeza em nosso cérebro. Acordamos com a mente melhor, mais disposta. E o corpo também, claro.
“Quem passa uma noite em claro, acorda meio abobado” (Prof. Pier). Pior: quem passa noites em claro, desenvolve alucinação.
De volta aos estudos:
O indivíduo estudante, preparado, disciplinado, é quem faz a diferença na comunidade e na sociedade inteira.
Vamos pensar em alguns exemplos...
Grandes compositores musicais: Mozart, Chopin, Bach, Tchaikovsky, Vivaldi etc. Existiu colaboração? Claro que sim: tiveram família, tinha gente fazendo a comida, limpando a casa, lavando as roupas. Tiveram ajuda. Evidente. Mas o esforço para se tornarem grandes compositores foi especialmente um esforço individual: foi o empenho e a assiduidade de cada um que fez, de cada um, um grande compositor.
Pense na pintura: Uma obra de arte foi produzida pela coletividade? Foram várias pessoas que se reuniram para pintar um quadro? Não.
Pense no esporte: A seleção brasileira de futebol reunida produziria Pelé? Não. Pelé, na sua individualidade, fez grande diferença em campo pelo dom que recebeu, e porque sempre treinava mais, queria mais, intuía melhor. Uma habilidade por ele mesmo desenvolvida. Ele se esforçava.
Pense na ciência: Um dos maiores cirurgiões plásticos do mundo, o brasileiro Ivo Pitanguy. Foi a Medicina que fez o Dr. Pitanguy? Não. Foi o Pitanguy que se esforçou nos estudos, se dedicou, perseverou, aproveitou seus dons e os colocou em prática. Nunca parou de estudar, até a sua morte.
Claro que trocar ideias todo mundo faz, o diálogo é necessário.A cooperação também é vital.
Pelé em campo sozinho não ganharia de um time adversário completo. Pitanguy sem seus auxiliares não faria suas brilhantes cirurgias.
O esforço, quando coletivo, produz maravilhas, coisas extraordinárias.
O esforço, quando individual, pode até produzir milagres. Lembre-se que cada ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus.
Coletividade e individualidade coexistem, cooperam, colaboram.
Mas na hora de estudar, o estudo é solitário e ativo. A maioria das famílias e a maioria dos alunos brasileiros não entenderam isso.
Prossigamos...
Estudo envolve leitura, falar em voz alta, repetir ideias e, especialmente, estudar é escrever, e escrever muito! Escrever muito mesmo.
Quanto mais o estudante escreve, mais ele registra as informações em seu cérebro. A memorização acontece no ato da escrita, e escrever à mão!
Porque quando você digita, você grava a informação no “cérebro” do computador, ou do celular. Já quando você escreve à mão, você grava a informação no seu cérebro.
Ninguém está dizendo pra você deixar de usar tecnologia (computador, celular etc.). Apenas a use de forma inteligente.
Outra dica preciosíssima, criada pelos engenheiros e professores fundadores do Colégio Objetivo: Aula dada é aula estudada.
O Prof. Pier acrescentou a palavra “hoje” na frase, deixando-a assim:
Aula dada é aula estudada. Hoje!
O dia em que foi dada a aula é o dia em que o aluno precisa se tornar estudante.
Eis uma importantíssima constatação das neurociências.
O dia de hoje é o dia da memorização, da preservação do conteúdo, da assimilação, do aprendizado.
Por isso, estudar em casa é tão importante ou até mais importante que a própria aula!
A aula é fundamental e prepara o aluno para o estudo em casa. O estudo em casa é essencial para o aprendizado. Está claro?
Veja que curiosa outra frase do Prof. Pier:
“Aula não foi feita para aprender, aula foi feita para entender. Professor não ensina, professor explica. Inteligência, talento e vocação são qualidades aprendidas. As neurociências já mostraram isso. A base genética influi muito pouco. Portanto, você pode se tornar cada vez mais inteligente, e em qualquer idade!”
Você já conseguiu entender que, estando na Escola, não deve estudar pra prova, e sim estudar para APRENDER.
Estude para aprender!
Estudar é obrigação. Sim, claro que é.
Se tiver moleza, o indivíduo se tornará o quê? Um imprestável?
Quem não teve chances nem oportunidades, ou quem tem limitações, enfermidades graves, anomalias e outros males, gostaria imensamente de ter o privilégio de estudar!
Pois então quem nasceu “com tudo perfeito” e se depara com as oportunidades, tem o dever de aproveitá-las e estudar, como forma de gratidão.
Estudar é privilégio.
Aprender é privilégio.
Escola é privilégio.
Estudar se torna necessidade quando vira hábito. Entendeu? A pessoa estudante estudará o resto de sua vida, pois compreenderá que nesta vida, na maioria das vezes, não fazemos o que queremos, mas o que precisa ser feito. Estudar é preciso. Conheceremos apenas fragmentos da verdade. Por isso, até o fim da vida, estaremos aprendendo.
Cuidado com a TV, cuidado com a internet, cuidado com as redes sociais. Cada uma delas, isoladamente, são grandes ladrões do tempo. São distrações que, além de entreter, podem nos “emburrecer”.
Tecnologia mal usada imbeciliza as pessoas. Imagine então todas essas distrações juntas roubando seu tempo todos os dias!
Dá pra piorar? Dá: acrescente o videogame. A imbecilidade crescente está tão alarmante que parece que os bens mais raros e preciosos do século XXI são a sensibilidade e a inteligência. Eu disse bens raros e preciosos. Quer dizer: Poucos estão usando inteligência, poucos estão desenvolvendo sensibilidade.
Note bem: o cérebro é o suporte físico da mente. Se o cérebro é estragado com televisão, internet e videogames, como ficará a mente?
Muitos jovens estão perdendo o interesse pela leitura. Digo, leitura de livros, dos bons livros, e não ler qualquer informação fragmentada na internet ou nas redes sociais.
E a orientação segue a mesma: Quanto mais você ler bons livros, mais inteligente ficará. Tem mais: leia preferencialmente em superfície que reflete a luz (livro), e não em superfície que emite luz (tela).
Quanto mais e melhor você ler bons livros, menos correrá o risco de se tornar um analfabeto funcional.
“Só lê muito quem lê com prazer.” (Prof. Pier).
É preciso criar nos filhos o prazer da leitura, o que, infelizmente, a Escola, de muitos modos, deixou de fazer, dando livros inadequados, profundos demais ou superficiais demais, em faixas etárias erradas. Por exemplo: Como um pré-adolescente pode criar o prazer na leitura lendo Dom Casmurro? Machado de Assis não tem culpa disso. Escreveu livros maravilhosos! Mas, Dom Casmurro indicado para a pré-adolescência é matar na raiz o prazer da leitura. Na pré-adolescência Dom Casmurro é enfadonho.
Falando agora um pouquinho das provas:
Muitos alunos estudam na véspera da prova. Até tiram boa nota, porque estudando na véspera, não dá tempo de esquecer. Houve aprendizado? Não. Existiu apenas “decoreba.” Semana seguinte o aluno esquecerá tudo. A “decoreba” desaparecerá.
Já o aprendizado permanecerá. O estudo só de véspera desvanece. Aplique a mesma prova meses depois, e note o que acontecerá: A nota despencará.
De novo: O aprendizado permanece. Como se faz para aprender?
A fórmula já foi dada:
Aula dada é aula estudada. Hoje!
GRAVE UM SUTIL DETALHE IMPORTANTE: Conservamos somente ou especialmente aquilo que passou por uma experiência e nos comoveu. Ou seja, o aprendizado está relacionado muito mais ao aspecto emocional do que ao aspecto racional.
E aqui, claro, estamos falando da importância do bom professor, e do apoio afetuoso dos familiares que incentivam o aluno a estudar.
O aluno entende melhor a aula e aprende melhor ao estudar em casa quando o professor é simpático, e quando na família existe ternura.
Ser simpático não significa ser bonzinho, bocó,bobo alegre, um palhacinho gentil fazendo caretas durante a aula. Não. Sala de aula não é espetáculo circense. Ser simpático é ser competente, artístico também, bem humorado, intuitivo sem ser caricato nem carrancudo.
Manifestar ternura não significa facilitar a vida do aluno, mas incentivá-lo, motivá-lo a continuar seu caminho de descobertas e aprimoramento pessoal.
Dando ênfase: O aprendizado é pra toda a vida!
Pense em quem aprendeu a andar de bicicleta ou a nadar. No começo, levou tombos, engoliu água. Mas depois de bem aprendido, mesmo após décadas, se for preciso você subir numa bicicleta e sair pedalando, ou se for preciso entrar na água e sair nadando, você conseguirá. O aprendizado é pra toda vida.
Com todas essas dicas, pare você, aluno, de jogar anos e anos de sua vida no lixo. Torne-se um estudante!
Leia, estude, escreva. Transforme o conhecimento em fixação (memória, aprendizado, aplicação).
Prossigo com este longo e necessário texto com mais uma dica do Prof. Pier: Saiba que existem conteúdos que você precisará decorar sim. Decorar! Por exemplo, a Tabuada. É preciso decorá-la.
Agora, note bem: Pra que não se torne inútil “decoreba”, ou seja, um conteúdo a ser brevemente esquecido, você precisará manter a Tabuada viva na memória, praticando-a, repetindo-a, treinando-a. Nesse caso, o decorar se tornará aprendizado também.
Notou a diferença entre decorar e “decoreba”?
Muita gente, infelizmente influenciada por alguns não tão bonspensamentos pedagógicos, acredita que a criança um dia construirá dentro de si o conhecimento. Será mesmo? Podemos generalizar isso ou aplicar isso sempre e em todos os lugares? Será mesmo que esse modelo tem produzido gente inteligente, competente, eficiente? O que estamos vendo por aí nas escolas?
Pode ser um tanto perigoso pensarmos de um modo só, ou endeusarmos uma única metodologia de ensino.
O Prof. Pier faz uma provocação ao raciocínio, brincando assim: Hoje em dia, já que existe calculadora, pra que decorar a Tabuada? Ok. Então, do mesmo modo, por que aprender a andar se existe cadeira de rodas elétrica?
Você concorda?
Já encerrando...
Leia, estude, escreva. Um pouco, e todo dia.
Sim, um pouco. Sem exageros. Não adianta ficar 14 horas por dia se dedicando de maneira errada.
Estude sem exageros, mas estude todos os dias.
Tome sol pela manhã, se hidrate bem, coma comida saudável, pratique esporte, dialogue, conviva, colabore nos afazeres de sua casa, do seu bairro, viva melhor, descanse.
Estude e comece a realizar seus sonhos em busca da satisfação pessoal e realização profissional, e fazer do seu desenvolvimento um bem para a comunidade.
Sorte é quando a oportunidade encontrar você preparado.
Prepare-se para a vida!
