Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Caçadores de sorrisos – o contato necessário

sexta-feira, 4 de março de 2022
Caçadores de sorrisos – o contato necessário Imagem: Divulgação

Não nos damos conta de que isolar os idosos e abandoná-los à responsabilidade de outros sem um acompanhamento familiar adequado e amoroso mutila e empobrece a própria família. Além disso, acaba por privar os jovens daquele contato que lhes é necessário com as suas raízes e com uma sabedoria que a juventude, sozinha, não pode alcançar. (Papa Francisco, na Carta Encíclica Fratelli tutti, número 19)
 
A arte de saber cuidar é uma ética de necessidade atemporal, válida para qualquer época, aplicável hoje, necessária para o amanhã.

Cada um de nós pode se tornar um “caçador de sorrisos”.

O “caçador de sorrisos” não é um bobo alegre.

O “caçador de sorrisos” é consciente, lúcido, enxerga bem as desgraças, sente as tribulações, mas não deixa morrer a fé, não mata a esperança, mesmo não conseguindo dar explicações para tanta maldade presente no meio de nós, como a guerra.

O “caçador de sorrisos” não é um zombador, nem um indiferente. Não.

Ele resgata em nós o bom humor!

O bom humor está em nós!

O “caçador de sorrisos” sabe que o bem tem mais direito que o mal, e que as trevas se afugentam na presença da luz.

É bom demais quando conseguimos fazer uma criança sorrir, viver, continuar a sonhar, a imaginar, poder brincar, ter o que comer, beber e vestir, ter um lar para se abrigar, ter escola para aprender, centros de saúde para tratar,ter pessoas para conviver, ter uma igreja para orar, ter as pessoas mais velhas bem perto para orientar.

Os mais velhos se enchem de alegria e energia na presença das crianças! E as crianças, por sua vez, tem nos mais velhos, a chance de fazer florir, aos poucos, a capacidade de intuir, contemplar, refletir e agradecer o dom da vida.

Estar ao lado de alguém que já viveu muito a vida é um privilégio! Uma oportunidade.

Não podemos interromper a fala dos mais velhos com a nossa arrogância juvenil. Devemos ouvir... Ouvir. Dentro das possiblidades de segurança, tocar, abraçar, dar o conforto, a ternura e o alívio das mãos afetuosas. Eu disse dentro das possiblidades de segurança, pois, em época de pandemia, o distanciamento muitas vezes se faz necessário. Mas não será para sempre.

Podemos prestar mais atenção nos idosos. Valorizá-los mais e melhor.Evitar julgamentos,evitar críticas apressadas ou precipitadas, apontando com grosseria o que fizeram de errado, pois erraram, claro, assim como nós, que ainda não temos tanta idade nem tanta sabedoria, também erramos, estamos cometendo alguns erros ainda, e estaremos sujeitos a errar no futuro se não formos capazes de nos tornar humildes para aprender. Ouvir mais e enxergar melhor para errar menos.

Aprender! O aprendizado nos modifica, nos faz pessoas melhores, nos aperfeiçoa, nos civiliza, nos mantém em alerta. Quanto menos distraídos, mais acertaremos nas nossas escolhas e atitudes.

Evidentemente estou aqui falando das condições normais de desenvolvimento humano, pois nas condições patológicas, demenciais, psicopatológicas e até de desvio de conduta e sociopatia, os cuidados devem ser outros, com a presença de cuidadores especializados, e as restrições de convivência, amparadas pela lei,precisam ser aplicadas, em alguns casos, onde a vida e a integridade dos outros são colocadas em permanente risco de morte. É bom lembrar o que disse Rui Barbosa: “os canalhas também envelhecem.”

Mas, de modo geral, dentro da normalidade da vida, não podemos abandonar os idosos, muito menos as crianças, que estão aí para serem amadas.

A infância e a velhice, o princípio e o fim da vida na terra são preciosidades de aprendizado para uma existência melhor daqueles que estão no meio da caminhada. Jovens e adultos precisam observar mais a infância e a velhice.

Aliás, velho nem sempre é a palavra adequada. Velho é aquilo que não se usa mais. A pessoa idosa pode ser perfeitamente útil, incluída, utilizada na sua sabedoria.

Então, o melhor mesmo é falarmos em pessoa idosa, e não em pessoa velha. Não é?

A criança faz o vovô e a vovó sorrir! Do mesmo modo, vovô e vovó, quando respeitados na idade que chegaram, também fazem os netinhos sorrir!

Sorrisos de gratidão revelam um olhar de esperança...

Registros inesquecíveis que compõem a eternidade!

Podemos todos, em vários momentos da nossa vida, nos tornarmos “caçadores de sorrisos.”
 

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