Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Leitora entrevista psicólogo e colunista do Jornal da Região

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022
Leitora entrevista psicólogo e colunista do Jornal da Região Foto: Divulgação

O Colunista Rodrigo Fernando Ribeiro, que assina a coluna Psicologia e Você, do Jornal da Região, foi entrevistado por uma leitora do Jornal

É possível que ciência e religião estejam em comunhão?
Ana Beatriz, uma leitora do Jornal da Região, entrevistou um dos nossos colunistas, o psicólogo Rodrigo Fernando Ribeiro.
Acompanhe...
 
 
1. Ana Beatriz: Rodrigo, algumas vezes nós lemos nos seus artigos a presença de conteúdos religiosos. Recentemente você fez uma bela homenagem ao pároco da Catedral Diocesana Nossa Senhora das Dores, de Guaxupé, o Padre Reginaldo Silva, pelos seus 11 anos de trabalho e dedicação na paróquia e na cidade de Guaxupé de modo geral. Você é religioso?
Rodrigo: Sim... Sou uma pessoa religiosa. A palavra religião deriva de reverência, numa de suas mais precisas etimologias. Nesse gesto sincero de humildade necessária à nossa paz de espírito, nos (re)ligamos a Deus. E é Nele que nos fortalecemos, que encontramos significado para a nossa existência e sentido para prosseguir aprimorando a nossa maneira de viver.
 
 
2. Ana Beatriz: Você já conhece o novo pároco da Catedral, Pe. Francisco Carlos, que está vindo da cidade de Poços de Caldas?
Rodrigo: Ainda não o conheço pessoalmente, mas já venho acompanhandoalgumas de suas mensagens gravadas em vídeo. São mensagens singelas, profundas, precisas, eficazes, que tocam o coração, sempre coerentes ao Evangelho. A comunidade certamente irá gostar muito desse padre também.
 
  
3. Ana Beatriz: Rodrigo, você já entrevistou Pastores e Pastoras de Igrejas Protestantes. Qual a importância delas, na sua opinião?
Rodrigo: É verdade, eu já tive a alegria de poder entrevistar também um casal de pastores, Marcos e Celeste, da Igreja Batista Nova Filadélfia. Eu já estive presente algumas vezes na Igreja deles, participando de eventos para casais, cultos, ensinamento bíblico infantil. Os protestantes são cristãos, né. Estão aí anunciando a proposta de vida anunciada por Jesus de Nazaré. Creio que as diferenças entre católicos e protestantes são poucas. Católicos e protestantes têm muito mais em comum – eles tem o Cristo como o centro da fé. Devem se unir para o bem comum. O Papa Francisco sempre manifestou seu respeito pelas Igrejas Protestantes e outras mais que verdadeiramente promovem a paz. Francisco disse que unidade não é sinônimo de uniformidade. Quer dizer: as diferenças entre os irmãos continuarão, existem alguns aspectos irreconciliáveis de fé, mas podem se unir para anunciar o mesmo Caminho, a mesma Verdade, a mesma Vida que, para ambos, é Jesus. Quando Jesus é verdadeiramente o centro, as distâncias diminuem. Por outro lado, quando as vaidades e os caprichos tomam o centro, aí as distâncias e as discórdias se intensificam.
 
 
4. Ana Beatriz: E o que dizer das outras religiões não cristãs?
Rodrigo: São importantes também, claro! Fazem parte da história da humanidade. São tentativas de buscar a Deus, de buscar um sentido para a vida. Elas estão aí: budismo, hinduísmo, judaísmo, islamismo etc. É uma necessidade humana, um impulso natural da criatura buscar pelo seu Criador.
 
 
5. Ana Beatriz: Eu já pude ver você com sua família nas Missas da Catedral de Guaxupé. Tem algo a nos dizer sobre esse encontro comunitário, e algo de milagroso que tenha acontecido com você lá?
Rodrigo: Ah sim... É belíssimo e gratificante ver e também poder participar desses ambientes sagrados onde a comunidade se reúne para manifestar a fé. Sobre milagre, curioso você me perguntar sobre isso agora. Eu estive presente na penúltima Missa celebrada pelo então pároco da Catedral, o Pe. Reginaldo Silva, no domingo, dia 20 de fevereiro, deste ano de 2022, às 10:30h (da manhã). Eu já havia me confessado, manifestei a minha gratidão por estar ali com a minha família e com a comunidade, e fiz o meu pedido. Comungamos, minha esposa e eu. Pouco tempo depois de receber a Eucaristia eu obtive uma cura física. Eu já tinha recebido o ensinamento, a consciência e alívio espiritual há muito tempo atrás. Na minha infância, minha mãe foi minha catequista, na juventude meu pai e meu avô paterno me apresentaram livros de teologia. E dessa vez, na idade adulta, nesse domingo de fevereiro do ano de 2022, eu obtive uma cura física. Um alívio.Tive a percepção exata, palpável dessa graça, dessa bênção, dessa presença do sagrado em mim e eu nele. É impressionante. O que a Igreja proclama ser verdade é verdade mesmo. A Igreja nunca duvidou dessa força, dessa presença real de Jesus... Impressionante.
 
 
6. Ana Beatriz: Você mencionou a confissão, uma necessidade que precede a comunhão, conforme ensina a Igreja Católica. Você considera necessária a confissão?
Rodrigo: Ah sim. É necessário, não só do ponto de vista religioso, mas psicológico também. Reconhecer o erro, envergonhar-se diante de um ser humano que recebeu essa autoridade do próprio Jesus para nos ouvir, compreender, orientar e perdoar (João 20, 21-23), é um cumprimento do Evangelho e uma possibilidade de congruência psicológica. Nos faz muito bem.
 
7. Ana Beatriz: A confissão ao padre ou ao bispo se assemelha ao paciente diante do psicólogo?
Rodrigo: Sim e não. Respondo: Se assemelha em alguns aspectos como o acolhimento, a escuta, a compreensão, a interpretação, a intuição, o sigilo, a orientação. Mas o psicólogo não tem a mesma autoridade do sacerdote de ir mais a fundo, de chegar ao espírito, nem autoridade para absolver pecados.
 

 8. Ana Beatriz: A Psicologia trabalha com a conversão?
Rodrigo: Não é bem assim. Temos que ter cautela para não misturar as cosias, nem confundir o que é específico em cada profissão ou vocação. A conversão está intimamente ligada à crença religiosa. No caso do cristianismo, significa aceitar e praticar o ensinamento de Jesus. O objetivo, a finalidade ou o propósito é a salvação da alma. É uma tomada de consciência, é uma renovação da mente, uma ética para as relações interpessoais. Já a Psicologia trabalha sim com a conscientização, com o discernimento, com o insight, com a introvisão, porém sem a pretensão de salvar a alma do paciente no sentido escatológico. O objetivo da Psicologia é oportunizar saúde mental e equilíbrio emocional.
 
 
9. Ana Beatriz: Ciência e religião devem caminhar juntas?
Rodrigo: Com toda certeza! Não só caminhar juntas, mas também de mãos dadas! As lacunas do conhecimento científico são preenchidas pelo saber religioso, do mesmo modo que o ensino religioso sempre ganha com os esclarecimentos da ciência. Religião sadia e ciência lúcida estão a serviço de Deus.
 
 
10. Ana Beatriz: O que significa pra você ser um psicólogo falando de Deus?
Rodrigo: Significa coerência. A Psicologia é filha da Religião. Eu não estou inventando nada, nem propondo nada, nem criando nada. Estou apenas constatando e comunicando um fato. Eu já escrevi sobre isso aqui. Os primeiros cuidadores das angústias da alma humana foram os religiosos. O psicólogo é um cuidador da alma. Quem criou a alma? Quem é o autor da vida? Qual é a natureza da alma? A alma é de natureza espiritual. Deus é o Criador, o autor da vida. Deus é espírito. Pretender cuidar da alma e ignorar Deus, é tão incoerente quanto pretender falar do pão e ignorar a existência do padeiro. O ser humano tem fome e sede de Deus. Essa é uma necessidade psicológica, além de ser um dado antropológico. A espiritualidade é umadimensão humana que pode, claro, ser trabalhada em psicoterapia. Eminentes psicólogos do passado e da atualidade já falaram e escreverem muito sobre isso. Dentre eles, Carl Gustav Jung, Viktor Frankl, Jean-Yves Leloup, Pierre Weil, EzioAceti, Jacob Pinheiro Goldberg, Mark W. Baker, Augusto Cury etc. O que o psicólogo não pode fazer é proselitismo, não pode induzir alguém a acreditar em algo, e muito menos opinar favoravelmente sobre uma crença em detrimento de outra. Não. O psicólogo tem a crença dele, e dela não se fala em psicoterapia. O psicólogo se dispõe a cuidar do paciente, e é a crença do paciente que será elucidada, elaborada, pensada, seja ela qual for. E se o paciente não quiser falar nada sobre crenças, não se fala. Outros assuntos serão tratados, outras necessidades serão cuidadas.
 
 
11. Ana Beatriz: Nessa época de pandemia, de desastres naturais, de ameaças de novas guerras, de pessoas passando fome, enfrentando medos e incertezas, qual mensagem final você deixaria?
Rodrigo: Primeiro, apenas uma constatação: a guerra é a pior chaga da humanidade. Destrói, mata, faz fortunas para poucos, e deixa miséria para muitos.
Segundo, um apelo: precisamos, de algum modo, cada um dentro das suas possibilidades, cuidar dos mais frágeis, pobres e humildes.
Terceiro... Se quisermos deixar Deus feliz, comecemos por fazer uma criança sorrir. Chega de escândalo!
Pra encerrar, eu não acrescentaria nada de novo. Não precisa. Creio que a manifestação suprema do amor de Deus já nos foi entregue há muito tempo. Então a questão não é dizer algo a mais, e sim praticar o que já nos foi anunciado. Que tal relermos e praticarmos, por exemplo, o Sermão da Montanha (ou As Bem-Aventuranças)?

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