Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Voz: memória afetiva

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022
Voz: memória afetiva O dublador Mario Monjardim e o personagem Salsicha, do desenho animado Scooby Doo (Foto: Divulgação)

“O bom humor não tem idade.” (Mário Monjardim)
 
“Scooby-Doo, cadê você meu filho!”
Vozes marcantes, impactantes, comoventes.
A dublagem brasileira, considerada uma das melhores do mundo, marcou e marca a memória afetiva de milhões de pessoas.
Não faz muito tempo que faleceu Mário Monjardim (sua passagem para a eternidade foi no ano passado, 2021, aos 86 anos), dono de uma das mais bem humoradas vozes da dublagem, emprestando o seu estupendo talento para personagens como Salsicha, fiel companheiro de Scooby-Doo.Scooby, como todos sabem, também recebeu a voz inesquecível do saudoso Orlando Drummond (falecido no ano de 2021, aos 101 anos).
Mário Monjardim também dublou o espertalhão coelho Pernalonga, e o desajeitado Capitão Caverna. E foram tantos outros mais. E não foram somente personagens do desenho animado.
Para a satisfação dos admiradores do genial comediante estadunidense Gene Wilder, especialmente no filme Cegos, Surdos e Loucos, foi Mário Monjardim quem o dublou.
Monjardim nos faz lembrar de outro Mário, com uma voz também tipicamente bem humorada, e que faz parte inesquecível das nossas recordações auditivas e afetivas: Mário Jorge Andrade, o dublador do comediante Eddie Murphy (Um tira da pesada, O professor aloprado, Dr. Dolittle, etc.), além do personagem Burro, do Shrek, entre tantos outros.
Oportunizar, favorecer, potencializar, intensificar a alegria é um dom especial. Foi isso que muitos talentosos dubladores brasileiros fizeram.
Note que curioso foi o princípio de Mário Monjardim. Ele precisava ir ao dentista. Fazia tempo que não cuidava dos dentes. Então foi... Mas o dentista já havia se mudado para outro endereço. Mário perguntou o que era aquele escritório, que estava no lugar do dentista. A secretária disse que era uma rádio, a Rádio Vitória, uma conhecida rádio do Espírito Santo, e estava fazendo inscrição para radioator, pra realizar radionovela. Mário nem sabia o que era radioator. Fez a inscrição, foi aprovado. A notícia da aprovação foi dada pelo seu pai. E aí, no rádio, teve início a sua trajetória, utilizando sempre a sua voz, inconfundível, engraçada, um pouco debochada, com sotaque caipira. E ele foi assim, marcando o seu trabalho, a sua história, dando ênfase ao bom humor, contribuindo para o surgimento de muitas risadas no público brasileiro. Trabalhou em grandes estúdios de dublagem, como Herbert Richers e Delarte.
A dublagem brasileira recentemente, neste início de ano de 2022, enfrentou outro falecimento: Isaac Bardavid, falecido aos 90 anos. Bardavid possuía um estilo mais dramático, imortalizado na voz de tantos personagens. Fez cinema, teatro, novela. De voz também inconfundível, como a do Esqueleto, do He-Man, e do Wolverine.
Todos esses artistas nos fazem refletir sobre a importância da nossa voz, do nosso tom de voz. Do que significa a nossa voz para os outros, e da importância da voz dos outros para nós.
Uma pessoa pode passar toda a vida sem ver o rosto de um dublador. Mas a sua voz permanece inconfundível. Por isso são identificados pela voz, e não pelo rosto – quando mostram o rosto.
Pense nisso, e amplie o significado disso. Observe quais são as vozes que deixaram profundos registros afetivos em você: a voz de sua mãe, de seu pai, do seu avô, de sua avó, do seu marido, da sua esposa, do seu filho, da sua filha, e por aí vai... Mesmo de olhos fechados, ao ouvir uma voz afetiva, imagens mentais começam a surgir em você. Recordações começam a te comover, a recompor a sua história. De muitos modos, a voz te dá sentido de existência.
Linguagem da alma.
Um sutil mover do espírito.
A voz é invisível.
Perceba como o invisível nos marca tanto, nos comove tanto, nos mexe tanto e, por isso, se torna realidade eterna em nós.
Vamos sorrir! Crianças, jovens, adultos, idosos. Vamos sorrir! Como diria o cantor Toquinho: “tente ser feliz enquanto a tristeza estiver distraída.”
Fazemos parte de um projeto infinito!
Mário Monjardim nos fez sorrir tanto!
Desse modo, deixo aqui um link para você acessar e assistir um pequeno trecho, muito bem humorado, do filme Cegos, Surdos e Loucos, onde o genial Monjardim dublou o também genial Gene Wilder:

https://www.youtube.com/watch?v=apScV-0CR10(Cegos, Surdos e Loucos - dublagem Herbert Richers)

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