Guaxupé, sábado, 11 de maio de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Quando não procurar psicoterapia

terça-feira, 15 de dezembro de 2020
Quando não procurar psicoterapia

Tem gente que sempre entende tudo errado, especialmente quando diante de algo que ainda não está suficientemente esclarecido na “cabecinha” da maioria da população.
No caso da Psicologia, tem crescido o número de pessoas procurando tratamento para ansiedade e tristeza.
Mas como assim? Desde quando se trata ansiedade e tristeza?

Ansiedade, tristeza... não é situação para se tratar, e sim pra se viver! Ponto. É necessário viver!
Passar por períodos ansiosos e tristonhos faz parte da vida.
Tudo bem: quando não há alguém capaz de acompanhar uma pessoa que esteja passando por momentos de ansiedade e tristeza, quando não há nenhum familiar nem amigo próximo que esteja disposto a ouvir com atenção e ternura, o profissional da Psicologia poderá ser uma espécie de companheiro de viagem, se assim o paciente quiser, e estiver disposto a investir em algumas sessões. Apenas isso. Mas não se trata isso (estou me referindo aqui ao tratamento quando estamos diante de uma doença). O paciente poderá partilhar isso, esses momentos de certa angústia de alma. Ansiedade e tristeza não fazem parte daquilo que está sujeito a um tratamento.
Você está achando estranho o que estou dizendo aqui? Continue a leitura e certamente você compreenderá melhor.
 
Ansiedade e tristeza não são doenças.
São contingências, quer dizer, podem acontecer ou não em função das circunstâncias, e quando acontecem episódios ansiosos ou momentos de tristeza, devem ser vividos com normalidade, encarados com naturalidade.
Dois exemplos comuns...
Fulano procura o psicólogo porque está ansioso. Até o médico mal informado registra no encaminhamento: “ansiedade”. Daí o paciente diz o motivo: Irá prestar concurso público, e não quer sentir ansiedade, quer curar sua ansiedade. Ora, em primeiro lugar, é evidente que sentirá ansiedade, pois está diante de um momento importante da vida, e é até bom que sinta ansiedade, pois, nesse caso, a ansiedade o manterá alerta, mentalmente ativo, focado, concentrado. Em segundo lugar, como já disse acima, não há cura para ansiedade. A ansiedade é uma condição da nossa existência. Quer dizer: se não há cura para a ansiedade, há simconsciência do que ela significa.
 
Curar a ansiedade seria um grave equívoco... Seria o mesmo que anestesiar a presa, a fim de facilitar a vida do predador.
Beltrano procura o psicólogo porque está triste. Motivo: Falecimento de um ente querido. Outro equívoco a busca por psicoterapia nesse caso. Por que equívoco? Ora, porque é claro que o sujeito está entristecido! Está em luto. Um ente querido faleceu! O estranho seria o sujeito entrar no consultório dançando, gargalhando, apitando, festejando... Aí sim seria motivo de estranheza, de maluquice. Se o ente é querido, houve vínculo, existiu afeto. Por isso, surge a dor da saudade quando a morte chega. Do mesmo modo que na ansiedade, não faz sentido fazer psicoterapia com a ilusória pretensão de curar tristeza. A tristeza também é uma condição da nossa existência.
 
Curar a tristeza seria como nos transformar emcínicos conformistas, em apáticos robôs, em insensíveisnormopatas ou até em inescrupulosos condutopatas. Curar a tristeza, nesta terra, nesta condição de vida, seria um grave equívoco.
De acordo com a teologia cristã, somente no Paraíso Celestial não haverá ansiedade nem tristeza. A eternidade em Deus será sempre nova e feliz.
Você está me acompanhando nessas reflexões?
Ansiedade e tristeza: Cada um de nós precisa viver, e não esconder esses estados de espírito.
Se não viver, o indivíduo não vai aprender a lidar com seus naturais sentimentos.
Sem aprender, não irá se desenvolver enquanto pessoa, enquanto ser humano.
 
Tristeza e ansiedade são estados naturais pelos quais passa a alma humana.
Repito: são estados naturais, são normais, ou seja, ansiedade e tristeza não são doenças!
Penso que você já está entendendo o perigo que corre o sujeito que começa a tomar remédio ao sentir tristeza e ansiedade, não é? É um perigo. Vai camuflar a própria existência e, aí sim, num futuro não tão distante, poderá ter mesmo uma doença de verdade, uma disfunção, uma anormalidade.
Dê ênfase: Não podemos nos esquivar de reações naturais fazendo psicoterapia, muito menos tomando remédio.
Mas quando o remédio e a psicoterapia se fazem necessárias? A resposta é simples: Somente quando houver um franco desequilíbrio. Por exemplo, quando a ansiedade se torna síndrome do pânico, paranoia, perseverante insônia, insistentes crises hipertensivas; quando a tristeza se torna melancolia, profunda amargura, quando se tem a sensação de que tudo irrita, que nada está bom, e essa severa melancolia se torna depressão. Aí assim estaremos diante de austeras perturbações psíquicas, dignas de cuidados maiores oferecidos pelos profissionais psicólogos e psiquiatras, podendo também contar com o apoio de neurologistas, fisioterapeutas, educadores físicos e diretores espirituais.
Na ansiedade descontrolada, notamos uma agitação permanente diante da serenidade da vida, uma demasiada preocupação com o futuro, uma inquietação trêmula que transpira medo constante.
Na melancolia e na depressão, notamos uma lamentação incessante perante a suavidade e a beleza da vida, uma patológica fixação ao passado que, por ser fixação, parece que o passado não passou... Nunca passa. O passado se faz presente o tempo todo e, por isso, para o depressivo, o presente não há. Não há o novo, não há a novidade. E mesmo se houver, rapidamente o brilho deslustrará.
Nesses dois casos, onde podemos ver desajustes intensos tanto na ansiedade como na tristeza, torando-as patologias, a pessoa passa por sérios prejuízos no relacionamento familiar, tem dificuldades no trabalho e por aí vai...
Portanto, somente onde se detectam tais desequilíbrios é que devemos procurar auxílio profissional para tratar daquilo que se tornou anormal e antinatural. Se não existir nada disso, viva... Apenas viva!

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