Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

SEM TOLERÂNCIA, OS GOLPISTAS SE SUBMETERÃO ÀS LEIS

domingo, 22 de janeiro de 2023
SEM TOLERÂNCIA, OS GOLPISTAS SE SUBMETERÃO ÀS LEIS Foto: Divulgação/Yahoo Notícias

Logo após os graves acontecimentos do 8 de Janeiro em Brasília, nosso artigo neste semanário fazia a previsão de que os rastros da destruição seriam vasculhados pelas autoridades, especialmente pela Polícia Federal – PF – a fim de que os golpistas responsáveis sofressem as necessárias punições. Afinal de contas, durante toda a minha vida, somente vi a Esquerda ser reprimida, presa, torturada e assassinada sob o estigma do comunismo. Por que não a Direita extremista, nazifascistoide?

No mesmo artigo, rememorávamos que o mineiro Juscelino Kubitscheck, o JK, eleito Presidente da República em 1955, sofreu várias tentativas de Golpe de Estado, sendo a de maior monta, antes da sua posse, no chamado Movimento 11 de Novembro, num contragolpe rechaçado por alguns generais, que depuseram o Presidente substituto, Carlos Luz, trocado pelo Presidente do Senado, o catarinense Nereu Ramos (PSD), sob a liderança do também mineiro de Barbacena, General Henrique Duffles Teixeira Lott. O General Lott foi uma das figuras mais impolutas das nossas Forças Armadas – FFAA – sendo extremamente legalista e intolerante com a indisciplina. Promovido a Marechal, foi Ministro da Guerra do Governo Kubitscheck e, por este, lançado candidato à Presidência pelo PSD, em 1966, quando foi derrotado por Jânio Quadros (PTN), embora seu vice João “Jango” Goulart (PTB) tivesse ganho do vice janista, Milton Campos (UDN), quando ainda se votava para Vice-Presidente.

Tentativa de Golpe de Estado, tão precoce como este 8 de Janeiro, aconteceu em 10 de fevereiro de 1956, depois de empossado JK no 31 de janeiro. Inconformados com a vitória juscelinista por baixo percentual de votos, mais ainda pela aliança PSD/ PTB, que recebeu apoio dos comunistas, tendo dito JK que “voto na urna não tem cor”. Era época da Guerra Fria, não havendo eleição de 2o turno. Oficiais da FAB – Força Aérea Brasileira – se apoderaram de um avião caça dessa Força e se estabeleceram em Jacaréacanga-PA, dominando os municípios vizinhos de Itaituba, Santarém, Aragarças e Belterra, durante 19 dias, sob certa proteção da FAB, que se recusou a combatê-los. Uma terceira incursão contra o Governo, tão aventureira e politiqueira como a de Jacaréacanga, embora com o sequestro de cinco aviões, sendo dois civis, um da Panair do Brasil, no Rio de Janeiro, e outro particular, em Belo Horizonte, se estabeleceu em Aragarças-PA e foi dominada em apenas dois dias.

Ainda a pretexto salvação do comunismo, quando, realmente, ainda existia a União Soviética e se instalara o regime marxista-leninista de Havana, houve o Golpe Militar-Civil de 1964, que estendeu-se até 1985. Foi um Ciclo Militar cuja peculiaridade era a troca dos presidentes-militares a cada quatro anos, através de eleições indiretas em votações pelo Congresso Nacional, com chapas únicas a Presidente e Vice, pelo partido de situação e amplamente majoritário, a ARENA – Aliança Renovadora Nacional – e somente uma única vez com uma candidatura de Oposição, pelo também partido criado pelo Regime, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Todo esse contexto proporcionava “uma visibilidade democrática no Exterior”. Na única vez que a Oposição ousou lançar um inviável candidato, Ulisses Guimarães (MDB/SP), denominado de Anticandidato, o objetivo foi a peregrinação do mesmo por todo o Brasil, combatendo a Ditadura, em recintos fechados, coalhados de agentes da inteligência federal – do SNI, Serviço Nacional de Informações – e dos respectivos Estados, o DOPS – Departamento da Ordem Política e Social. Por oportuno, devo revelar que eu e minha mulher, Adalete, estivemos presentes na Reunião de Belo Horizonte, que aconteceu na Assembleia Legislativa-MG.

Refizemos esses relatos para demonstrarmos o quanto as nossas FFAA – Forças Armadas – têm fu- gido do seu papel constitucional, ora contido no Artigo 142, que reza: “As Forças Armadas, constituí- das pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da Repúbli- ca, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da Lei e da Ordem”.

Fatores diversos contribuíram para a vitória para Presidente da “zebra da política”, Jair Messias Bolsonaro, em 2018. Primeiramente, o massacrante vendaval de ódio ao PT -Partido dos Trabalhadores – não somente pela corrupção na Petrobrás que, diga-se de passagem, foi praticada por antigos Diretores, com 20 anos ou mais de carreira profissional na Empresa, junto com políticos mais espertalhões e de maior experiência no governo de que o próprio PT. Todavia o PT desfrutava de uma antipatia por parte das elites, principalmente da Mídia Empresarial, anterior a esse Escândalo. A consecução de um “script” dessas elites, que começou pela não aceitação da reeleição da Presidente Dilma Rousseff, em 2014, numa crescente de protestos e pretextos até a consumação do seu afastamento em 2016, bem como as violações da Justiça da Lava Jato e a prisão de Luís Inácio Lula da Silva, afastando-o do pleito eleitoral. Acrescente-se a isso a efetiva vitimização do candidato Bolsonaro pelo atentado da Facada, praticado por um desequilibrado que usou de ação tão primitiva, pois, se mandantes houvesse nada mais factível do que o uso de arma de fogo com mira e maior alcance, do alto de um dos edifícios de Juiz de Fora. Por último, a utilização e manipulação através da internet, tanto de pessoas cultas e incultas, através da religião, gerando uma multidão cegamente fanatizada. No Poder, substituindo o criticado “aparelhamento do Estado”, que era atribuído aos militantes do PT, trocado por mais de 6.000 militares da Reserva e da Ativa, com o apoio de extremistas de Direita e fanáticos religiosos, principalmente dos evangélicos e setores do catolicismo, Jair Bolsonaro criou asas no seu sonho de tornar-se Ditador, nos moldes de Garrastazu Médici, que fre- quentavajogosdefutebol,ecujogovernopraticou cruéis formas de tortura e sumiço de presos políticos, tudo isso que sempre fascinou Bolsonaro, o fracassado militar e o Deputado do baixo clero. Por isso, foram quatro anos de incentivo e tolerância com os atos antidemocráticos dos seus seguidores. Tudo pelo sonho do autogolpe, que o conservaria no Poder. A Pandemia foi um dos percalços com que não soube lidar, pois, sua personalidade arrogante e belicosa o fez derrapar em muitos momentos, afastando-se de aliados importantes. Outros políticos e zelosos generais tomaram rumo divergente. A Bolsonaro restou como massa de manobra, os que demonizam a Esquerda, os ativistas nazifascistóides e os tolos que nele enxergavam o Salvador da Pátria. Seu Governo conduziu seus seguidores para os armamentos, para polêmicas pautas de costumes, para o desrespeito às instituições, para a disseminação de “fake news”, enfim para a Guerra, que foi o que aconteceu no 8 de Janeiro.

A Democracia venceu. Já vinha vencendo com as maiúsculas e inarredáveis posições de um homem corajoso, oriundo do Grupo Emedebista Paulista de Michel Temer – o Ministro Alexandre de Moraes do STF. Agora surgiu um verdadeiro Xerife, o Ministro da Justiça e Segurança Pública, ex-Juiz Federal e ex-Governador do Maranhão, que vislumbrou que o Poder Civil tinha como abafar esse meteórico Golpe de Estado – que, segundo o Ministro Dino, aconteceu faticamente, pois os rebeldes ocuparam os Três Poderes da República, não juridicamente, pois ele, de dentro do seu Ministério preparou um Decreto de Intervenção na Segurança Pública do Distrito Federal (DF), enviado ao Presidente Lula, que avaliava as enchentes em Araraquara-SP, que assinou e retornou foto do documento – tudo por meio do ZAP – dando condições ao indicado Interventor, Capelli, que assumisse a frente da PM/DF e tivesse o Comando que faltava, inclusive com a prisão do Comandante-Geral da PM/DF. A maioria da corpo- ração atuou ativamente na contenção e expulsão dos rebelados que invadiram e violentaram as sedes dos Três Poderes, num cenário de guerra.

Até metade desta semana, 354 rebeldes tiveram suas Prisões Temporárias convertidas em Preventi- vas e responderão, provavelmente, mais à frente, em liberdade, por sete crimes, tais como terrorismo, destruição de prédios públicos, associação criminosa, dentre outros. O Ministro Alexandre de Moraes tinha ao todo 1.459 Atas de Audiências de Custódia, na presença de um Juiz e com depoimentos anteriormente prestados à Polícia Federal. Foram liberados 220 presos com medidas cautelares tipo tornozeleiras eletrônica, impedimento de atuarem em redes sociais ou de fazerem contato com outros acusados. Outros 500 foram soltos logo nos primeiros dias, após serem fichados, sendo as razões humanitárias, como portadores de doenças, de deficiências e idosos. Ainda havia até esta 4a.feira, 885 presos, cujas atas de audiências estarão sendo analisadas. Os homens detidos estão em espaços próprios na Penitenciária da Papuda, no DF, enquanto as mulheres na Penitenciária Feminina da Colmeia. Deve ser acrescidos que dos três terroristas que tentaram explodir um caminhão tanque, carregado com 60 mil litros de querosene de aviação, nas imediações do Aeroporto Internacional de Brasília, dois estão presos, George Washington e Alan Diego Santos, estando foragido o jornalista Wellington de Souza, o autor intelectual. Todos os três estavam acampados defronte o Exército, em Brasília.
Finalmente, há de se ressaltar que as investigações e os inquéritos seguem em quatro linhas: (1) Executores; (2) Financiadores; (3) Instigadores e autores intelectuais; (4) Autoridades omissas ou coniventes. Na categoria (4) estão enquadrados o ex-Ministro da Justiça de Governo Bolsonaro e PF, Anderson Torres, preso no sábado ao desembarcar dos Estados Unidos; o ex-Comandante-Geral da PM/DF, Coronel Fábio Augusto; Militares das FFAA e da PM/DF. Denúncias contra o Deputado Estadual Sargento Rodrigues (PL/MG), cumprindo o 7o mandato em MG, instigador de atos antidemocráticos e, talvez, até financiador, com antecedentes de participação em rebelião ilegal na PM/ MG, na década de 1990, pairam nas investigações noDF.

O Presidente JK e outros anistiaram militares conspiradores. Torturadores da Ditadura de 1964/85 saíram incólumes com a Anistia Ampla, Geral e Irrestrita no final do Ciclo Militar, sendo que muitos se indignaram com a Comissão da Verdade do Governo Dilma. Pelo contrário, da mesma época daquelas ditaduras do Cone Sul, militares uruguaios, argentinos e chilenos foram julgados e condenados pelo cometimento de atrocidades. Já basta de elementos de má índole nas FFAA e nas PMs. Principalmente, os que continuam com a mentalidade de Pais da Pátria.

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