Guaxupé, domingo, 28 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

AVENTUREIROS NÃO PODEM TER APOIO DAS NOSSAS FFAA

quinta-feira, 21 de julho de 2022
AVENTUREIROS NÃO PODEM TER APOIO DAS NOSSAS FFAA Foto: Divulgação

Políticos despreparados, indivíduos antidemocráticos e governantes oportunistas são nocivos à democracia. Pois, é um conjunto como esse que assumiu as rédeas do poder em nosso país a partir de 2019. Certamente que emergiu em meio a um turbilhão político pelo qual passava o Brasil, por isso mesmo favorecido pelo descontentamento da população e insuflado pelo ódio que nela foi injetado. Experimentado em questões políticas e sociais, não tinha eu a menor dúvida de que teríamos um período de governo fadado ao fracasso e a ser sucedido por outro diverso da sua ideologia extremista. Entretanto, em dados momentos, cheguei a temer que o fracasso estivesse nas minhas previsões.  Afinal de contas, a estratégia adotada pelo Governo Bolsonaro não foi aquela de políticos despreparados, mas, calculadamente, de oportunistas, ou seja de quem se serve de um determinado momento ou situação para tirar proveito disso. Da mesma maneira que do sofrimento, do descontentamento e da desilusão brotam seitas religiosas, desse mesmo conjunto nascem partidos políticos populistas e messiânicos. Ainda mais quando o Messias está integrado no próprio nome.
 
O estratagema montado pelo Governo Bolsonaro veio da sua vitoriosa campanha eleitoral: a sustentação em determinadas religiões, seitas religiosas e grupos elitistas e reacionários da nossa sociedade, afinados com o ideário político vencedor, atraindo os vacilantes e os sempre inconformados; e o aparelhamento do Governo por forças de segurança, mesmo que parte dessas estivessem aposentadas, porque no seu todo elas impõem a presunção de domínio do próprio Estado sobre a população civil desarmada. Bem diferente das críticas de aparelhamento do Governo pelo PT, cujos cargos ocupados eram mais ou menos os mesmos de hoje, preenchidos por simpatizantes do partido, ou seja, civis desarmados e não por militares teoricamente detentores do poder armado.  Por tudo isso que o Presidente Bolsonaro, desde a sua posse, jamais acenou no sentido de que fosse estabelecer um governo de união nacional. Nunca expressou que fosse um governo de todos os brasileiros, contrariando o que fizeram outros presidentes, ou que ainda fazem governadores e prefeitos na busca de uma unidade territorial. Pelo contrário, na sua obsessão autoritária e pretensamente ditatorial, o Presidente foi rompendo e expurgando forças que o apoiaram. Começou pelo Ministro Gustavo Bebianno, que era presidente do PSL e foi seu Coordenador na Campanha Eleitoral Presidencial. Bebianno não durou nem 2 meses como Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, demitido que foi por “incompreensões e questões mal entendidas”. Na campanha, Bebianno chegou a declarar, segundo matéria da BBC News Brasil, de 20/3/2020: “Hoje posso afirmar, de maneira hétero, que sou apaixonado por Jair Bolsonaro”.
 
A debandada do Governo consta de listagens diversas em jornais diversos. Por exemplo, o jornal direitista e antipetista de Curitiba, Gazeta do Povo, de 5/1/2020, publicou: “Dez ex-aliados que viraram desafetos de Jair Bolsonaro”, escrita pela jornalista Camila Abrão. Sobre o Ministro Bebianno, escreve ela que, em entrevista a esse jornal, ele justificou sua saída “única e exclusivamente por implicância do Carlos e do Eduardo”, que são filhos do Presidente em seu primeiro dos seus três casamentos, um Vereador no Rio, outro Deputado Federal paulista. Bebianno deixou o PSL e morreria de mal súbito em março de 2020, aos 56 anos, na sua terra, Teresópolis-RJ. Talvez o mesmo jornal não esperasse que, logo em abril seguinte, sua lista incluiria seu xodó, o ex-Juiz Federal Sérgio Moro, que abandonou o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública com menos de um ano e meio, desprestigiado e criticado pelo Presidente.
 
Os desafetos do primeiro ano de mandato do Presidente Bolsonaro incluem o Deputado Federal e empresário pernambucano, Luciano Bivar, que foi presidente do PSL até a fusão desse partido com o Democratas, que resultou no União Brasil, no qual continua presidente e é candidato à Presidência da República em 2022; a Deputada Federal Joice Hasselman (PSL/SP), afastada da liderança;  o Deputado Federal Alexandre Frota, que abandonou o PSL para integrar o PSDB/SP; o Deputado Federal Julian Lemos (PSL/PB), Coordenador de Campanha Eleitoral no Nordeste, que assim falou para a BBC News Brasil, em 30/DEZ/2019: “Eu era muito próximo dele (Bolsonaro) ... acho que o que foi feito comigo não foi correto”;  e o falecido Senador Major Olímpio (PSL/SP), ex-policial PMSP, que morreu de Covid-19 em 2021. Todos romperam com o Presidente embora continuassem a votar com o Governo na pauta de costumes e de liberalismo econômico. Na importância da listagem, dois ex-Governadores: Juiz Wilson WITSEL (PSC/RJ), do Rio de Janeiro, afastado do cargo pela Assembleia Legislativa fluminense por suposto envolvimento em corrupção; e João DÓRIA (PSDB/SP), de São Paulo, a quem, vulgar e desrespeitosamente, Bolsonaro trata como “calcinha apertada”. Nessa relação inicial não poderia ser omitida a ruptura com o GENERAL Carlos Alberto SANTOS CRUZ, que foi Ministro-Chefe da Secretaria de Governo, localizada muito perto do gabinete presidencial. O General foi alvo de críticas ideológicas por parte dos filhos de Bolsonaro, vindas do antigo e falecido guru Olavo de Carvalho. Depois disso, o General não poupou críticas a Bolsonaro, a cujo governo, segundo a citada BBC Brasil, referiu-se como “um festival de besteiras” e “nota 5 em habilidade política”.
 
Outro General rompido foi Otávio Rego Barros, Doutor em Ciências Militares, que foi o Porta-voz inicial do Governo Bolsonaro até ser exonerado em OUT/2020. Rêgo Barros tornou-se colunista do diário Correio Braziliense, em cujos artigos muito se refere ao Presidente Bolsonaro. Num deles, ele recorre a um livro de Luciano Huck, que cita um ancião indígena, da tribo americana “cherokee”, ensinando ao neto que dentro de nós existem dois lobos em luta: um maligno, ganancioso e covarde; e outro pacífico, honesto e confiável. O indiozinho pensa e pergunta qual lobo vai vencer? O avô, sorrindo, responde: vai vencer o lobo que você ficar alimentando. Também em artigo publicado no diário brasiliense, em 17 de março deste ano, o General Barros escreveu: “Me lembro bem em quem votei nas últimas eleições. Neles não voto mais”. O blog do Vicente / Correio Braziliense conclui: “Ou seja, não repetirá o voto em Bolsonaro”, causando revolta em militares bolsonaristas. 
 
Na lista do digital Poder 360, ainda aparecem como “desertores” do Governo, depois de 2 anos de mandato: (1) Rodrigo Maia, ex-Presidente da Câmara Federal pelo DEM/RJ, partido do qual foi expulso em 2021, indo ocupar cargo de Secretário de Ações Estratégicas no governo paulista de João Dória, filiando-se ao PSDB; (2) Deputado Luiz Mandetta, do então DEM/MS, demitido do cargo de Ministro da Saúde no início da Pandemia; (3) empresário Paulo Marinho (PSDB), apoiador da campanha de 2018; (4) Deputado Federal Kim Kataguiri (DEM/SP), 28 anos e líder do expressivo MBL – Movimento Brasil Livre – muito atuante no Golpe contra a Presidente Dilma; (5) Deputado Delegado Waldir (PSL/GO), ex-Líder do Governo na Câmara Federal; (6) Deputado Federal Luís Miranda, evangélico (DEM/DF), que fez denúncias na CPI da CoViD no Senado Federal;  Senador Jorge Kajuru (Podemos/GO); e outros.
 
Completamos essa listagem com o afastamento do General Fernando Azevedo e Silva como Ministro da Defesa, função que ocupou desde o começo do Governo Bolsonaro até 29/Março/2021, sendo a sua saída acompanhada dos Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, que se mantiveram solidários ao seu superior, mormente o Comandante do Exército, General Edson Pujol, que rejeitava o político Bolsonaro desde seus tempos de comando no sul do País. Pujol havia manifestado em discurso que “a Força é uma instituição de Estado brasileiro e não de Governos”.  Entretanto, tanto o General Pujol como o Almirante Ilques Barbosa e o Brigadeiro Antonio Carlos Moretti haviam, anteriormente, divulgado Nota Conjunta, encabeçada pelo Ministro Azevedo e Silva, afirmando a separação das Forças Armadas – FFAA – da Política, o que desagradou o Presidente Bolsonaro frente suas frequentes insinuações de associação de seu Governo com as FFAA. Essas lúcidas declarações deveriam nortear a tropa e seus oficiais, sendo mandamento constitucional insofismável. Da mesma maneira que dizem que os políticos e os servidores públicos em geral, e dos Três Poderes da República, têm os seus salários pagos com o dinheiro do povo, isto não é diferente para os militares, pois, não somente a população e o empresariado de direita paga impostos, mas, também centristas e esquerdistas.
Assim sendo, não é possível que a credibilidade das FFAA seja arranhada no apoio ao aventureirismo, porquanto o Presidente Bolsonaro, que fracassou e foi rechaçado em ocasiões golpistas anteriores, neste seu mandato presidencial, lança agora uma ofensiva final no mesmo sentido, não somente espalhando boatos e mentiras sobre a lisura das eleições brasileiras, mas, atacando rudemente os Ministros do TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Antevendo sua derrota nas próximas eleições de outubro, à maneira do norte-americano, Donald Trump, tenta tumultuar e achincalhar nossa Justiça Eleitoral, fingindo esquecer, de modo pitoresco e insensato que, tanto ele como seus filhos, têm ocupado sucessivos mandatos eletivos outorgados pelo povo através dos mesmos procedimentos – e cada vez mais vigiados e transparentes – dessa mesma Justiça, sem que, antes, houvessem denunciado que se beneficiaram de supostas fraudes eleitorais, em que pese o pleito de 2018 onde o bolsonarismo afirma que “ganhou direto no 1º turno”.
 
Convocar dezenas de embaixadores de países estrangeiros, acreditados junto ao Brasil, para comparecerem ao Palácio do Planalto a fim de disseminar tais acusações, sem provas concretas é desqualificar, iniquamente, o próprio Brasil e suas instituições, incorrendo em alguns tipos de crimes, segundo opinião de juristas. O ato foi tão vergonhoso que a Embaixada dos Estados Unidos da América cuidou de emitir Comunicado nesta 3ª feira, 19/7, depositando sua confiança no sistema eleitoral brasileiro e contrariando o denuncismo do Presidente Bolsonaro. Para que leitores desavisados não se coloquem do lado errado nesta questão, vou finalizar com a notícia publicada nas versões portuguesa e alemã da prestigiosa DW – Deutsche Welle – que pode ser acessada em: dw.com/pt-br/eleições-no-brasil-são-modelo-para-o-mundo-diz-embaixada-dos-eua/a-62536447. A DW publica trechos do Comunicado, divulgado no dia seguinte da Reunião com Embaixadores. “As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para o hemisfério e para o mundo [...] Os Estados Unidos da América confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O País tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores. [...] Washington está confiante de que as eleições de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado brasileiro”. A matéria da alemã DW ainda diz que: “Em maio, a agência de notícias Reuters revelou que o Diretor da CIA – Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos – disse a Ministros do Governo Brasileiro que o Presidente Jair Bolsonaro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema de votação do País.
 
A imprensa estrangeira repercutiu a palestra do Presidente Bolsonaro no Palácio do Planalto, comparando as atitudes do governante brasileiro ao comportamento do ex-Presidente americano D. Trump. No plano interno houve manifestações de censura de outros candidatos presidenciais como Lula, Ciro Gomes, Simone Tébet e André Janones, bem como da OAB, do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de diversas entidades civis, além de ‘notícia de ilícito eleitoral’ para a Procuradoria Geral da República, pressionando que Augusto Aras investigue o Presidente pelos crimes cometidos, até o de improbidade administrativa.        
       
 
                       
 

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