Guaxupé, segunda-feira, 29 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

CENÁRIOS DE FIM DE GOVERNO

quinta-feira, 7 de julho de 2022
CENÁRIOS DE FIM DE GOVERNO O Governo Bolsonaro chega ao seu fim, brigando com desespero pela sua improvável reeleição (Foto: Evaristo Sá/AFP)

Sentimentos de frustração e angústia me dominaram ao final do meu primeiro mandato de Prefeito de Muzambinho, exercido entre 1989 e 1992. Embora tivesse uma avaliação pessoal de que aquela gestão administrativa tenha sido cumprida com dinamismo e proficuidade, as ameaças e acusações vindas da oposição estremeciam minhas convicções. A derrota do candidato do nosso grupo à sucessão municipal aumentava o potencial revanchista. Naquela época não havia o instituto da reeleição. Afinal de contas, o poder político serve como escudo defensivo, deixando-nos vulneráveis sem ele. Porém, o motivo maior do meu inconformismo era a percepção do ódio que partia de determinados setores, tendo eu a convicção de que governara com urbanidade e pondo em prática o lema que adotamos: “construindo um município solidário”. Ao cabo de dois anos, venci processos e difamações, além de ter recebido uma vitória divina, elegendo-me deputado estadual mineiro.

Teci essas considerações iniciais a fim de que os leitores desta coluna, neste prestigioso semanário, percebam que tive uma ingrata experiência na minha primeira incursão político-administrativa. Mesmo com a presunção de que entendia de política desde a minha adolescência, o enfrentamento da realidade se deu com sacrifícios. Assim sendo, não foi por desconhecimento que muitas vezes aqui patrocinei a defesa dos governos de esquerda que exerceram o poder no Brasil, nas únicas vezes e oportunidades da História do Brasil, nos primeiros anos deste século. Nem foi por ignorância das dificuldades que poupei críticas mais ácidas e virulentas ao atual governo do Presidente Bolsonaro (PL/RJ). Se apreciamos e cultivamos a democracia, o bom senso e a concórdia devem sempre estar presentes.

Muitos retrucarão que defendi um governo ladrão. Responderei que não foi bem assim, porque, a despeito da enorme roubalheira havida durante o Governo Lula, na Petrobrás, tive a oportunidade de acompanhar todas as audiências do Mensalão, através da TV Justiça, em que 25 pessoas foram condenadas. O esquema foi denunciado em 2005 pelo Deputado Federal Roberto Jefferson (PTB/RJ), que afirmou que deputados do PMDB, PL, PP e do próprio PTB eram comprados por R$30 mil por mês para votarem a favor dos projetos do Governo Lula, portanto, sem querer justificar os malfeitos, em prol da governabilidade num ambiente de corrupção recorrente. Não se comprovou o envolvimento direto do Presidente Lula (PT/SP), mas, um dos condenados foi seu Ministro da Casa Civil, o então Deputado José Dirceu (PT/SP). O escândalo estourou em 2005 e foi julgado em Ação Penal que correu no STF – Supremo Tribunal Federal – entre 2012/14, sob a presidência do Ministro Joaquim Barbosa. Posteriormente, houve a maior operação investigativa da história brasileira, a Lava Jato, que correu pela 13ª Vara Federal de Curitiba-PR entre 17/3/2014 e 3/2/2021. Ela foi conduzida pelo Juiz Sérgio Moro, à frente de uma Força-Tarefa integrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Não podemos ignorar o lado positivo dessa Operação, que colocou na cadeia gente poderosa como o ex-Governador Sérgio Cabral (PMDB/RJ), o então Presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), parlamentares do PT e de outros partidos, donos de empreiteiras, sobretudo um familiar da sórdida corruptora nacional e internacional – a Odebrecht – e doleiros. De modo temporário e até discutível foram presos os ex-presidentes Lula da Silva e Michel Temer. Segundo matéria do jornal direitista e antipetista de Curitiba, Gazeta do Povo, de autoria de Tiago Cordeiro, publicada em 11 de maio de 2021, a Operação Lava Jato teve 79 fases, 195 denúncias, 244 ações penais, 1921 ações de busca e apreensão, 349 prisões preventivas e 211 prisões temporárias. A mesma matéria diz: “embora o Tribunal de Contas da União estime que os desvios havidos na Petrobrás foram de R$29 bilhões, a própria Petrobrás contabiliza as perdas em R$6,2 bi (seis bilhões e 200 milhões de reais)”. Finalmente a matéria ressalta que a Petrobrás recuperou, através da Justiça, R$5,3 bi (5 bilhões e300 milhões de reais). Além disso, o MPF – Ministério Público Federal – acertou o pagamento de R$2,1 bilhões de multas compensatórias e outros R$12,7 bilhões parcelados, através de acordos de leniência. A título de curiosidade reproduzo que R$1,6 bilhão do dinheiro recuperado foi usado no combate à Pandemia do Coronavírus, por decisão do STF, que, também designou outro bilhão para o MEC, que não recebeu o recurso “por não ter concluído projeto”. Outros ministérios receberam valores menores: Defesa, R$530 milhões para aplicação específica na Amazônia; Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações:R$250 milhões; Cidadania: R$250 mi; Mulher, Família e Direitos Humanos: R$250 milhões.

Disse eu no começo do parágrafo anterior que “não foi bem assim” que defendi governo ladrão, porque devemos ser norteados pela Justiça no que tange ao julgamento das ocorrências. Embora ataquem o ex-Presidente Lula com ferocidade a maioria das acusações a ele e sua família, feitas em redes sociais, nunca foram confirmadas, não obstante que a Lava Jato tenha virado a vida dele e de sua família do avesso, por meios legais e ilegais. Não passaram de “fake news” as denúncias levantadas de que a Família Lula tinha muito dinheiro em contas bancárias secretas, ou que possuíam extensas fazendas, ou que Lulinha era dono do Friboi e possuía um automóvel Ferrari banhado a ouro.  Lula foi condenado em artimanhas político-judiciais no caso de um apartamento Triplex no Guarujá-SP, que nunca foi dele, e por merrecas de reformas num sítio em Atibaia-SP. O STF declarou nulos os processos dele em Curitiba e o Juiz Moro declarado parcial.

Quase que na mesma frase que citei Lula, fiz o mesmo em relação ao atual Presidente Bolsonaro, afirmando que nos meus escritos sempre o “o poupei de críticas mais ácidas e virulentas”. Certamente que os arquivos deste jornal, que guardam as minhas publicações, demonstram que minha oposição ideológica ferrenha ao Presidente Bolsonaro residem na defesa da democracia e na vigilância contra a tendência golpista e ditatorial que marcaram o governo dele. Mormente pelo seu incentivo pessoal, e para seus aliados, em manifestações e atos antidemocráticos, principalmente em duas oportunidades, nas quais registrei em artigos: 06/3/2020, Os Objetivos e Contradições nas Manifestações de 15 de Março; em 5/9/2021, A Corda Esticada nos Limites; e em 11/9/2021, Depois do 199º Aniversário da Independência do Brasil. Nenhuma análise isentará o Presidente Bolsonaro de sua sanha golpista. Até pelo simples fato de que ele nunca tenha se expressado como um Presidente de todos os brasileiros. Frase equivalente a esta é sobejamente empregada por prefeitos, governadores e presidentes no exercício dos seus mandatos. Pelo contrário, Bolsonaro disse que o Regime Militar que governou o Brasil deveria ter exterminado uns 30 mil, não apenas poucas centenas de comunistas, além de criar a ilusão de que sua vitória livrou o Brasil do socialismo. Esta ideologia nunca aqui esteve implantada, muito menos nos governos do PT, que foram fiéis à nossa Constituição.

Porém, o Governo Bolsonaro chega ao seu fim, brigando com desespero pela sua improvável reeleição. Na ânsia por este objetivo, uma criação nefasta do Governo FHC, o discurso do bolsonarismo pela Nova Política já afundou na lama nessa união com o velhaco Centrão. Mas, tudo está sendo tentado. Um novo “pacote de bondades” tenta contornar as dificuldades da população, parte dela agora, estatisticamente, jogada de volta no mapa da fome. Nesse pacote se invade o Orçamento dos Estados, se dá uma mísera ajuda para a compra do gás de cozinha, se arranja uma cota de ajuda para os caminhoneiros autônomos, se aumenta o Auxílio Brasil em mais duzentos reais. PORÉM, tudo descarada e provisoriamente até dezembro deste ano. Eleitoreiramente para se ganhar votos nas eleições. Muito pior, burlando a lei que proíbe a oferta de vantagens em época de eleições. Mas o Centrão arranjou um jeito para burlar a lei – a estapafúrdia decretação de Emergência Nacional em razão da perda de controle da Economia, principalmente a inflação, usando de quebra a Guerra da Ucrânia. Curioso que vi no último programa Canal Livre, da Band TV, o atual Presidente do SEBRAE refutar de que nada há de eleitoreiro. Certamente porque viu ele que toda a Oposição, inclusive parlamentares aliados de Lula e Ciro Gomes, votaram a favor dessas medidas. Porém, por pena do povo. Mesmo que o governo esperasse o voto contrário deles para tirar duplo proveito em cima do assunto.              
 
       

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