Guaxupé, sexta-feira, 26 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

O Brasil se rebela a favor da vacina contra a Covid-19

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
O Brasil se rebela a favor da vacina contra a Covid-19 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Setores científicos, profissionais de saúde e políticos brasileiros, além da nossa grande mídia, têm feito críticas ao atual Presidente da República, Jair Bolsonaro, diante do comportamento presidencial em face à Pandemia COVID-19, causada pelo vírus denominado de SARS-CoV-2, que se alastrou pelo nosso país nos últimos nove meses. Segundo a página oficial do nosso Ministério da Saúde, a Coronavírus // Brasil, localizada no sítio eletrônico: covid.saude.gov.br, na madrugada desta 5ª feira, 17, que antecede o fechamento da edição semanal deste jornal, o Brasil contabiliza: 7.040.608 de pessoas comprovadamente infectadas desde o começo da epidemia, sendo 6.132.683 o número de doentes com a saúde recuperada, além de 724.190 em fase de acompanhamento. As mortes confirmadas nesse mesmo período de meses, através do mesmo painel, são de 183.735 pessoas, que significam 87,4 para cada 100.000 habitantes, resumindo-se numa Taxa de Letalidade de 2,6%, isto é, a cada 100 pessoas que pegam a doença, morrem 2,6 em média. No mundo, as mortes são 1.630.521, das quais 500 mil na Europa e quase 800 mil nas três Américas.
Temos lido e ouvido que trata-se de um micróbio surpreendente, cujo comportamento não se enquadra como seus demais parentes englobados como vírus gripais, que se desenvolveriam mais nos climas frios e menos nos quentes. Não é isso que se tem observado na Europa, na América do Norte e na América do Sul, faça frio ou faça calor, só para exemplificar regiões que nos são mais familiares. Há doenças contagiosas que matam mais. Entretanto, a Covid-19 tem alta transmissibilidade e vai ceifando vidas, porque as pessoas não estão nem aí para a doença e as suas estatísticas, continuando céticas, irresponsáveis, negligentes, festeiras e debochadas. Como me disse um mecânico de automóveis, ontem, por telefone: "são mesmo uns filhos da p...", porque transitam, se aglomeram, relegam o uso de máscaras, pouco se importando com advertências e acontecimentos. Naturalmente que uns lutam pela sua sobrevivência econômica e da sua família, precisam encarar as dificuldades da vida, seja no trabalho ou no transporte público, com realidade e destemor.  Mas, têm outros que se divertem em bares, botequins, nos grandes comércios,  como bem lembrou o meu mecânico, que, ao ignorarem a Covid, ignoram que podem levar a morte para gente mais vulnerável da sua própria família. Mais do que isso, deixam de pensar no sacrifício e riscos dos profissionais da saúde, os quais estão nos últimos limites de suas condições físicas e mentais, além de milhares deles que morreram no Brasil e no Mundo.  Faz meses que eles lutam, profissionalmente,  pela vida dos outros, por vidas para eles desconhecidas, mas a quem somente eles, no meio das batalhas cuidam, confortam e dão alento para os que estão em quase total isolamento nos leitos hospitalares ou nos boxes dos centros de tratamento intensivo.
No entanto, ainda tem gente pior e alheia a toda esta situação: gente de posses materiais, tão somente preocupada com os seus negócios, com a economia da sua cidade ou do seu país. Gente incapaz de raciocinar e de enxergar que foi todo o nosso planeta que desacelerou diante desta Pandemia, que chegou a parar, como pararam as efervescentes Nova York, Londres e Milão. O tombo veio prá todo mundo. Certamente que os mais ricos suportam por mais tempo a quebradeira, embora não suportem a Covid tanto quanto qualquer outro dos grupos de risco. No entanto, cabe ao Estado, principalmente na nossa visão socialista, socorrer os despossuídos, os remediados, os pequenos empresários, como o Governo brasileiro tem feito com o Auxílio Emergencial - e que até os Estados Unidos da América e Europa têm feito. 
Se o caro leitor está indiferente a todos esses apelos. Se ainda não teve ou não se contentou pela perda de um parente ou amigo vitimado pela Covid-19, vou listar alguns famosos ou importantes que morreram em 2020 por essa nova e traiçoeira doença. Vamos lá. José Paulo de Andrade, 78 anos, conhecido jornalista da Rede Band; Carlos Lessa, 83, economista e ex-Presidente do BNDES; Caio Nárcio, deputado federal do PSDB mineiro, 33 anos, que tripudiou sobre a Presidente Dilma ao proferir seu voto a favor do processo de cassação dela; Parrerito, irmão do Barrerito, 67 anos, sertanejo do Trio Parada Dura; Daisy Lucid, 90, radialista, atriz e deputada federal do Rio; Daniel Azulay, 72, desenhista, artista plástico e escritor; José Mentor, 71, advogado, deputado federal e um dos fundadores do PT; Senador Arolde de Oliveira, do PSD/RJ, proprietário de rede de comunicação evangélica; Fabiana Anastácio, 45, pastora evangélica e cantora gospel; Evaldo Gouveia, 91, compositor e cantor; Wilson Braga, 88, ex-prefeito de João Pessoa, deputado federal e ex-governador da Paraíba; Aldir Blanc, 73, compositor, famoso pela música O Bêbado e o Equilibrista; Ciro Pessoa, 62, componente da 1ª formação da Banda Titãs; Paulinho, 68, vocalista da Banda Roupa Nova; Orlando Duarte, 88, famoso comentarista esportivo e escritor; Marcelo Veiga, 56, jogador e técnico de futebol; Rodrigo Rodrigues, 45, comentarista esportivo do SporTV.
Dizíamos no início das críticas ao Presidente Bolsonaro. Elas estão hoje nas ruas, nos jornais, nos noticiários de rádios e TVs, principalmente nas redes sociais. No último domingo, 13, o conceituado diário paulistano, Folha de S. Paulo, entrou diretamente no cerne da postura política do atual governo federal, no que tange à vacinação dos brasileiros contra a Covid-19, responsabilizando-o por atrasos na compra de vacinas, de vetos políticos-ideológicos a algumas delas, inclusive na questão de taxação de seringas descartáveis chinesas, um equipamento em falta no nosso país para um programa tão massivo.  Todos sabemos que algumas vacinas já estão sendo aplicadas, sob forma de autorização emergencial, em alguns países ocidentais. Isto teve início no Reino Unido, com a adoção da vacina da farmacêutica Pfizer em parceria com a alemã BioNTech. Na mesma linha, este tipo de vacinação seguiu para os Estados Unidos da América e também acaba de receber autorização de órgão sanitário do Canadá. A Rússia também já está imunizando a sua população com a Sputnik V, enquanto a China o faz com a Coronavac, cujo laboratório Sinovac tem sólida parceria com o Instituto Butantan, pertencente ao governo paulista. A bem da verdade, o Butantan construiu em tempo recorde um grande complexo industrial para a produção da Coronavac, e somente nesta primeira semana de produção fabricou um milhão de doses da mesma. Porém, lá atrás, Jair Bolsonaro, havia desautorizado o Ministro da Saúde, General Pazuello, a comprar "vacina chinesa do Butantã". Por todas essas razões a Folha de S. Paulo fulminou o governo no domingo com o Editorial 'Vacinação Já'. Pinçamos partes do texto: "passou de todos os limites a estupidez assassina do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus [...] é hora de deixar de lado a irresponsabilidade delinquente, de ao menos fingir capacidade e maturidade para liderar a nação de 212 milhões de habitantes num momento dramático da sua trajetória coletiva [...] chega de molecagens com a vacina [...] cruzada irresponsável contra o governador João Dória esbulhou a confiança dos brasileiros na vacina (chinesa) [...] Não faltarão meios jurídicos e políticos de obrigar Jair Bolsonaro e seu círculo de patifes a adquirir, produzir e distribuir a máxima quantidade de vacinas eficazes no menor prazo temporal". O editorial é muito contundente, usando termos fortes como "descaso homicida", "sabotador", "genocida" e "fantoche apalermado", neste caso em referência ao Ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello.
Todos sabem da minha convicta posição contra o Governo Bolsonaro, certamente de que como pedetista votei em Ciro Gomes, e como esquerdista fui Hadad/PT no 2º turno. Entretanto tal posição preliminar, não me dá o direito de pregar "Fora Bolsonaro" nem de responsabilizá-lo pelas mortes causadas pela epidemia do SARS-CoV-2 / CCOVID-19. Houve um período inicial do atual governo em que temi pela sua inclinação em promover um auto-golpe, pois, Jair Bolsonaro nunca escondeu suas preferências autoritárias. Bem que ele tentou, trocando a ocupação petista de cargos no Governo pela ocupação militar e policial, numa tentativa de acercar-se da simpatia das Forças Armadas, e demais forças de segurança,  consequentemente do seu apoio, numa perspectiva de Golpe.  Bem que ele tentou, incitando sua horda fanática e malévola a ir para as ruas, pedindo "intervenção militar", pregando "Fora Maia", até "Fora Alcolumbre", e, descaradamente, incitando a violência contra uma instituição que, queiramos ou não, tem papel fundamental na defesa da Constituição Federal, que é o STF - Supremo Tribunal Federal. Seus balões de ensaio foram desastrados, pois, acabou a sua facção extremista de direita isolada pela própria direita de Witsel, de Dória, de Maia, além dos órgãos de comunicação que, inadequada e ridiculamente, são chamados de "comunistas" pelos bolsonaristas, como rotulam o Grupo Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, numa demonstração do maior desconhecimento político e ideológico dessa gente despreparada. Se bem observassem, perceberiam que foram essas mesmas pessoas, os mesmos grupamentos políticos e a mídia empresarial os incitadores e responsáveis pelos movimentos de rua desde 2013, que culminaram no Golpe Parlamentar e Judicial contra a legítima Presidente Dilma Rousseff, bem como nas armações do Judiciário com o fito das arbitrárias condenações do ex-Presidente Lula. Não podemos combater o golpismo, pregando golpismo. Não queiramos revidar o mal praticado contra Dilma e contra a Democracia, repetindo o mesmo processo contra Jair Bolsonaro. Nem queiramos responsabilizar o Presidente pelas mortes da Covid-19,, porque nenhum governante mundial, nem cientistas, nem médicos foram capazes de lidar com a Doença do Corona Vírus como algo conhecido ou de prever sua disseminação mundial pandêmica e suas funestas consequências. Assim sendo, entendo como desproporcional os ataques editoriais da Folha.
Talvez mais veemente deveria ter sido a Grande Imprensa na crítica ao Presidente no intuito que ele teve de armar a população que lhe apoia, com o incentivo proposto pelo Governo, através da CAMEX - Câmara de Comércio Exterior - de zerar a tributação de 20%, que recai sobre revólveres e pistolas importados, a partir do próximo dia 1º de janeiro. Monocraticamente, essa decisão foi derrubada pelo Ministro Edson Fachin, do STF, em resposta a uma ação do PSB - Partido Socialista Brasileiro - pedindo a anulação da medida da CAMEX. Posteriormente, essa decisão será apreciada em plenário,  quando a Côrte assim entender. Na sua sábia decisão o Ministro explicitou que "a segurança dos cidadãos deve ser feita primeiramente pelo Estado e não pelos indivíduos".
Voltando às vacinas contra a Covid-19, curioso é lembrar que em novembro de 1904, no Governo de Rodrigues Alves, o Rio de Janeiro, com 800 mil habitantes e então Capital da República, vivia um caos sanitário, com a presença de doenças como a tuberculose, a febre amarela, a varíola e a peste bubônica. O afamado médico sanitarista Oswaldo Cruz foi convocado pelo Presidente para gerir um Programa de Saúde, que envolvia não somente a vacinação contra a varíola, mas a erradicação dos mosquitos transmissores da febre amarela, além de dar fim em velhos casarios, que eram verdadeiros criatórios de ratos, que parasitados por pulgas, que os picavam, depois aos humanos, assim transmitindo a peste bubônica. A vacinação contra a varíola era obrigatória desde o Império, mas nunca foi posta em prática como fez Oswaldo Cruz. Corriam boatos que a vacina contra a varíola era feita de pus das bolhas da doença em bovinos e que quem a recebesse poderia adquirir feições desses animais. Mas a revolta tinha muito mais ingredientes: os exércitos de caça-mosquitos ou mesmo a derrubada de velhos casarões para o extermínio de ratos, afetava muito mais aos pobres, que viam suas casas serem invadidas pelo autoritarismo do Governo, ou mesmo, os fariam mudar para morros ou lugares mais distantes. A isso se somavam os republicanos insatisfeitos com a elite cafeeira, da qual Rodrigues Alves fazia parte, além de monarquistas que tentavam se reorganizar. Entretanto o episódio daqueles dias de Novembro de 1904 ficou conhecido como a Revolta da Vacina, no qual 30 pessoas morreram nos confrontos, centenas se feriram e o Governo deportou umas 400 pessoas lá para os cafundós do então Território Federal do Acre. Mais de 100 anos depois, nestes tempos de Pandemia, os conflitos se dão em favor das vacinas, que o Governo Bolsonaro hesita, aliás hesitava até ontem, quando numa concorrida reunião palaciana foi apresentado um Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19. Tradição e competência em vacinas o Brasil tem. Falta pacificar os conflitos entre a Extrema-Direita no Poder e a Direita moderada, mas sempre golpista na nossa História. Enquanto isso, a Esquerda, perdedora das eleições trama nos bastidores.
 

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