Guaxupé, segunda-feira, 29 de abril de 2024
João Júlio da Silva
João Júlio da Silva PAPOENTRELINHAS João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé. Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com

Agitada confraria dos ratos

sábado, 24 de outubro de 2020
Agitada confraria dos ratos

A máxima de que um governo democrático deve ser do povo, para o povo e pelo povo não diz muita coisa por estas terras tupiniquins, pois os muitos “politicanalhas”, que se locupletam no privado com o que é público, seguem uma norma particular de poder: do meu, para o meu e pelo meu bem-estar (deles, lógico). 
Pela imundície que só aumenta no antro da politicagem rasteira, onde um fio de bigode ou a barba toda não vale absolutamente nada, seja qual for o seu dono e que cargo ocupe, me veio à mente uma pequena história que pode ilustrar bem a postura dos digníssimos representantes do povo. 
Na realidade, trata-se de uma fábula, que nada mais é do que uma narrativa cujos personagens são animais e que traz uma reflexão acerca dos valores humanos. 
Pois foram os valores humanos que me fizeram lembrar a fábula "A reunião dos Ratos" ou "A reunião geral dos ratos", que é atribuída a Esopo e recontada por La Fontaine. 
A história relata que uma vez os ratos, mesmo aprontando as suas ratonices, estavam cansados de viver com medo de um gato, resolveram fazer uma reunião para encontrar um jeito de acabar com aquele transtorno. Durante a sessão, em que discutiriam o que fazer em relação às constantes perseguições do felino, muitos planos foram discutidos e abandonados. Depois de muita discussão, a agitada confraria dos ratos chegou à conclusão de que seria impossível acabar com o poderoso gato. 
Quando o desalento já tomava conta do recinto, um jovem rato se levantou e deu a ideia de pendurar uma sineta, um chocalho ou guizo, no pescoço do gato. Assim, toda vez que o gato se aproximasse, eles ouviriam a sineta e fugiriam correndo. Seria uma forma de conviver com a fera de maneira prudente. Toda a rataria aplaudiu, o problema estava resolvido. Vendo toda aquela balburdia, um rato já idoso e experiente, que tinha ficado o tempo todo calado durante a discussão em plenário, se levantou e falou que o plano era muito inteligente, e que colocado em prática, acabaria com aquele grande problema. Mas, porém, faltava decidir algo essencial para o sucesso da iniciativa: quem seria o corajoso que iria pendurar a sineta no pescoço do gato? 
Com certeza, aquilo era perturbador, o silêncio foi geral e os ratos tiveram que conviver com o perigo constante da presença do gato. 
Como toda fábula tem uma moral, nesta história fica claro que falar é uma coisa, fazer é outra. E que não basta apenas ter ideias e planos, mas a execução é fundamental para se atingir os objetivos. 
E os ratos, ariscos, continuam fugindo do gato, correm de um lado para outro, aprontando das suas ratices, o que é bem peculiar de toda a irmandade ratoneira. 
E contra esse balaio de gato e ratos, onde fios de bigodes se entrelaçam num emaranhado de mentiras e verdades, que o povo saiba, na hora exata, com justiça, fazer barba, bigode e cabelo com o seu voto.

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