Animais agressivos: qual a solução?
domingo, 23 de abril de 2023
Imagem: Divulgação
Os cães são animais mamíferos muito próximos de nós, humanos. Desde que o homem decidiu viver em sociedade tinha um cachorro nos seus pés, protegendo, pastoreando o gado ou fazendo companhia. Mas, entra ano sai ano, a sociedade vai mudando, crescendo, os interesses vão mudando e o cachorro acompanhou todas essas mudanças. Como nem sempre tudo está sob nosso controle, com os cães não é diferente. Em todo o país encontramos um número muito grande de cachorros que vivem nas ruas, mesmo com o incentivo às castrações feito pelas prefeituras e ONGs, com castrações gratuitas e com desconto, parece que essa situação difícil não tem fim.
Os cães são muito sensíveis, têm um faro muito apurado, mas então porque será que eles atacam as pessoas? O que será que acontece com eles?
Diversas são as causas que levam os animais a se tornarem agressivos e sempre devem ser avaliados caso a caso por um médico veterinário com expertise em comportamento animal. Entre as causas podemos citar:
Separar os filhotes da mãe antes da hora, porque como eles são animais gregários (que vivem em grupos), o grupo e, principalmente, a mãe, são os primeiros a "corrigirem" os cães para deixá-los mais sociáveis. Sem a mãe, eles perdem a correção e se tornam mais valentes;
A falta de alimento e carinho. Quem não se lembra de algum cão da vizinhança que era dócil e, ao ser acorrentado ou ao passar fome, mudou de comportamento e tornou-se agressivo? Muitos cães mordem por medo de perder o pouco que têm e não podemos esquecer que são animais sociáveis, gostam do contato humano;
Desrespeitar o território deles. Os cães têm diversas formas de marcar o território, a urina é uma delas, outra é a mordida e os latidos. Então, se um cão estranho chega em um território de domínio de outro cão, ele não vai tentar ser o dominante se não tiver condições e necessidade para isso. Os humanos também podem concorrer contra a dominância destes locais que os cachorros elegeram como deles e estão guardando. É onde acontecem os ataques com mordidas e vocalização (latidos);
Uma fêmea em fase reprodutiva deixa os cachorros agitados e agressivos. O instinto nesse caso fala mais alto, eles só querem acasalar com a fêmea e, o que tentar tirar a atenção deles do foco, eles tendem a atacar.
Muitos criticam o fato de os protetores e pessoas que gostam de animais tratarem dos animais nas ruas. Mas, este não é o motivo de os cães se tornarem agressivos e isto, inclusive, é permitido pela Lei Ambiental de Minas Gerais. A Lei Estadual nº 21970/2016 permite que os cães e gatos sejam alimentados nas ruas e também que sejam colocadas casinhas para eles se abrigarem.
Muitos falam: vocês só gostam de animais? O que fazemos com as pessoas que foram mordidas?
As pessoas sempre vêm em primeiro lugar, segundo a lei, mas não podemos ir contra as diretrizes de bem estar animal, pois os animais também são seres sensíveis. Então basta separar as coisas. Essas pessoas precisam passar pelo atendimento médico e também receber um protocolo vacinal chamado de pós-exposição para o vírus da Raiva e os animais precisam ser observados. Pedimos ainda para que as pessoas que forem mordidas por um animal em situação de abandono, que prestem queixa à Polícia Ambiental (3559-1167/Horário de Atendimento - das 7h00 as 17h00, Ou WhatsApp: 99710-0349), para haver uma contabilização destes casos. Pois é em cima destes dados epidemiológicos que as possíveis soluções serão tomadas pela prefeitura - se ela não conhecer tais casos, não vai conseguir tomar atitudes para melhorar a situação. Infelizmente, nas políticas de saúde pública, o problema precisa surgir para então ser resolvido.
E a questão legal, como fica?
Se você quer saber mais como está regulamentada a Proteção Animal em Minas Gerais, estude a Lei Estadual nº 21970, de 15/01/2016. Ela diz o seguinte sobre os cães "infratores":
"O cão ou gato comunitário recolhidos deverão ser castrados, identificados e devolvidos ao local de origem pelo órgão competente." Mas, para que essa lei seja cumprida é sempre necessário que os animais sejam acolhidos em lar temporário por pelo menos 7 dias após a castração cirúrgica, que geralmente é financiada pela prefeitura. E é aí que precisamos de ajuda para resolver essa situação, pois só conseguimos castrar à medida que a população acolhe estes animais, oferecendo lar temporário. E acredite, a maioria dos cães deixa de ser agressivo ao ter uma família, atenção e comida à vontade. Em casa mesmo temos um cão agressivo que foi adotado e tornou-se manso e dócil com os humanos e com outros animais.
É recomendado o sacrifício de animais agressivos?
Não. A lei encara isso como um crime ambiental, os animais bravos devem ser adestrados e doados, o caminho chama-se RESSOCIALIZAÇÃO. O primeiro passo é a castração, ela é a melhor aliada, pois diminui o interesse dos machos pelas brigas, diminui as disputas pelas fêmeas e reduz também a marcação do território. Em seguida vem o adestramento e, depois, a disponibilização do animal para a adoção.
Hoje um dos órgãos que atua nessa causa e que busca resolver tais situações e tem um convênio firmado com a prefeitura de Guaxupé é a Coordenadoria Estadual de Defesa dos Animais (CEDA), que também recebe denúncias da população insatisfeita, que envolva os animais agressivos. Eles atendem no telefone (31) 3330-9911 e no e-mail ceda@mpmg.mp.br.
A lei 21970 surgiu a partir de estudos de especialistas, onde se descobriu que se este caminho fosse seguido, ou seja, castração e devolução a longo prazo haveria uma redução dos animais nas ruas. Mas, precisa ser um processo contínuo. Porque os animais de hoje passarão a sua vida toda na rua, morrerão e, com a castração em massa, não serão substituídos.
Mas, porque não castram todos os animais da rua? Cada cão, para ser castrado, precisa do lar temporário para cuidar da cirurgia, o que é difícil de encontrar. Mas, porque não tem canil? Rs, isso é conversa para uma outra matéria, vamos ver primeiro o que fazer com os cães bravos?
Abraço,
Dr. Helbert
