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Cultura

Apaixonado pelo conhecimento, o professor e escritor guaxupeano Renato Veroneze acaba de lançar o seu segundo livro: Debates Contemporâneos do Serviço Social

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
Apaixonado pelo conhecimento, o professor e escritor guaxupeano Renato Veroneze acaba de lançar o seu segundo livro: Debates Contemporâneos do Serviço Social O professor e escritor guaxupeano Renato Veroneze, que acaba de lançar o seu segundo livro (Fotos: Arquivo Pessoal)

Lançando o seu segundo livro e prestes a publicar o terceiro, Renato vai se consolidando como escritor, sendo considerado uma referência latino-americana em Agnes Heller, filósofa Húngara


1. Jornal da Região: Renato, fale do seu trabalho e da sua paixão pela Assistência Social.

Renato: Olá Paulina, primeiramente, gostaria de agradecer a você, a Aline e a toda equipe do Jornal da Região pela amizade, pela oportunidade de espaço e pelo carinho que recebo de todos vocês. Bom, hoje estou fazendo o meu pós-doutorado em Serviço Social na PUC-SP. Me formei aqui, no UNIFEG, em 2007, em Serviço Social, portanto, sou assistente social, mas me dediquei ao conhecimento, ao estudo, à pesquisa e, principalmente, à docência. Em 2009 fiz minha primeira pós-graduação em Educação, Metodologia e Didática do Ensino Superior, no UNIFEG, em 2011, minha segunda pós em Desafios da Filosofia Contemporânea, na PUC de Poços de Caldas, logo, em 2012, já ingressei no Mestrado em Serviço Social na PUC-SP e em 2014 no Doutorado. Em 2019, por meio de um processo seletivo, entrei no pós-doc e o ano passado iniciei uma terceira pós-graduação em Educação pela PUC-RS. Como você pode perceber, minha paixão é pelo conhecimento. Sempre estou com um livro nas mãos – às vezes, até mais de um (risos) -, essa é uma paixão que vem desde criança. Por isso, tenho me dedicado à produção do conhecimento em Serviço Social. Amo dar aulas, amo ensinar, trocar conhecimentos, amo aprender. Nos últimos 10 anos me dediquei a isso, aprender sobre o Serviço Social, não só sobre a Assistência Social enquanto política pública, mas o Serviço Social como um todo. Estive o tempo todo estudando, lendo, viajando, conhecendo realidades diferentes, pessoas, profissionais diferentes, dando cursos, aulas, publicando, trabalhando em diversas frentes, mas acima de tudo aprendendo. Hoje, temos uma Política de Assistência Social consolidada no Brasil, mas, infelizmente, acredito que, como toda política pública, não tem recebido a devida atenção, mas, para mim, a Educação, e porque não dizer, a Cultura, é o que faz a diferença. Então, é por isso que tenho me dedicado tanto a esta área, porque acredito que podemos mudar a nossa realidade por meio da Educação. 

2. Jornal da Região: Como e por que surgiu o interesse em escrever assuntos atinentes a esta área?
 
Renato: Como disse, as Políticas Públicas têm passado por desmontes ininterruptos por parte dos governos, principalmente o federal, e a Educação é uma área muito precarizada, assim como a formação em Serviço Social. Hoje, o pensamento é muito instrumental. Muito das vezes, o aluno é formado para passar no vestibular, no cursinho, no concurso, mas se esquece da verdadeira formação, a formação do cidadão/ã, do ser humano, da dignidade, da criticidade, de formar o sujeito para a vida. Eu tenho esta preocupação, por isso, busco colocar minhas ideias, minhas esperanças, minhas utopias, meus sonhos, em meus escritos. As pessoas podem pensar que meus escritos são técnicos ou voltados somente para o Serviço Social ou para a Assistência Social, mas, ao lerem, irão perceber que tem muito do humano, do ético, do moral. Essa é a minha grande motivação. Os valores humanos são premissas da nossa profissão, por isso, dou esta ênfase em meus escritos, mas também, porque somos humanos, contudo, a sociedade nos transforma em “coisas”, carregados de rótulos, e eu tento desconstruir isso. 
 
3. Jornal da Região: Quantos livros você já tem publicado, qual será publicado e como você consegue produzir tanto material nesta vida agitada e cheia de compromissos?
 
Renato: Tenho dois livros de minha autoria publicados pela InterSaberes, uma editora de Curitiba: Pesquisa em Serviço Social: dimensão constitutiva do trabalho do Serviço Social – que tem sido utilizado muito na formação de pesquisadores em Serviço Social; e, saindo do forno, Debates Contemporâneos do Serviço Social, ambos encomendados pela editora. Este livro ficou extenso, com mais de 400 páginas, mas acredito que ficou muito legal, pois trago alguns debates da nossa profissão. Está saindo, também, um artigo meu numa coletânea (Temas Contemporâneos no processo de trabalho do Serviço Social), organizada pela UNIPAC, em BH, e um artigo na Revista Katálysis, da Universidade Federal de Santa Catariana, que compõem o resultado de uma pequena pesquisa que realizei em 2020. E, estou prestes a publicar o meu terceiro livro pela EDUC, este é um livro que estou querendo publicar e trabalhando nele há muito tempo, e, agora, chegou a oportunidade. Tenho uma reunião marcada para o dia 25 próximo com a editora para discutirmos a sua publicação e os ajustes necessários. Não posso dizer ainda o título, mas é o livro que coroa as minhas pesquisas nestes últimos anos, e, de certo modo, é um livro inédito sobre Agnes Heller, filósofa húngara recém falecida, e que tenho pesquisado nestes últimos 10 anos. Fora isso, tenho muitos capítulos e artigos de livros publicados. Em geral, são 4 ou 5 publicações ao ano. Minha querida professora e orientadora, Maria Lúcia Martinelli, da PUC-SP, dizia que eu não escrevia, psicografava. Talvez ela tenha razão (risos), mas, enfim, tenho facilidade com a escrita acadêmica. Capítulos de coletâneas de livros, creio ter uns 8, também tenho alguns artigos publicados na Argentina, na Bolívia e na Colômbia. Acabei sendo considerado uma referência latina–americana em Agnes Heller, título que me deixou muito feliz. Muitos artigos estão disponíveis na internet, é só pesquisar no Google que irão ter acesso. Mas, mesmo com esta vasta produção, não descuido dos meus afazeres e da minha vida particular. Não sou de sair muito e escrever exige silêncio e dedicação. Apesar da minha vida ser muito conturbada, é a noite, na maioria das vezes, que encontro os melhores momentos. Quem me conhece sabe que eu não paro, sempre estou fazendo alguma coisa, creio que isso faz parte da minha personalidade. Mas eu acredito que quando a gente quer fazer algo, a gente faz, mesmo que, às vezes, as coisas não saem como realmente gostaríamos. A vontade é sempre a nossa melhor motivação, lógico que temos que ter as condições objetivas, mas quando temos vontade firma, a gente dá um jeito. Como sempre digo, “a gente peleja”. 
 
4. Jornal da Região: Como você tem encarado a pandemia: ela ainda irá longe no seu ponto de vista?
 
Renato: A pandemia, para mim, veio como um momento muito importante, porque a natureza precisava de um tempo para se recuperar dos estragos que temos feito. Lógico que é um momento trágico, de grande sofrimento, mas, infelizmente, se não aprendemos pelo amor, acabamos aprendendo pela dor. Este é um grande ensinamento. Como tudo na vida, a pandemia veio para nos educar, infelizmente da pior forma possível. Eu acredito que vai demorar muito ainda para as coisas voltarem ao normal – se é que vão voltar. Infelizmente, temos vivido tempos obscuros por conta do irracionalismo e por não pensarmos que podemos ter uma sociedade melhor. Até queremos, mas lutamos muito pouco para que isso aconteça. Aqui em casa, graças a Deus, estamos passando por este momento com otimismo e segurança. Aproveitei o momento de enclausuramento para escrever, pesquisar e ficar um pouco recluso. Não parei um minuto e também não fiquei neurótico. Tudo seguiu o seu curso natural. Tenho muita fé, mas não descuido das minhas responsabilidades e cuidados. Acredito que a proteção espiritual seja fundamental, e, aqui, não estou me referindo a crenças, mas a religiosidade. Então, posso dizer que, para mim, o que mudou foi o modo de enxergar a vida, aliás, confirmou o que eu já acreditava: a qualquer momento, tudo pode se desmanchar no ar, como já dizia um grande pensador. Portanto, temos que ter sabedoria para viver, assim, evitamos a maioria dos nossos sofrimentos. Quem aproveitou a pandemia para aprimorar o seu conhecimento, lendo, fazendo cursos online, se instruindo, seja em que área for, com certeza, irá sair deste período com maior sabedoria. 
 
5. Jornal da Região: Para você, a pandemia está conseguindo mudar as pessoas para melhor ou nada disso aconteceu?
 
Renato: Olha, eu acredito que muita coisa mudou, mas as pessoas ainda não conseguiram se melhorar como deviam. Esta é uma pergunta difícil, e, talvez, só no futuro saberemos a resposta. Eu, sinceramente, espero que sim. Espero de coração que as pessoas aprenderam a olhar a vida de outra forma. A serem mais desapegadas das coisas materiais, a serem menos consumistas, a respeitarem mais a natureza, a vida, espero que tenham aprendido a valorizar mais as pessoas que estão ao seu redor, não só os familiares, mas principalmente os amigos, vizinhos, conhecidos, ou mesmo os desvalidos... A solidão é muito triste, precisamos uns dos outros. Mas, principalmente, eu espero que isso tenha ajudado as pessoas a serem menos irracionais...

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