Guaxupé, domingo, 28 de abril de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Burrice satânica

quarta-feira, 29 de novembro de 2023
Burrice satânica Imagem: Screenshot

"Aquele que pratica o pecado, é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo.” (1 Jo 3, 8).
 
 
No fundo, no fundo, como dizem por aí, todos acabam acreditando em Deus, inclusive agnósticos e ateus, especialmente no momento de maior dor, medo ou angústia, como ocorreu com o próprio filósofo alemão Nietzsche, ao escrever "Ao Deus desconhecido." Isso mesmo! O filósofo da famosa frase "Deus está morto" fez uma bela e sincera oração no final da vida (Confira, após essa matéria, a oração de Nietzsche, "Ao Deus desconhecido").

Vamos juntos aos necessários e salutares desdobramentos dessa importante reflexão sobre o tema da demonologia, que não só é assunto para a Teologia, mas também observação direta e atenta para a Psicologia, por lidar com a mente, com o coração e o comportamento humano.
 
Acompanhe, leitor, sem pressa, e com muita atenção, os argumentos...
 
Deus criou seres puramente materiais. Por exemplo, uma pedra.
 
Deus criou seres espirituais habitando temporariamente um corpo físico, material, um corpo frágil, finito, mortal. Por exemplo, nós, seres humanos. Nós somos seres espirituais passando por uma experiência na terra.
 
E Deus criou também seres puramente espirituais: anjos, demônios. 
 
Aqui começa a encrenca...
 
Muitos não creem na possibilidade de existência do Diabo, pensando ser apenas um instrumento de linguagem, uma metáfora, a personificação do mal, uma construção cultural característica de povos primitivos que não conheciam Psicologia,  nem Psiquiatria e por aí vai.
 
No entanto, reflita a respeito de uma fala do atual Bispo de Roma, o Papa Francisco: 
 
" Todos nós somos tentados porque a lei da vida espiritual é uma luta. Uma luta porque o príncipe deste mundo, o Diabo, não quer a nossa santidade, não quer que sigamos Cristo. Alguns de vocês podem dizer: 'Padre, como o senhor é antigo: falar do Diabo no século XXI!' Mas vejam, o Diabo existe. O Diabo existe mesmo no século XXI. E não devemos ser ingênuos. Devemos aprender do Evangelho como lutar contra ele."
 
"Todos nós somos tentados..." 
 
"...a lei da vida espiritual é uma luta."
 
Agora retome à citação inicial desse artigo: 1 João 3, 8 ("O Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo."). 
 
Se o Diabo não existe, então Jesus se manifestou em vão, foi uma manifestação sem sentido, sofreu à toa, morreu na cruz por nada! 
 
Daí surgem novos negacionistas afirmando não acreditar naquilo que está escrito nas Sagradas Escrituras. Pronto! Bagunça total no coreto. Então agora toda a herança espiritual bimilenar formada por doutores da Igreja é uma herança tola, e todos esses doutores são idiotas. O grande sábio e iluminado do momento é o negacionista. Só faltava essa. Megalomania insossa. 
 
De volta ao bom senso. Releia a frase citada acima do Papa Francisco. 
 
Toda essa reflexão papal/episcopal (desde São Pedro até Francisco, e que seguirá por todo o ministério petrino enquanto ele existir na terra), está fundamentada no ensinamento de Jesus de Nazaré, na tradição apostólica e no Magistério da Igreja de Jesus, através de constatações psicológicas, pois são todas elas passíveis de verificações testemunhais impressionantes, impactantes e inesquecíveis. 
 
Dostoiévski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. 
 
Todo ser humano que nega a Verdade Revelada acaba se animalizando, se rebaixando ao estado de animal, acreditando que tudo é permitido. Gente assim não respeita profundamente a Deus. Pensando assim, acredita que poderá mentir, roubar, trair, matar e, no final, se Deus existir, Ele será muito bonzinho, afinal, dizem por aí que Ele é misericordioso, perdoará tudo.
 
Em Deus muitos até creem. No Diabo não.
 
Na Sagradas Escrituras, especialmente no Novo Testamento, fica muito clara a existência e ação do Inimigo de Deus, que é também o inimigo dos seres humanos: O Diabo. (Confira, por exemplo, em Marcos 1, 34; Mateus 6, 13; Efésios 6, 12; 1 Pedro 5, 8 etc.).
 
Quem nega a existência do Diabo padece de burrice satânica. 

É algo parecido com aquele sujeito que fuma maconha todo dia, mas afirma que ainda não é viciado. É pra rir ou é pra chorar?
 
Gente assim pode até possuir alguma inteligência, mas não tem nenhuma sabedoria. Gente inteligente, habilidosa em muitas atividades rotineiras, diárias, mecânicas, mas não tem nenhum discernimento espiritual. 
 
Todo indivíduo que não acredita na opressão é facilmente oprimido pelo agente opressor. Na sequência, as portas ficam escancaradas para a entrada e devastação paulatina da obsessão e, o mais grave, a possessão.
 
Opressão: angústia de alma (o mais comum).

Obsessão: pensamentos perturbadores absurdos (menos frequente).
 
Possessão: quando o Diabo tem controle sobre o corpo da pessoa (raríssimo).
 
Note que a possessão é um fenômeno raríssimo. O que isso significa? Por que é um fenômeno raríssimo? Porque depois da Redenção de Cristo, o Diabo ficou com as mãos atadas, ou seja, ele não está mais por aí fazendo todo o mal que quer. Por isso, na sua estratégia, ele se torna sedutor, iludindo o ser humano nas suas fraquezas, fazendo do homem um praticante de pecados, especialmente no pecado da concupiscência (busca desenfreada pelos bens materiais e prazeres sensuais). Com a astúcia e oportunização do Diabo, o ser humano vai então cavando sua própria desgraça, criando suas próprias doenças, psicossomatizando suas alucinações. 
 
Uma insanidade inconsequente que provoca escândalo, criando maldades impensáveis, horrores e monstruosidades que ultrapassam a possibilidade humana de perversidade. Quer dizer: alguns atos covardes e criminosos são tão absurdamente assustadores contra seres inocentes e indefesos, vitimando crianças, idosos, que só pode ser o Diabo mesmo o grande influenciador das mentes e dos corações daqueles sujeitos incautos que negam a sua existência. 
 
Historiadores que seguem ideologias perniciosas, teólogos moderninhos trapalhões e cientistas da psique que desconhecem a profunda espiritualidade humana, são réus dessa confusão toda a respeito do Diabo.
 
Muitos líderes charlatães das seitas do engano também são réus, na medida em que fazem todo um teatro patético onde as possessões são encenações fajutas. Diante da fajutice fica difícil alguém acreditar na existência do Diabo. Nesses palcos da mentira, o que vemos nada mais é do que hipnose de palco, transe coletivo, sugestão psicológica maléfica, ou simplesmente gente recebendo um dinheirinho pra fazer papel de possessa.
 
Note que, não tão raro, quem nega a existência do Diabo anda cometendo atos diabólicos por aí.
 
Por outro lado, historiadores honestos, teólogos sinceros, psicólogos e psiquiatras conhecedores verdadeiramente da psicologia do profundo, sabem que Deus é o sentido supremo de todas as buscas. 
 
Repito: Deus é o sentido supremo de todas as buscas.
 
Essa necessidade humana pela integração espiritual, pela busca da divindade, é uma realidade observável na Psicologia e na Antropologia. O ser humano, de todos os povos e épocas, tem fome e sede de Deus.
 
O que ocorre de problemático, equivocado e confuso, é que nem sempre o ser humano compreende os sinais de Deus, nem sua autêntica mensagem. A mente humana em sua capacidade de discernir vai evoluindo aos poucos.
 
E quem busca a Deus, o encontra e permanece unido a Ele, ainda assim enfrenta tentações diabólicas diárias. Por isso o ser humano ora todos os dias para vencer as tentações, porque quem não reza será invariavelmente derrotado, cedo ou tarde.
 
Já sabemos em ciência a eficácia das preces. O poder das orações já é demonstrada pela Psicologia, Enfermagem, Psiquiatria, Neurologia, Cardiologia, Endocrinologia, Coloproctologia etc.
 
Como explicar que ainda existem pessoas negando todas as evidências da existência de tudo aquilo que a Religião sadia sempre ensinou há dois milênios? 
 
Nem Paulo soube explicar, chamando esse fenômeno da incredulidade de mistério da iniquidade. 
 
Ou seja, mesmo o indivíduo sendo impactado pela Luz Sobrenatural, pela Luz divina, pela máxima manifestação do amor de Deus aos homens através de Jesus, o Cristo, Aquele que é capaz de renovar a consciência e ampliar o entendimento sobre todas as coisas, o indivíduo permanece optando pelas trevas, pelo erro, pelas tergiversações, pelo negacionismo, pelo pecado, fazendo pacto com o Mal, se tornando um demônio para os outros na terra, odiando o próximo. 
 
Talvez do ponto de vista psicanalítico possamos apresentar uma ideia do que ocorre. A explicação é a seguinte: o ser humano acaba agindo mais pelo princípio do prazer do que pelo princípio da razão. Dessa forma, assumir a existência do Diabo seria uma maneira de crer na possibilidade de ser lançado junto com ele e seus demônios ao inferno, ou seja, enfrentar uma situação de desamor, numa condição ou lugar onde Deus não pode habitar.
 
Então, os espertalhões, mesmo talvez acreditando em Deus, negam a existência do Diabo, para poder continuar cometendo os seus delitos de estimação. 
 
Burrice satânica. 
 
Vitória de Satã. 
Gargalhadas do Diabo.
 
E assim prossegue o obscurantismo da desumanidade incurável. 
 
É o fim?
Não!
 
No ápice da escuridão, eis que resplandece a Luz!
 
Muita coisa boa vem acontecendo também, tem muita gente boa por aí.
 
Famílias, indivíduos, comunidades, crianças, jovens, adultos responsáveis, sábios idosos, seres de luz em meio às trevas. Seres de luz jamais serão apagados. 
 
As trevas é que serão dissipadas.
 
Por tudo isso, você, ser de luz, pode até ficar temporariamente entristecido, decepcionado, angustiado. Mas desesperado ou desanimado não!
 
Ânimo!
 
Oração ao Deus desconhecido

Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “Ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.

Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.

Friedrich Nietzsche (1844-1900).
 

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