Guaxupé, sexta-feira, 3 de maio de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

O Deus que não somos

quarta-feira, 16 de setembro de 2020
O Deus que não somos

“Aquitofel, vendo que seu conselho não fora seguido, selou o seu jumento e tomou o caminho de sua casa, na sua cidade. Pôs em ordem os seus negócios e se enforcou.” (2 Samuel 17, 23)
Note aqui uma cena comum ainda nos dias de hoje: Baixa tolerância à frustração, levando o indivíduo frustrado a cometer suicídio.
Terá sido bom o conselho de Aquitofel? De acordo com Cusai, não (2 Sm 17, 7). Aliás, “Absalão e todos os israelitas consideraram o conselho de Cusai melhor que o de Aquitofel.” (2 Sm 17, 14).
Trata-se de um texto bíblico, num contexto envolvendo Davi.
Não entrarei aqui na dimensão teológica, pois não sou teólogo.
No entanto, o recorte do texto merece um sutil destaque de observação psicológica: “vendo que seu conselho não fora seguido (...) se enforcou.”
Uma das causas do suicídio é o acúmulo de dolorosas frustrações, podendo ser até somente uma única, poderosa e angustiante frustração com poder destrutivo suficiente para desequilibrar as emoções e a mente de alguém. É quando o indivíduo se sente permanentemente desqualificado, desimportante, profundamente desvalorizado, desrespeitado naquilo que crê, interpreta, orienta, sugere ou ordena. Alguns vão se matando aos poucos, nutrindo raiva, rancor, maledicências. Ódio acumulado facilitada o desenvolvimento de doenças físicas e mentais. Jáoutros se matam de uma vez.
Podemos dizer que todo ser humano nasce com um problema de ênfase. Quer sempre dar maior destaque a si mesmo. Se comporta como Deus, como se fosse Deus, tem desejo – consciente ou inconsciente – de possuir atributos exclusivos de Deus (onipotência, onisciência, onipresença, inefabilidade). E quando assim não ocorre, algumas pessoas preferem se matar do que compreender as limitações humanas, pois sentem enormes dificuldades de aceitar que o outro é o diferente. As pessoas são diferentes. Sendo diferentes, cada pessoa possui gostos, preferências e crenças variadas, distintas. Podem até se assemelhar em alguns aspectos, mas não há como uma pessoa ser exatamente igualzinha o tempo todo à outra pessoa. Quem deseja exatidão de mentalidade, opinião, escolha e conduta do outro ser, não está querendo uma relação com o outro, e sim uma relação consigo mesmo. E isso tem nome: egoísmo, uma distorção perceptiva e progressiva danosa, que reforça o primitivo egocentrismo.
Do ponto de vista psicológico é preciso, através de uma série de perguntas oportunas, fazer com que a pessoa pense antes de agir. Tome consciência ampla de si, do outro, da vida, a fim de conquistar autocontrole. Retirar a pessoa da ilusão, do surto, da cegueira, da escuridão.
Do ponto de vista teológico, as orientações poderiam ser as seguintes: Provérbios 16, 32; Provérbios 19, 21; e 1 João 5, 14. A criatura se converte ao Criador, e não o Criador se convertendo à criatura. Portanto, mais consciência, mais cautela, mais entrega serena e confiante para continuar a viver de modo cada vez mais aprimorado e abençoado.

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