Guaxupé, quinta-feira, 2 de maio de 2024
Rodrigo Fernando Ribeiro
Rodrigo Fernando Ribeiro Psicologia e Você Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo (CRP-04/26033).

Traços de egoísmo, resquícios de egocentrismo

quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Traços de egoísmo, resquícios de egocentrismo Imagem: Divulgação

Cena comum...

Duas pessoas conversando (P1 e P2):

P1: Você gosta de Pizza Margherita?

P2: Sim, gosto muito! Peço frequentemente.

P1: Pena que nem todas vem com manjericão, como na tradicional pizza margherita italiana.

P2: Claro que vem. Todas as pizzas margheritas da cidade vem com manjericão!

P1: Infelizmente não é verdade. Eu já comi em algumas pizzarias e eles colocam orégano, somente orégano. Não há manjericão. Algo parecido ocorre quando dizem que colocam catupiry, e acabam colocando requeijão no lugar. Orégano não é manjericão, e requeijão não é catupiry.


P2: Nãããããoooo... Eu já comi em todas as pizzarias da cidade, e em todasmargheritas vem manjericão sim!
 
Foi então que P1 decidiu pedir uma pizza margherita de uma pizzaria que não acrescenta manjericão. Ao chegar a pizza, P1 mostra a pizza pra P2 e pergunta: “Mostre pra mim onde está o manjericão!”

P2 ficou sem graça, pois verificou ter apenas orégano na pizza, e nenhuma folhinha sequer de manjericão.

 
Mudaram de assunto: Comida japonesa.

P1: Você gosta dos crus ou dos fritos?

P2: Ah, eu não como nada somente cru. Prefiro os fritos. Sempre peço hot roll.

P1: Nossa, eu também gosto... Gosto de sentir o gostinho do cream cheese, quando colocam.

P2: Ah, não! O cream cheese estraga o sabor do hot roll.

P1: Como assim estraga?

P2: Nossa, fica uma porcaria.

P1: Porcaria pra quem?

P2: Ah, eu não gosto!

P1: Quem não gosta?

P2: Eu.

P1: E eu? Por que você não me pergunta se eu gosto ou não!

P2: Eu não gosto.

P1: Eu sou você?

P2: Não, mas, Deus me livre de cream cheese no hot holl.

P1: Você não gosta, então!

P2: Não!

P1: E eu?

P2: Ah, você eu não sei. Mas eu não gosto. Fica muito ruim o gosto. Hot holl tem que ser sem cream cheese.

P1: Tem que ser sem cream cheese pra quem? Você está me ouvindo? Você realmente não me ouviu dizer que eu gosto de sentir o gosto de cream cheese?

P2: Eu não gosto.

 
Note que P2 tem enorme dificuldade em prestar atenção, enorme indiferença pelo outro, marcante desprezo pela vontade do outro, mantém distanciamento pelo gosto do outro, desinteresse total pela percepção do outro. É como se o outro, P1, não existisse, não fosse importante, não tivesse valor na sua opinião.

P2 se considera Deus, se acha o centro das opiniões verdadeiras, únicas e absolutas. Tornou-se um adulto com problema de foco: acredita que ele é o foco, o centro de todas as inteligências, a ênfase de todo o saber, o suprassumo das únicas opiniões válidas. Não concorda com nada nem com ninguém. Somente segue e crê naquilo que passa por suas próprias experiências e ideias, ainda que fragmentadas, errôneas, equivocadas ou distorcidas.

Trata-se de uma mente de dificílima convivência, e quase impossível tratamento.

O que fazer? O primeiro passo é não entrar numainsistente rota direta de colisão.

O segundo passo é, em alguns momentos – ainda que raros – de calmaria e serenidade manifestada por esse tipo de personalidade, não propor explicações, mas sugerir elucubrações, com perguntas propositivas, com a finalidade de, quiçá, poder fazer o sujeito olhar um pouquinho mais ao redor, e deixar de se sentir o umbigo do mundo.

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