Guaxupé, domingo, 28 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

VERDADE É QUE ESTADOS UNIDOS E EUROPA PROLONGAM A GUERRA DA UCRÂNIA

quinta-feira, 20 de abril de 2023
VERDADE É QUE ESTADOS UNIDOS E EUROPA PROLONGAM A GUERRA DA UCRÂNIA Foto: Ministério da Defesa da Ucrânia

O Presidente Lula fez afirmativas verdadeiras sobre a Guerra da Ucrânia, durante suas viagens à China e aos Emirados Árabes Unidos, dizendo que EUA – Estados Unidos da América – e U.E. – União Europeia são responsáveis pelo prolongamento desse conflito. Todavia foram palavras de improviso, confusas e inábeis. Logo no seu retorno ao nosso país, tanto ele como o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, receberam visita anteriormente agendada do Chanceler russo, Sergey Lavrov, que ocupa esse cargo há dezenove anos, tendo sido, antes, embaixador da Rússia na ONU – Organização das Nações Unidas – outros dez anos.

Era de se imaginar a reação norte-americana e europeia em contrário ao que disse o Presidente Lula. Afinal de contas é o G-7 que desempenha a tutela econômica, política e militar sobre a maioria dos países pobres e emergentes do nosso mundo. Na Grande Imprensa Empresarial ocidental a repercussão não poderia ser diferente, pois a sintonia entre ela e esses governos é orquestral. Não foi por outra razão que Lula recuou, em discurso escrito, na recepção e saudação ao Presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, que visitou o Brasil nesta 3ª feira, 18. Ao fazer condenação à Rússia pela “violação da integridade territorial da Ucrânia”, nosso Presidente, certamente, passava uma mensagem de aparagem de arestas para o bloco militar da OTAN/NATO – Organização do Tratado Atlântico Norte – do qual os romenos fazem parte, e liderado pelos EUA e países europeus mais influentes.

Não precisaríamos ir muito longe para constatarmos as críticas à Lula. De um dos prestigiosos portais brasileiros, o brasiliense Metrópoles, extraímos do feroz direitista Mário Sabino, frases da sua coluna publicada na 2ª feira, 17, com o título “Lula suja as mãos de sangue”. Diz ele: “Sergey Lavrov é cúmplice do criminoso de guerra Vladimir Putin na sua agressão à Ucrânia [...] Ao igualar Zelensky a Putin e receber o pária internacional Sergey Lavrov, o Presidente também mancha a imagem do Brasil. [...] Vladimir Putin – o agressor brutal do povo ucraniano, o condenado no Tribunal de Haia”.

 É oportuno esclarecer que, na minha pequenez humana, considero o TPI – Tribunal Penal Internacional – sediado em Haia, nos Países Baixos, um tribunal sem legitimidade. Embora se ampare na nobreza da defesa dos direitos humanos e na punição de crimes contra a humanidade é verossímil que atua num viés político e ideológico. Ele somente pode atuar em países que ratificaram o Estatuto de Roma que o criou na década de 1990. Atualmente, cerca de 120 países já o fizeram. Estranha e astutamente, a maior potência mundial – os EUA/Estados Unidos – não se dignou a ratificá-lo até o presente ano, uma forma de escapar de punições pelas frequentes agressões a outros países, que têm praticado desde o final da 2ª Guerra Mundial. Se fosse tão legítimo o TPI, o ex dos EUA, Presidente George W. Bush, e alguns dos seus assessores, civis e militares, estariam cumprindo pena nas suas prisões em decorrência da Invasão do Iraque, em 2003, baseada em vergonhosas mentiras, causando, como consequência, a destruição de um país e de sua rica e antiga história, além de um saldo de mais de 500 mil civis mortos. Por razões como essa os EUA sempre se esquivaram de ratificar o TPI. Espelhada nessa atitude, a Rússia dele também se retirou em 2016. A Justiça da Rússia já rechaçou essa arbitrária condenação de Putin pelo TPI, invocada pelo colunista Sabino do Metrópoles.

 Por outro lado, ocupando a tribuna senatorial, esta semana, o Senador Rogério Marinho (PL-RN) qualificou como inversão de conceitos e de lógica a afirmativa do Presidente Lula de que “a Guerra na Ucrânia não seria culpa só da Rússia, mas de ambos os países”. A posição do senador bolsonarista não reflete a falta de entusiasmo que o então Presidente Jair Bolsonaro manifestava pela guerra e por Zelensky. No Carnaval de 2022, no Guarujá-SP, perguntado por uma jornalista como Bolsonaro via o “massacre russo”, ele respondeu: “Que massacre? Armas de guerra não são brinquedinhos, são feitas para matar”. Sobre Zelensky, Bolsonaro foi direto: “O povo confiou nele, um comediante, o destino de uma nação. Ele deve ter equilíbrio para tratar desse assunto”.

Na realidade, governos e imprensa do Ocidente transformaram Volodimir Zelensky num “pop star” internacional, um comediante que virou Presidente da Ucrânia, mas não perdeu seus dotes de ator. A ele foram concedidos imensos espaços nos inúmeros parlamentos ocidentais sob as luzes dessa mídia mundial. Sempre chamou minha atenção a constância como Zelensky se veste. Então fiz uma pesquisa para que isto não parecesse uma implicância de minha parte. Compilo da Folha/UOL, de 11 de março de 2022, matéria de João Perassolo: “Zelensky sempre veste camisetas em tons verdes, algumas trazendo, do lado esquerdo do peito, a insígnia das Forças Armadas, ou um bordado da bandeira ucraniana com o número 5.11, marca de um fabricante de roupas militares. O verde e suas variações se estendem também para as calças e casacos de moletom, numa referência à militarização do País”.

Se Lula amarelou diante de pressões ocidentais, eu não farei o mesmo. Até porque meu posicionamento está contido em vários artigos deste semanário. O primeiro foi escrito nas primeiras escaramuças da invasão russa sob o título de “A Ucrânia é mero detalhe na guerra entre duas potências”. Nele dei como ultrapassadas as narrativas de outras épocas, que ajudavam a decidir conflitos. A atual instantaneidade da informação e suas imagens derrubam as versões. Falei da estreita vinculação entre os povos russo e ucraniano através da etnia, da História, da cultura e da religião, salientando que o Reino da Rússia nasce em torno da atual capital da Ucrânia, Kiev/Kiyv, fundada no século IX pelos vikings, que eram escandinavos, ali se mesclando com os eslavos e bizantinos – foi o Principado de Kiyv. Essa união viria a ser abalada no século XIII, com as invasões dos mongóis de Gengis Khan, passando, logo depois, Moscou como o núcleo do Império Russo. Viria a Ucrânia ainda a ser subjugada pela Polônia e Lituânia. No século XVII suas férteis regiões a leste do vale do Rio Dnipro ficam com a Rússia e a oeste com a Polônia. Futuramente, a Ucrânia vai ser porção importante da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – inclusive ocorrendo de um ucraniano, Nikita Kruschev, tornar-se Primeiro-Ministro da URSS, aquele que bateu com um sapato numa mesa em reunião da ONU, como forma de protesto. Foi ele que cedeu a Península da Criméia ao seu país como forma de retribuir e reforçar “a indissolúvel amizade entre os dois povos”.

Pois, essa fraternidade foi abalada e quebrada no início deste século/milênio pelo vírus extremista da Extrema-Direita, que chegou à Ucrânia. Em 2014, foi deposto pela influência e ação desses extremistas, o Presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovytch, gerando a retaliação russa da anexação da Crimeia, doada pela URSS em 1954. O fermento extremista de direita se deu desde a chamada Revolução Laranja, crescendo através do partido Svoboda, pelo Movimento Udar (soco), liderado pelos irmãos Klitschko, boxeadores, que, por certo, viveram a luxúria e as ilusões de Las Vegas/U.S.A. e pelo Batalhão Azov, uma milícia, paramilitares, com mais de mil componentes que ostentavam no uniforme a suástica nazista estilizada. Essas forças que derrubaram um governo pró-Rússia são movidas pela inclinação de aderirem ao Ocidente, fundamentalmente, reivindicando sua admissão na referida OTAN/NATO e integração à União Europeia. Admitida a Ucrânia na OTAN, essa aliança militar ocidental poderia instalar mísseis na fronteira desse país com a Rússia, apontados para Moscou, que ficaria cerca de uns 400 km. Lembremos que nos anos 1960 a URSS foi rechaçada de forma veemente pelos EUA, quando teve a intenção de colocar mísseis na ilha de Cuba, em igual distância da costa norte-americana da Flórida.

Putin alegou na invasão que iria desnazificar a Ucrânia, teoria contraposta pelo ocidente pela condição de judeu de Volodimir Zelensky. Judeu, que tem apoio dessa facção nazista. Aliás, outro motivo alegado por Putin foi o chamado por ele de genocídio que esses Azovs passaram a cometer na região do Donbass para onde foram transferidos – Donestk e Lughansk – maciçamente povoada por russos e seus descendentes, aliás, região onde o idioma é o russo. Os Azovs compunham milícias paramilitares que ajudaram a expulsar o exército russo de Mariupol, por ocasião da anexação da Crimeia. O novo governo às incorporou à Guarda Nacional da Ucrânia, em novembro de 2014, já com o nome de Regimento Azov. Na atual guerra, os Azovs foram mortos, feridos ou presos quando tentaram sua última resistência nos subterrâneos da siderúrgica de Azovstal.

Uma quase guerra mundial se desenrola na Ucrânia. É insofismável e inegável que a Ucrânia resiste com o recebimento de muito dinheiro e muito armamento dos Estados Unidos e dos países da OTAN. Sem que a gente esqueça o fervor patriótico dos seus habitantes, infelizmente, manipulados pela extrema-direita.

O “site” de economia Eu Quero Investir estima que em um ano de guerra, os EUA aplicaram 73 bilhões de euros em ajuda à Ucrânia, enquanto a União Europeia teve gastos de 29 bilhões de euros. Muitos países fizeram ajudas diretas em tanques e outros armamentos. Recentemente, a Eslováquia doou à Ucrânia 13 aviões-caça MIG-29. Essa bondade dissimulada tem por detrás uma generosa oferta dos Estados Unidos, “como forma de recompensa”. Conforme publicação do G1, os EUA venderiam US$1 bilhão (de dólares) em armas, já com desconto de 2/3 do preço-padrão, a serem pagos em 3 parcelas anuais de US$340 milhões. Esse montante incluiria 12 helicópteros AH-1Z Viper, 500 mísseis AG ar-114 Hellfire, mais acessórios e formação de pilotos e técnicos.
 Além do interesse pelos mercados petrolíferos e de gás da Europa, que eram abastecidos pela russa Gazprom, ainda campeia o negócio armamentista que satisfaz a indústria norte-americana.

Como escrevi no meu artigo deste semanário nas primeiras horas da guerra: “a Ucrânia é apenas um mero detalhe”, principalmente para Europa e EUA. Ou no artigo de 7 de Maio de 2022: “Urubus norte-americanos e europeus se nutrem do conflito da Ucrânia”. Assim se prolonga a guerra, com o figurante Zelensky em cena.  

Comente, compartilhe!