Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

GOVERNO BOLSONARO E SUAS FASES VENEZUELA E UCRÂNIA

quinta-feira, 3 de novembro de 2022
GOVERNO BOLSONARO E SUAS FASES VENEZUELA E UCRÂNIA (Imagem: Isac Nóbrega/PR)

Eis-me de volta às páginas impressas e digitais de alguns semanários sul-mineiros. Deles me afastei durante o período eleitoral brasileiro do ano em curso, por minha livre vontade, a fim de que meu posicionamento político não comprometesse os jornais onde atuo, tanto no aspecto ideológico como nas relações comerciais dos mesmos com os patrocínios.

Afinal de contas, minha definição esquerdista sempre foi convicta e transparente, contrariando as elites econômicas e os pretensos donos dos votos desta região paulistoide.

Neste meu retorno me sinto imbuído de contida alegria, de imensa preocupação e nenhum sentimento de desforra diante do massacre que vínhamos sofrendo desde que este País mergulhou num turbilhão de contradições e agressões, a partir dos protestos de rua de 2013.

Superado o havido mandato presidencial tampão de dois anos (Michel Temer), de usurpação, no qual nossa democracia foi aviltada e fragilizada, adentramos num outro período, de obrigatório respeito, porque o resultado saiu das urnas. E recado direto que o eleitorado manda das urnas é recado para reflexão e respeito para quem entende de Política.

Foi assim que encaramos a prolongada travessia de quatro anos, que começou em 1º de janeiro de 2019 (Jair Bolsonaro). No dia seguinte da posse eu demonstrava a minha boa vontade como democrata publicando neste semanário o leve artigo ‘Quando o mito vira realidade’ no qual eu buscava a etimologia de mito nas raízes da Antiguidade, “uma época povoada de façanhas imaginárias, ou simplesmente, lenda, o que não existe”.

Nossa intenção era de respeito ao governo legitimado pelas urnas com artigos críticos nos momentos necessários. Mas acabaram não sendo poucas as críticas. Percebíamos que o Governo Bolsonaro se instalara com a intenção de se perpetuar. E não queria uma perpetuação pelo voto. A medida que os primeiros meses foram transcorrendo, as garras do autoritarismo iam se revelando.

Ao contrário dos governos do PT – Partido dos Trabalhadores – que foram acusados permanentemente de “aparelharem o Governo com sua militância”, Bolsonaro “aparelhou seu Governo com 6.000 militares e outras forças de segurança”, segundo divulgado pelo Tribunal de Contas da União. Pronunciamentos do Presidente sobre “as minhas Forças Armadas (FFAA)” foram frequentes a fim de demonstrarem seu suposto domínio militar.

Muitas vezes foram contestadas por generais como Santos Cruz, Pujol, Rego Barros e Fernando Azevedo e Silva, que afirmavam que as FFAA são instituições de Estado e não a serviço de governos passageiros, o que está escrito com mais ênfase na Constituição Federal, com mais nitidez do que o sempre invocado Artigo 142 dos protestos bolsonaristas. Os militares citados foram, pouco a pouco, perdendo seus cargos de mando em função da altivez com que se manifestaram. Mas, continuaram sendo nomes respeitados pelas tropas.

Não se deve esquecer que em fevereiro de 2019, com menos de dois meses de mandato, o Brasil esteve à beira de invadir a Venezuela, num dia tenso, em que aliado com o Presidente Donald Trump, as fronteiras venezuelanas com a Colômbia e com nosso Estado de Roraima, estiveram prestes a serem invadidas.

Observem que das críticas iniciais ao governo venezuelano de Nicolás Maduro, o Brasil evoluía para a venezuelização ao avesso, ou seja, à direita, tanto pelo aparelhamento por militares – a maioria de aposentados – como pelas críticas às instituições como o STF – Supremo Tribunal Federal – e o Congresso Nacional, incluindo a possibilidade futura de aumento do número de Ministros da Suprema Corte, consequentemente, com o controle do Judiciário.

Tudo isso se traduzia em frequentes manifestações de rua, onde o bolsonarismo agressivo portava cartazes e faixas com dizeres antidemocráticos e golpistas tipo “intervenção militar já”, “fecha o STF”, “fecha o Congresso”.

Sem que se esqueça a negação do nosso processo eleitoral e denúncias de fraude nas eleições que “poderiam acontecer”. Era isso aí, a imitação do caminho tomado pela Venezuela. Depois, a agressividade dos manifestantes nas ruas, ou de líderes como os Deputados Federais oriundos do meio militar, ou mesmo civil, como Daniel Silveira, Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli, Bia Kicis e Bibo Nunes.

Sem que nos tornássemos uma Venezuela, estávamos nos tornando uma Ucrânia, porque o radicalismo de certos grupelhos mais se assemelhava à extrema-direita ucraniana que, em 2014, incrementou movimentos de rua, armamento da população e formação de milícias populares, tipo o assumidamente nazista Batalhão Azov, que derrubaram o governo democrático de Viktor Yanukovitch, que era pró-Rússia, instalando um governo ultradireitista contrário à Rússia, resultando, de imediato, na retomada russa da península da Criméia.

Alguns anos depois, a invasão russa se tornou uma espécie de Guerra Mundial disfarçada, localizada na Ucrânia, que se prolonga porque este país recebe armas e bilhões de dólares da OTAN – que é uma organização militar encabeçada pelos Estados Unidos da América junto com o Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Noruega e outras dezenas de países da Europa, além de soldados mercenários de várias partes do mundo.

Digo isto porque, após a derrota eleitoral do Presidente Bolsonaro para o ex-Presidente Lula, as tais milícias bolsonaristas interromperam ou bloquearam rodovias por todo o Brasil, e se concentraram no Dia de Finados defronte aos mais diferentes quartéis ou comandos militares – inclusive no Tiro de Guerra de Guaxupé – onde desfilaram, entoaram o Hino Nacional, sendo que em algumas localidades do Sul do Brasil, cantaram o Hino, com o braço direito levantado, na mais declarada repetição dos gestos nazistas do “Heil Hitler”, ou do “Anauê” do fascismo de Mussolini, que aqui no Brasil já houve com o Movimento Integralista, do ex-Deputado Federal Plínio Salgado (e aqui em Minas Gerais com o Deputado Estadual Navarro Vieira, o pai), ambos do PRP, Partido de Representação Popular).

Conflitos localizados se instalam em países, mas, sua evolução nunca se sabe que rumo tomarão. A Venezuela tão criticada pelo bolsonarismo, foi tentada política e militarmente por eles próprios, mas somente aconteceu socialmente com as pessoas desempregadas aos milhões, com a miséria e a fome, formando filas para comprarem ossos com restos de carne ou pés de galinha. Já uma Ucrânia, poderíamos nos tornar no caso da reeleição – que não aconteceu – do Presidente Bolsonaro, pois os fanáticos AZOVs estão por todos os lados e violência se propaga como um rastilho de pólvora.         

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