Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

O MI-MI-MI E AS MÚLTIPLAS FACES DO BOLSONARISMO

quinta-feira, 25 de agosto de 2022
O MI-MI-MI E AS MÚLTIPLAS FACES DO BOLSONARISMO Foto: Divulgação

Como ponto de partida abordo uma das muitas facetas do bolsonarismo, que é o mi-mi-mi. Principalmente, porque foi forte a reação e choradeira dessa facção política diante da entrevista do Presidente Jair Bolsonaro à Rede Globo de TV. Mesmo que ali estivesse o Candidato, até concordo que a figura do Presidente deveria ser naturalmente respeitada na série de Encontros com Presidenciáveis Melhores Colocados nas atuais pesquisas eleitorais brasileiras, que está sendo apresentada no decorrer desta semana em pleno telejornal da Globo das 20:30h. Ao contrário de blá-blá-blá e nhe-nhe-nhém, vocábulos encontrados nos léxicos desde o início deste século XXI, mi-mi-mi é mais recente, só agora deverá chegar a um dicionário impresso a ser lançado pela Matrix Editora no Dicionário Prático Sacconi, de Luiz Antonio Sacconi, professor de Língua Portuguesa da USP – Universidade de São Paulo. Gramaticalmente, essas palavras que têm muito uso no discurso político, são inseridas na onomatopeia, que significa a imitação de sons ou ruídos da natureza. Mi-mi-mi “imita depreciativamente o queixume de alguém”, conforme ciberduvidas.iscte-iul.pt.

Num primeiro exemplo, leio o Blog do Zé Aparecido, contido num perfil do “Facebook” denominado “SOMOS TODOS Bolsonaro’, onde o jornalista belo-horizontino José Aparecido Ribeiro se manifesta choramingante e manipulador. Afinal de contas, escrever que “Bolsonaro não é bom de briga”, “que não foi à casa do inimigo para confronto, estava desarmado” ou que as perguntas feitas a ele eram “jargões usados pela esquerda”, são invocações contraditórias. Sabe-se que o Presidente gosta de polêmicas e defende “um povo armado”. Além do mais, bolsonaristas nada entendem de ideologias, pois rotular a Globo, o ex-governador João Dória, até o nazismo como socialistas ou esquerdistas é um tremendo vexame intelectual. A entrevista, na visão caolha desse autor, é um “tribunal inquisidor?” comandado pelos seus colegas Willian Bonner e Renata Vasconcelos, por ele chamados de “inquisidores disfarçados de jornalistas”. Esperaria ele que a bancada do Jornal Nacional, entrevistando um “inimigo” estaria a jogar confetes nele?  Em determinado momento, na verdade o único em que Bolsonaro revelaria sua real personalidade autoritária, emparedado por Bonner sobre sua aliança com o Centrão, ele assim se expressou: “você quer que eu vire um ditador?” Ele mesmo exteriorizou aquilo que sempre esteve guardado dentro do seu cérebro: sem os 300 deputados do Centrão ele admitiu que tornar-se-ia um ditador, certamente que não se renderia como Dilma, pois, sempre confiou no “seu” exército.

Ocorre que tanto o Presidente Bolsonaro, como seus seguidores, já devem ter escutado por diversas vezes pronunciamentos de altos oficiais da ativa e da reserva que a Força Exército – e as demais – são instituições de Estado, obedientes à Constituição Federal, e não forças a serviço de um governo. Ademais, o oficialato superior não embarcaria numa aventura ditatorial de um antigo e mal-comportado Tenente, que, na Política, usufruiu durante 28 anos das benesses e mordomias da Câmara dos Deputados e, agora, deu mostras de má gestão governamental. Em fim de mandato, se jogou nos braços do Centrão e nas jogadas de corrupção dos parlamentares – principalmente nas verbas mal aplicadas e superfaturadas dos tratores, dos caminhões de lixo e das propinas dos pastores no Ministério da Educação, tudo contido no contorcionismo orçamentário das Emendas de Relator-Geral, criadas em 2019 por um governo que afirmava ser a Nova Política. Se o jornalista em questão alega que “a Globo manda às favas a ética jornalística”, pensamento consensual do bolsonarismo, eu refresco a memória de todos diante desse mi-mi-mi, porque a Esquerda brasileira foi quem mais sofreu nas mãos, nas letras, nas vozes e nas imagens desse Grupo fundado pelo jornalista Roberto Marinho, sem que essa mesma Esquerda falasse em boicote ou deixasse de respeitar e admirar esse conglomerado pelo seu prestígio dentro e fora das nossas fronteiras. A Esquerda brasileira sempre soube ser altruísta e propensa ao diálogo. Esquecem os chorões bolsonaristas do apoio Globo à Ditadura 1964/85, onde aliados do Capitão também estavam, defendendo a tortura e o extermínio de opositores? À tentativa de impedir a vitória de Leonel Brizola em 1982? À manipulação a favor do candidato Collor de Mello em prejuízo de Lula, em 1989? À insuflação e apoio aos protestos de rua desde 2013 até à consumação do Golpe Parlamentar-Judicial contra a legítima Presidente Dilma Rousseff, em 2016?  Observem que os bolsonaristas escondem facetas passadas de golpismo, de truculência, de simpatia ao jornalismo tendencioso. Seu choro atual é enganoso, pois sempre defenderam uma ideologia preconceituosa, discriminatória, armamentista, embusteira e deletéria ao planeta.

Noutra ponta, há outra postagem em compartilhamento nas redes sociais, que fala em 100 mil postagens nos primeiros 5 minutos, ambicionando chegar a 50 milhões – que para mim nenhum valor possui – assinada por uma suposta Simone Ramos, dirigida à Rede Globo. O texto é longo, dizendo-se: “ser pensante que sou não poderia deixar de notar o teor grosseiramente tendencioso com que noticiam todo e qualquer acontecimento envolvendo o sobrenome Bolsonaro”. Vejam que ser pensante! Vai dissertando uma sequência de baboseiras e infantilidades na 1ª pessoa verbal. Outros milhões de “pensantes” a reproduziriam. Fala em vergonha da Globo; da “submissão” de seus funcionários aos patrões; nos “idiotas” do BBB transformados em heróis; no “presidiário” Luiz Inácio Lula da Silva – que deve estar preso na imaginação e no ódio dos bolsonaristas, pois, sobre Lula desse modo também se referiu o tal de José Aparecido Ribeiro, de BH – e a cantilena segue pela Lei Rouanet e chega ao “rombo bilionário em impostos devidos pela Globo à Receita Federal”. Tudo no mesmo estilo leviano e sem provas tal qual o Presidente Bolsonaro e alguns de seus altos lacaios se referem à FRAUDE nas eleições, curiosamente, eleições que tantas vezes beneficiaram Jair Bolsonaro e filhos.

Pelo meu texto, o leitor poderá extrair as dezenas de caras diferentes que o Bolsonarismo apresenta – ou facetas de uma jóia vagabunda e mal lapidada. Doentes ou zumbis saídos das profundezas do inferno, essas criaturas carecem de contenção com camisas-de-força antes usadas nos manicômios medievais. Ou serem exorcizados de volta para as fornalhas do inferno.        

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