Guaxupé, sexta-feira, 26 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

Urubus Norte-Americanos e Europeus se nutrem do Conflito da Ucrânia

quarta-feira, 4 de maio de 2022
Urubus Norte-Americanos e Europeus se nutrem do Conflito da Ucrânia Foto: Divulgação

Para os desinformados ou para aqueles que são obstinados defensores de bandeiras alienígenas, o título que encima meu presente artigo deve soar como agressivo e patético. No entanto, mantenho a coerência do meu pensamento expresso em artigo que escrevi nas primeiras horas da invasão da Ucrânia, que foi publicado nas primeiras 24 horas da ação militar russa, nas páginas deste jornal, ressaltando que a Ucrânia era mero detalhe na guerra entre potências militares.

Certamente que minha ótica percebia que o fator desencadeante de uma guerra anunciada nessa região, desde 2014, tinha fundamentação geopolítica. Com oito anos de anúncio prévio, essa guerra vinha desacreditada, até zombada, pela população ucraniana, que realmente viria a conhecer a realidade e os sofrimentos da destruição e da morte; porém, o canto da sereia – da prosperidade e de uma liberdade sem limites – era incentivada por políticos locais da Direita e da Extrema-Direita, tipo os campeões mundiais de boxe, um deles Prefeito de Kiev, os irmãos Klitschko, Vitaly e Wladimir, que desfrutaram das ilusões e luxúria de Las Vegas, dos países europeus vizinhos, pelos governos dos Democratas (Barack Obama e Joe Biden)dos Estados Unidos da América– EEUU – e pelos capachos militares da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte – cujo Secretário-Geral é Jens Stoltenberg, um político da Noruega, um dos 12 países fundadores da OTAN em 1949.

Neste mesmo sentido, Sua Santidade, o Papa Francisco, que tem feito constantes condenações à guerra, disse em entrevista, no decorrer desta semana, ao jornal italiano IL Corriere dela Sera: “Talvez os gritos da OTAN, às portas da Rússia, tenham levado o Presidente Vladimir Putin a invadir o país vizinho. Uma raiva que não sei se foi provocada, mas, talvez, facilitada, sim”.

Para os pouco informados, prefiro não definir por mim mesmo a OTAN. Em texto originalmente publicado:
https://www.infoescola.com/geografia/otan, em 2018, a bacharela e mestre em Geografia pela UNICAMP, Joyce Oliveira Leitão, diz: “O objetivo da OTAN era estabelecer um pacto militar (que acresço, liderado pelos EEUU), entre os países do Atlântico Norte contra o avanço da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Hoje em dia, com o fim da ameaça comunista, a OTAN se converteu em um organismo expansionista, com vistas a atender interesses políticos e comerciais”.

Justamente esse viés que abordei em três artigos aqui publicados entre 24-FEV e 10-MAR- de 2022. No segundo, fui incisivo no título: “Uma Legítima Defesa contra OTAN, EEUU e U.E. deu lugar à Invasão Russa na Ucrânia”. O Papa Francisco e uma infinidade de analistas isentos – o que não vale para a Grande Mídia Empresarial Ocidental, aqui entre nós representada pela CNN Brasil e pelo Grupo Globo – ratificam o que penso, pois, como poderia a Rússia aceitar essa militarização reacionária da Ucrânia, vendo mísseis ameaçadores da OTAN colocados nas suas fronteiras? Ademais, eram esses os desejos e objetivos da turminha do irresponsável comediante Volodimir Zelensky, guindado, sim, pelas urnas, a Presidente da Ucrânia, porém, participante de violentas manifestações pró-ocidente, que culminaram no Golpe que depôs um eleito pelo povo e fiel à amizade com a Rússia, Viktor Yanukovich, em 2014. Inconformado com essa manobra golpista, Putin, tomou de volta a Península da Criméia, ao sul, na região dos mares Negro e de Azov, doada em 1954 à República Socialista Soviética da Ucrânia pelo maioral da então URSS – NikitaKruchev.

 A ferida se abriu ainda mais porque a região portuária de Mariupol expulsou civis e militares russos. Essa expulsão deixou incompleta a anexação da Criméia feita pela Rússia. Pior, se deu com decisiva ajuda e violência de milícias populares do Batalhão ou RegimentoAzov, ferozes extremistas de Direita, que vestiam (não sei se ainda vestem) uniformes com a suástica nazista estilizada. Aliás, essas milícias foram incorporadas ao Exército ucraniano e foram para a Região de Donbass, ao leste, aonde ficam as províncias de Donetsk e Lughansk, território habitado em sua maioria por russos, que somente falam o idioma russo. Ali, cometeram muitas atrocidades contra a população na intenção de conquistar essas províncias pelas armas. Por tudo isso veio a fúria russa, que aniquilou toda a cidade de Mariupol, terra dos Azovs, um dos motivos invocados por Vladimir Putin, que os acusava de genocídio, proclamando que iria “desnazificar” a Ucrânia. Também se deduz que há hoje cerca de 2 mil soldados Azov, nos subterrâneos do seu último reduto – a siderúrgica Azovstal – que tais neonazistas ucranianos, e combatentes fanáticos ou mercenários estrangeiros,usam civis ucranianos como escudos humanos. Essa é a grandedificuldade na retirada dos civis que lá se escondem, na formação dos chamados corredores humanitários. Claro, Putin não quer que esse bando saia disfarçado de civis.

No decorrer desta semana, agravou-se um entrevero diplomático da Rússia com Israel. Imprensa e governos ocidentais já rebateram anteriormente: como pode o Presidente –Zelensky – ser acusado de nazista, sendo ele descendente de judeus, que sofreram o holocausto nazista? É inquestionável que Zelensky tem nos neonazistas Azovs aliados de escol; também é inquestionável a condição anatômica de unha e carne entre EEUU e Israel. E os norte-americanos ali estão injetando dinheiro e armamentos, incentivando uma guerra desproporcional, pois ficam à espreita como hienas – na reconstrução do país arrasado e no fornecimento de gás e petróleo para a Europa, substituindo as russas Gazprom e outras.

Se condenam tanto a brutalidade da guerra – e guerra não é mesmo brinquedinho de humanos – por que essa notória e visível participação dos EEUU, do Reino Unido e da OTAN nesse cruel financiamento à Ucrânia? A Rússia, por si mesma, nunca quis matar ou depor o teatral Volodimir Zelensky, tornando-o um mártir como quer o Ocidente (igualmente, isto ocorre na Venezuela com o usurpador Guaidó). Preferia Putin que os militares ucranianos desempenhassem esse papel, o que não aconteceu.

Usando do linguajar local: Moscova ataca Kyiv. Mas, foram ataques calculados, dispondo de quilométrica frota de veículos de guerra que poderia não atingir o objetivo de substituição do governo local, mas resultaria no aniquilamento arquitetônico de Kiev e numa mortandade inaceitável para ambos os lados. Os russos acabaram por desistir diante da resistência encontrada e porque não era objetivo fazer dessa Capital outra arrasada Mariupol. Afinal de contas, a Rússia nasceu em Kyiv, são todos irmãos eslavos juntos com Belarus.

Guerra é atrocidade. Os milhões de refugiados ucranianos, os mutilados e a memória inglória dos mortos não se cansam de indagar: por que os russos fizeram isso conosco, irmãos que somos? Porém, uma revisão histórica e um bom exame de consciência lhes dará respostas parciais com outras perguntas: por que abandonamos nossa convivência humana, religiosa e econômica com a Rússia para embarcarmos na ilusão de uma utópica liberdade e prosperidade pregada por embusteiros como Zelensky e os que o rodeiam? Por que EEUU, União Europeia e OTAN na obsessão de sua expansão militar, na pirataria de seus decretos de sanções econômicas,  na maldade dar fim à riqueza russa, que é o petróleo e seu gás, que abastecem 40% da Europa, preferem viver dessa carniça de guerras sem fim? Ou não foram os EEUU, junto com a OTAN, que em 1999 bombardearam Belgrado e toda a Sérvia – sem consentimento da ONU– ou invadiram o Iraque nas mesmas condições, deixando 500.000 mortos e toda uma cultura milenar destruída? Isto apenas como monstruosos exemplos recentes.

Não culpemos apenas Vladimir Putin pelos horrores que as TVs nos mostram. A Rússia humilhada da década de 1990 decidiu reagir às pretensões expansionistas daqueles escudados na OTAN. Ela também é culpada na ânsia de defender seu território de maior país do nosso mundo. Todavia, neste caso, tudo tem sido feito em nome da legítima defesa territorial. Segundo o pesquisador internacionalista da USP, Dr. César Augusto de Albuquerque, o que se vê lhe parece a manutenção de uma lógica de polarização da Guerra Fria: “existem diversas disputas e todos estão olhando para os próprios interesses”.
 

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