Guaxupé, terça-feira, 23 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

Por trás do bloqueio econômico à Rússia estão atos de pirataria financeira e interesses por petróleo e gás

quinta-feira, 10 de março de 2022
Por trás do bloqueio econômico à Rússia estão atos de pirataria financeira e interesses por petróleo e gás Foto: SPUTNIK / via REUTERS

A invasão russa à Ucrânia avança para a 3ª semana. Além daspesadas e devastadoras operações militares, a guerra de informações, que sempre fez parte de quaisquer conflitos, favorece os ucranianos, porquanto os mais importantes meios de comunicação do Ocidente, da mesma forma que os países em que estão sediados, transformaram a Rússia de Vladmir Putin numa espécie de besta apocalíptica.

Todavia, o que a maioria dessa grande mídia empresarial esconde é que, faz anos, que o líder russo vem alertando e denunciando a política expansionista e belicosa da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte – em direção ao leste da Europa, outrora denominado como Cortina de Ferro, nos tempos em que vários países dessa região integravam a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

 A OTAN, na sua sigla francesa e portuguesa, ou NATO, no inglês, é uma organização militar liderada pelos Estados Unidos da América – EUA –criada em 1949, numa aliança norte-americana e canadense com dez países europeus, dentre eles Grã-Bretanha e França, com a finalidade de deter um supostoe temível avanço da URSS em direção à Europa. Com o desmantelamento da URSS ruiu a aliança militar oponente da OTAN, o Pacto de Varsóvia. Era de se esperar que também a OTAN fosse extinta desde que sua principal finalidade não mais existia. Pelo menos que se estagnasse nos limites antigos.

A “glasnost” (transparência) e a “perestroika” (reestruturação), conduzidas na década de 1980 pelo governante da URSS, Mikhail Gorbatchev, levaram à gradativa implosão da União Soviética. Não somente por isso, certamente pelos abalos estruturais nas órbitas de países satélites europeus e as dificuldades econômicas enfrentadas pela potência comunista. Simbolizada pela Queda do Muro de Berlim, em 1989, a dissolução da URSS suscitou, nesse mesmo ano, a propagação do livro do nipo-americano Francis Fukuyama intitulado O Fim da História e o Último Homem. Nesse ensaio o autor dava como definitivo o triunfo da Democracia Liberal, chegando a humanidade ao ponto final da sua evolução ideológica. Fukuyama, na verdade, se baseou em interpretação filosófica de Hegel, do século XVIII, feita no século seguinte pelo filósofo russo Alexandre Kojève diante do aniquilamento do fascismo, trazendo a ideia para o suposto fim do comunismo. No nosso modo de ver, fracassou Fukuyama ao subestimar outras ramificações do comunismo, tipo China, Vietnam, Cuba e Coreia do Norte. A própria Rússia, que era a cabeça da União Soviética, desde então vistacomo decadente, quase que moribunda, até a presidência de Bóris Yeltsin, veio recuperar sua importância histórica e avançou economicamente sob as batutas de Vladmir Putin e Dmitry Medvedev, duas lideranças políticas proeminentese sintonizadas. Na visão desses governantes não era objetivo resgatar a União Soviética, mas, ao menos, a grandeza do que foi o império russo.

Invadir a Ucrânia não era parte do cardápio russo. Não somente pelos laços históricos que os remete ao século IX e ao Principado de Kiev, que foi o embrião do Império Russo. A partir do século seguinte essa região é cristianizada, sendo até hoje a religião cristã ortodoxa a dominante em ambos os países. A primeira separação desses povos eslavos viria com as invasões mongóis no século XIII, caindo, depois, os ucranianos sob domínio polonês e do ducado da Lituânia. Para a glória da República Socialista Soviética da Ucrânia, o ucraniano Nikita Krutchev passa a ser o principal dirigente de toda a URSS, logo após a morte de Stálin, permanecendo no poder de 1954 a 1964. Em sinal desses laços de fraternidade e amizade, Nikita doa a Criméia à Ucrânia, região que foi anexada ao Império Russo desde o século XVIII, por isso mesmo retomada por Putin em 2014, depois da ocorrência de um Golpe de Estado que derrubou o presidente ucraniano pró-Rússia, Víktor Yanukóvich. São essas mesmas correntes golpistas, insufladas por correntes neonazistas dos ASOVs, do partido ultradireitista Svoboda e pelo também direitista Movimento Udar (Soco) dos campeões mundiais de boxe e irmãos Vladmir e Vassili Klitschko, este o atual Prefeito de Kiev, que vinham pregando e insuflando o povo para a adesão da Ucrânia à OTAN e à União Europeia (U.E.).

Esta guerra poderia ter sido evitada. Principalmente pelos ucranianos deslumbrados com o Ocidente, que estão de passagem pelo poder da Ucrânia. Eles são os reais responsáveis pela ameaça de perda da liberdade e da democracia ucraniana. Volodymyr Zelensky, seus aliados e simpatizantes se inclinaram pela aparente vida livre e de oportunidades que o Ocidente oferece. Eles também fizeram parte ou foram coniventes com o Golpe que derrubou Yanukóvich em 2014. Eles querem a OTAN e a U.E. Porém, a maioria que fala russo e defende a Rússia, tanto na anexada Criméia como nas autoproclamadas repúblicas separatistas de Lughansk e Donestk não querem. Por que abandonar a Rússia? Pode isto até ser melhor para os ucranianos com sonhos ocidentais, pró-americanos. Mas, mais próximo, mais seguro e mais fraterno para a Ucrânia é a Rússia. Ouvi de um poeta ucraniano, através do canal Globo News, que dificilmente um ucraniano não tem parentes na Rússia ou algum russo não tem laços familiares com ucranianos. Então, por que essa sedução pelo canto da sereia por povos e culturas diferentes e distantes?

Repugnante e nojento é o país, líder de uma OTAN, que deveria estar extinta em nome da paz, os Estados Unidos, empurrarem os deslumbrados governistas da Ucrânia para a guerra. Até por interesses econômicos e não apenas geopolíticos e estratégicos. Afinal de contas, existe o interesse dos norte-americanos de venderem seu petróleo e seu gás para a Europa, que compra 40% do gás russo. E junto com os EUA, quase que incondicionalmente sempre estão os ingleses e seu Reino Unido. E seus demais asseclas europeus, tipo a alemã da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e o espanhol Josep Borrel, Alto Representante da U.E. para Negócios Estrangeiros.

Não é esta uma guerra inesperada. Por isso mesmo poderia ter sido evitada, principalmente do lado europeu e norte-americano. Que não estão diretamente no conflito, mas, põem lenha na fogueira, enviando dinheiro farto e armas, estas do agrado da indústria armamentista.

Como as pessoas ocidentais caem nesse engodo, deixando de perceber os interesses de todos os lados. A Ucrânia não passa de um detalhe como escrevi em artigo anterior. Também para a Rússia acaba sendo um detalhe, mas Putin sabe que a Ucrânia na OTAN significa seus velhos inimigos apontando seus mísseis a 800 Km de Moscou.Ou não foi por razão semelhante que Kennedy ameaçou desencadear guerra nuclear contra a extinta União Soviética que iria instalar seus mísseis em Cuba, em 1962, ou seja a 400 km da Península da Flórida?

Como não sentir repulsa pela Grande Imprensa Empresarial? Comentários tendenciosos e manipuladores o tempo todo. Provocando comoção nas pessoas, principalmente os expectadores de TVs ou de vídeos nas redes sociais. É claro, cristalino e insofismável que nos apiedamos do drama de milhões de refugiados, das mutilações e mortes brutais causadas pelos diversos meios de combate. Porém, a guerra está instalada. Guerra sempre foi guerra, palco de atrocidades. O Ocidente ateou fogo e de longe continua fornecendo os combustíveis para a luta. Porém, aqui, o demônio é Putin não Joe Biden. Sinceramente, não vi essa mesma Imprensa condenando o monstro George W. Bush nas invasões do Irak e a total destruição desse país rico em petróleo. Nem a aventura bélica de Barack Obama no Afeganistão a troco de quase nada. Por que reprovam a independência de Donestk e Lughansk? Mas, aplaudiram os movimentos separatistas da Croácia, Eslovênia, Macedônia e Bósnia, fragmentando a então pequena Iugoslávia, no início dos anos 1990, atualmente reduzida à Servia. Invadiram a Líbia e mataram KIadhafi como cachorro de rua. Tentaram o mesmo com a Síria de Bashar Al-Assad, que somente não caiu porque a Rússia foi lá defendê-lo. Hipócritas e patifes são mesmo os governos e imprensa ocidentais.

Felizmente, o Brasil de hoje do Presidente Bolsonaro, o Brasil de ontem de Lula e de Celso Amorim, o Brasil do tradicional Itamarati, este mesmo Brasil que se agigantou com Rui Barbosa na Conferência de Paz de Haia, em 1907, em sintonia com o Chanceler Barão do Rio Branco, todos defensoresda autodeterminação dos povos – por isso, o Brasil votou contra a invasão da Ucrânia na ONU. Isto não quer dizer que o Brasil está do lado de Rússia ou Ucrânia. Estaria eu sendo incoerente em falar em autodeterminação dos povos e me posicionar do lado do país invasor? Talvez. Entretanto bato na mesma tecla de que a Rússia se viu obrigada a invadir para ser entendida. Pois, os próprios ucranianos não acreditavam que isto fosse acontecer, pois desde o Golpe de Estado de 2014, contra o Presidente favorável à Rússia e a consequente anexação da Criméia tudo não passava de intenções.

Nosso Presidente da República provavelmente que tenha sido pressionado pelo Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken a aderir aos interesses norte-americanos na guerra – não da Ucrânia. Todavia, Bolsonaro externou posição de NEUTRALIDADE na guerra atual, porquanto sabe que os interesses lá em jogo não são os mesmos interesses do Brasil. Bloquear bens de cidadãos russos fora da Rússia, para não falar no bloqueio dos bens e transações comerciais do próprio Estado russo, é ato de pirataria financeira a que estão acostumados os norte-americanos e seus aliados.

Não à Guerra. Porém condenação aos verdadeiros responsáveis por esta guerra.
 
 
        

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