Guaxupé, sábado, 20 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

UMA LEGÍTIMA DEFESA CONTRA OTAN, EUA e UE DEU LUGAR À INVASÃO RUSSA NA UCRÂNIA

quinta-feira, 3 de março de 2022
UMA LEGÍTIMA DEFESA CONTRA OTAN, EUA e UE DEU LUGAR À INVASÃO RUSSA NA UCRÂNIA Foto: Anatolii Stepanov/AFP

Não é de hoje que a corda vem sendo esticada entre as pretensões e as ações dos Estados Unidos da América (EUA), principal liderança da aliança militar denominada Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, em português e francês; ou NATO, em inglês), dos seus aliados da União Europeia (UE) mais o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, contra a tenaz e solitária Rússia.
Assim colocados esses atores num palco mundial, vejamos a sua teatralização. Finda a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha foi repartida entre os quatro principais aliados que derrotaram seu governo nazista: EUA, Reino Unido (historicamente formado pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda), França e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, aqui incluindo a Rússia, a Ucrânia e outros países do Leste europeu como a Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia e Tchecoslováquia).Fugiria do objetivo deste artigo historiar a maneira pela qual cada uma dessas nações foi compor a URSS, porque o assunto teria que adentrar o longínquo Império Turco-Otomano, o Império Austro-Húngaro e as duas guerras mundiais. Também Berlim foi dividida em quatro setores embora tivesse ficado territorialmente dentro da Zona de Ocupação Soviética. Mesmo assim permaneceu como capital da Alemanha Oriental, enquanto os países ocidentais tenham localizado Bonn como a sua capital. Segundo o “site” alemão dw.com, que pode ser lido em dw.com/pt-br/a-divisao-da-alemanha-de-1945-a-1989/a-958753, as porções ocidentais alemãs receberam recursos desde 1946, porém, foram substancialmente beneficiadas com o chamado Plano Marshall, que disponibilizou US$1,4 bilhão (dólares) para a sua RECONSTRUÇÃO,no período de 1948/52, enquanto o território soviético de ocupação foi alijado desses recursos, tendo a URSSde cuidar não somente da reconstrução do lado oriental como, também, de contribuir para a reparação de danos do lado alemão ocidental.
A mencionada matéria do DW.com, de 5 de março de 2013, nos oferece uma síntese: “A derrota da Alemanha na 2ª Guerra Mundial resultou na divisão do país, que se tornou o marco de dois blocos políticos e econômicos antagônicos. Era o início da Guerra Fria”. Acrescento: uma luta desproporcional entre a riqueza inesgotável do Capitalismo contra as limitações financeiras do socialismo soviético, nascido na Revolução Russa de 1917. Esse antagonismo se estenderia para o campo militar com a criação da OTAN, em 1949, integrada por 2 países da América do Norte – EUA e Canadá – e 10 da Europa, ficando sediada em Bruxelas/Bélgica. Em 1955, é criado o oponente militar socialista, chamado de Pacto de Varsóvia/Polônia.
A Guerra Fria foi um período de ameaças e escaramuças entre os países socialistas, tendo à frente a URSS, e o mundo capitalista liderado pelos EUA em aliança com países como Canadá, os latino-americanos, e a Europa ocidental, mormente a “mãe” Inglaterra. Esse período do pós-guerra durou até 1989, atingindo seu clímax na Crise dos Mísseis, em 1962, ocasião em que houve efetiva movimentação da União Soviética/URSS no sentido da instalação de mísseis na ilha de Cuba, que havia se proclamado marxista-leninista desde a vitória da Revolução Cubana, em Janeiro de 1959. O clima vinha tenso desde 1961, ocasião em que cerca de mil milicianos e exilados cubanos, treinados pelo serviço secreto dos EUA, com apoio militar norte-americano, fez uma incursão em solo cubano, pela Baía dos Porcos e Praia de Girón, com o decidido objetivo de derrubar o Regime Comunista de Cuba. A inteligência local e as tropas bem treinadas frustraram essa investida no prazo de três dias, prendendo ou pondo em fuga os invasores. Sempre se ouviu falar que Cuba é quintal dos EUA, porquanto dista de Miami/Floridapouco mais de 400 km. Atualmente, não seria nem o dobro a distância entre Moscou e a fronteira da Ucrânia/Rússia pela região de Kharkiv. Se lá no auge da Guerra Fria protestaram os norte-americanos com medo de mísseis soviéticos em Cuba, não é muito diferente agora ter uma Ucrânia ocidentalizada e integrada à OTAN com mísseis nucleares apontados para Moscou, a menos de 800 km.
Caberia à Rússia que não insistisse em argumentos menores, embora reais, para a atual Operação Militar. Num deles, sobre a Criméia, anexada em 2014, que, historicamente, pertenceu ao Império Russo desde o século XVIII. Por laços de amizade e patriotismo do Primeiro-Ministro da URSS, o ucraniano Nikita Kruschev fez a doação da região crimeniana à administração da Ucrânia em 1954, pois todas as repúblicas soviéticas remavam num só objetivo. Nem o inegável anseio dos enclaves de Donetsk e Lughansk, habitadas por maioria russa, que se autoproclamaram repúblicas independentes, situação ignorada por Kiev, cujas lutas fratricidas ao longo destes dez anos contam cerca de 15.000 mortos. É aqui nesta região que Vladimir Putin denuncia que forças militares da Ucrânia têm cometido extermínio brutal dos rebeldes e separatistas russos, que ele classifica como genocídio.
Porém os motivos mais importantes e cruciais que determinaram a presente INVASÃO RUSSA NA UCRÂNIA são evidentes, irrefutáveis e de risco para a segurança russa. O perigo vem das ruas, da política, dos exércitos, enfim da própria sociedade, os quais vivem a ilusão da ocidentalização, sendo este objetivo manipulado por extremistas de Direita. Não interessa dizer que o Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky é judeu, por conseguinte, teria tido antepassados exterminados no Holocausto e, por isso mesmo, não pode ser rotulado de nazista. A questão é que desde a chamada Revolução Laranja de 2004, que protestou nas ruas, pressionou e obteve a anulação da vitória do comunista Víktor Yanukóvich na eleição de Presidente da República, tudo porque era ele pró-Putin e natural de região de maioria russa, era notória e declarada a presença de neonazistas nas manifestações de rua. ZELENSKY pode ser judeu, mas é um moleque fanfarrão, exibido e irresponsável, muito atraente para os nazistas ucranianos, que são reais, usam a suástica do nazismo Não é sem razão que PUTIN usa o termo DESNAZIFICAÇÃO da UCRÂNIA, além das denúncias de GENOCÍDIO. Pois são esses mesmos grupelhos, agressivos e ameaçadores, os manipuladores do povo nas reivindicações ena busca pela adesão da Ucrânia à União Europeia (U.E.), por conseguinte a adesão à OTAN. Por certo, é uma sintonia com os anseios norte-americanos e de grande parte da Europa de acuar a Rússia, apontando para ela mísseis atômicos. Para esses endoidecidos extremistas não interessa que pais ou avós tenham morrido combatendo o exército alemão ou as milícias de Hitler, como disse em entrevista nesta 5ª feira, 3, Sergei Lavrov, o tarimbado Ministro do Exterior russo. Os ucranianos ignoram os séculos de fraternidade com os russos, suas mesmas raízes eslavas, preferindo a influência de países vizinhos, especialmente a Polônia, que também é eslava, mas, cujo povo morre de simpatia pelos Estados Unidos e renega a Rússia, certamente pelo mesmo passado da Ucrânia, da Romênia, da Hungria e de outros desse mesmo leste da Europa, que durante anos se sentiram subjugados pela extinta União Soviética. Não vejo medo desses povos numa expansão russa, mas, sim, SEDUÇÃO pelo materialismo, pelo consumismo, até pela libertinagem ocidental. Algum leitor contestará que materialista e ateísta é o comunismo. Respondo eu que esse comunismo é raro no mundo de hoje, aliás, a falta de liberdade religiosa foi um dos pilares que ruíram na antiga URSS, pois, os russos se constituem de 79% de cristãos ortodoxos e 4% de outras religiões cristãs.
Desde o começo do século atual a Ucrânia tem vivido tribulações político-ideológicas. Pude melhor entender dessa situação lendo matéria antiga, de 15-dez-2013, com o título: ‘O QUE ESTÁ POR TRÁS DAS MANIFESTAÇÕES NA UCRÂNIA?’, (bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131215_ucrania_protestos_geopolitica_mm), da BBC News Brasil. Também me inteirando no “site” Historia-Biografia, a vida de Víktor Yanukóvich, por Leydy Montoya, de 2-fev-2022.
Yanukóvich é o personagem que nos chama a atenção de início. Nasceu numa pequena cidade da Província de Donetsk, sendo o pai metalúrgico e a mãe enfermeira. Segundo a autora, Leydy Montoya, Víktor seguiu os passos do pai, indo trabalhar na indústria pesada. Todavia, em 20 anos de carreira subiu de mecânico a executivo. Enquanto isso, cursou o Instituto Politécnico de Donetsk, formando-se em engenharia mecânica. Entrou para a política filiando-se ao Partido Comunista. A comunidade empresarial lhe deu apoio e ele foi eleito governador da Província de Donetsk em 1997. Durante o exercício desse cargo, voltou a estudar e obteve licenciatura em Direito, no ano 2.000. Em 2002, o Presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma o nomeou Primeiro-Ministro, época que ele nem falava a língua ucraniana, pois, sua região natal fala o idioma russo. Junto com o Presidente Kuchma, ele demonstra sua proximidade com a Rússia. Nas eleições de 2004, Yanukóvich se candidata à Presidência do país, indo para o 2º turno, e neste se sai vencedor, apoiado por Putin. A oposição – como virou moda – alegou fraude eleitoral. Disso vieram os protestos de rua, ficando o episódio conhecido como Revolução Laranja, nela sobressaindo Yulia Tymoshenko como grande líder oposicionista. É realizado uma nova eleição de 2º turno, elegendo-se presidente o pró-ocidente Víktor Yushchenko, de quem Yulia foi Primeira-Ministra. Em 2010, em novas eleições presidenciais, o pró-Rússia, Viktor Yanukóvich é eleito o maior mandatário da Ucrânia. Durante o seu governo, em 2011, sua opositora Yulia Tymoshenko foi julgada e condenada a sete anos de prisão por abuso de poder em exercício anterior de Primeira-Ministra, ocasionando novos protestos no país. Quase no final do seu mandato, quando o povo pensava que Víktor Yanukóvich assinaria um acordo para futura adesão à U.E. ele decide por não assinar, inclusive por pressão da Rússia. Daí pipocam violentos protestos contra seu governo. Ressalta a matéria da BBB News Brasil que eles ocorrem na região de Kiev e mais a oeste, justamente em direções fronteiriças com a Europa, tipo Polônia entendo eu. Também surgiram acusações de corrupção no Governo, ficando eu atônito se, mundo afora, a moda é a malversação do dinheiro e patrimônio público; ou denúncias vazias de corrupção é a moda para destruir adversários? Diz a BBC: “três partidos do parlamento se juntam aos protestos”. Grande ativista é o ex-campeão mundial de boxe Vitaly Klitschko, que lidera o Movimento UDAR (soco, em ucraniano). É bom frisar que o extremista Vitaly é hoje o Prefeito de Kiev. A oposição (estamos falando de 2014) também é formada por uma novidade, os ultranacionalistas, um Regimento Paramilitar, tipo milícia, chamado de Regimento Azov, que, depois de alguns feitos voluntários foi integrado à Guarda Nacional da Ucrânia em novembro de 2014, recebendo elogios do então Presidente Petro Poroshenko. Se o caro leitor se interessar pelos AZOVs é só acessar: jornalggn.com.br/entenda/perfil-quem-e-o-regimento-de-extrema-direita –azov-da-ucrania/. O GGN é o jornal digital do famoso jornalista oriundo de Poços de Caldas-MG, Luis Nassif, de onde extraí estas breves informações deste grupo neonazista. Ainda temos de completar a lista dos extremistas de direita da Ucrânia a fim de se completar a matéria de 15/12/2013 da já mencionada BBC News Brasil: é o partido político Svoboda (Liberdade) sob a liderança de Oleg Tyahnybok. Mediante a atuação desses grupos junto à população eao Parlamento, Víktor Yanukóvich é deposto e ameaçado de prisão, fugindo da Ucrânia. Ele reapareceu na Rússia tempos depois. Na Ucrânia, foi condenado à revelia a 13 anos de prisão.
Eis muitos elementos convincentes que justificam a invasão da Ucrânia, a começar pelo seu próprio povo que vem cortejando um algoz dos mais fracos – os Estados Unidos / EUA – desde o fim da URSS, em 1989. Não é possível que essa população, tão próxima da Rússia, nunca tenha debatido a ameaça destrutiva que representaria a entrega da Ucrânia à voracidade de EUA e Europa, mormente da Inglaterra, e ao militarismo insensível da OTAN? Agora, diante das atrocidades naturais da guerra, entrevistados pelos grandes canais de TV, os ucranianos perguntam: por que os russos entram aqui para nos matar?  Afinal de contas, no jogo de poder, é igual no futebol: “quem não faz gol, leva”. O mundo inteiro sabe que a OTAN foi criada para proteger o Ocidente da União Soviética/URSS. Com o fim da URSS, todos nós sempre perguntamos: por que não deram fim nessa droga, que também é uma ameaça à paz terrestre? Não deram fim, aumentaram sua área de influência, expandiram seus limites. Talvez, agora, ainda aumentem mais, embora o mundo ainda tenha outros países de relativo poderio para os impedir. No amanhecer de hoje pude ver e escutar o notável filósofo estadunidense, Noam Chomsky fazer estas mesmas reflexões acerca da OTAN.
E o que falar da Grande Imprensa Ocidental? A gente tem até ânsia de vômitos de ter de escutar não as informações, mas insuportáveis comentários e pregações a favor – não da Ucrânia – mas a favor de Europa e EUA. Como eu disse no meu artigo da semana passada: a Ucrânia é mero detalhe a ser usado nesse conflito, embora sua população estivesse seduzida pelo canto da sereia. Eu me comovo com os dramas de todas as guerras. Mas, não dá para a gente se render às exibições chantagistas e emocionais dos noticiários, na manipulação das notícias. Dou dois exemplos dessa excrescência: CNN Brasil e Rede Globo, particularmente o canal pago, Globo News. Querem mudar até os objetivos das reuniões da ONU – Organização das Nações Unidas. Nesta 4ª feira, por exemplo, noticiaram por diversas vezes que o mundo todo repudiou e isolou a Rússia, divulgando o resultado da Assembleia Geral: 141 votos por “condenação”, palavra esta que foi substituída no texto votado por “deploração” à invasão russa, com 5 contrários: Rússia, Eritréia, Síria, Belarus e Korea do N. Entretanto, raríssimos mencionaram as 35 abstenções, dentre elas a China, a India, Angola, Argélia, Irak, Irã, Armênia, Bolívia, Cuba, África do Sul, Nicarágua, Vietnam e mais países africanos. Todos sob influência silenciosa da China. Nem apareceram prá votar: Venezuela, Marrocos, Azerbaijão, Togo, outra maneira de não se envolver abertamente. Nosso Embaixador, Ronaldo Costa Filho, seguindo a tradição do Itamarati, votou pela “condenação” da invasão em respeito à Autodeterminação dos Povos e Equidistância dos Conflitos, porém, fazendo os seguintesreparos verbais em seu discurso; “A resolução (deploratória) NÃO PODE ser vista como permissiva em relação à aplicação indiscriminada de sanções. Estas iniciativas não são condizentes com um diálogo diplomático construtivo e podem aumentar a tensão, além de terem consequências imprevisíveis na região e além dela”.
Por sua vez, o Presidente Bolsonaro, em entrevista na noite de domingo de Carnaval, no Guarujá-SP, reafirmou a posição de neutralidade do Brasil. Diante das possibilidades de negociação entre os países em conflito ele não poupou o Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky: “O povo confiou nele, um comediante, o destino de uma nação. Ele deve ter equilíbrio para tratar desse assunto” Perguntado por uma jornalista como o Presidente vê o massacre russo, ele respondeu:“Que massacre?Armas de guerra não são brinquedinhos,são feitas para matar”.
Guerra é uma atitude deplorável, uma catástrofe humana. Ucranianos, OTAN, EUA e UE devem estar arrependidos de acuarem Putin e a Rússia, diante da ampla possibilidade de atendimento aos pedidos russos de não armarem a Ucrânia, deixando tudo em paz como estava. De repente, nem todos arrependidos, colocaram fogo no teatro, fornecem armamentos e dinheiro e contemplam o resultado à distância, maldizendo e abominando Vladimir Putin, intrigando o mundo, inclusive os próprios russos.
 

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