Guaxupé, quarta-feira, 24 de abril de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

A UCRÂNIA É MERO DETALHE NA GUERRA ENTRE DOIS IMPÉRIOS

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
A UCRÂNIA É MERO DETALHE NA GUERRA ENTRE DOIS IMPÉRIOS Foto: Divulgação

Nem sei se o massacrante noticiário dos últimos tempos está mesmo preocupado com a possibilidade do estouro de uma catastrófica guerra mundial, ou se aqui do nosso lado viceja uma estrondosa propaganda destinada a dar sustentação à atual geopolítica deste planetário Ocidente. Vou mais além, nem sei se é mesmo interesse consensual de toda a União Europeia – UE – numa efetiva aliança punitiva desencadeada pelos Estados Unidos da América – EUA – contra a Rússia em face da questão da Ucrânia. Interesses econômicos e pressões políticas são poderosos meios de submissão de ambos os lados contendores.
Já houve épocas em que as narrativas de guerra criadas pelos comandos dos litigantes impressionaram e foram decisivas para o curso dos conflitos. Na atualidade, com a instantaneidade da informação nem todas as narrativas prosperam ou ganham o Selo da Verdade. Há veículos informativos mundo afora comprometidos com governos ou com ideologias, por isso mesmo, meios de comunicação não confiáveis. Com isso, tento exprimir que as falsas narrativas de guerra dos velhos tempos já não se sustentam diante dos modernos tipos de mídias construídas a partir da internet.
Para expormos e comprovarmos a existência da mentira e da farsa, recuemos ao começo deste nosso século, também começo de um milênio, quando espiritualistas, astrólogos e místicos saudavam como o portal do renascimento da humanidade. Quer dizer que a virada de século e de milênio nos conduziria para a transição das eras geológicas terrestres, de Peixes para Aquário, sendo que esta transição nos levaria positivamente para um período de melhor entendimento e de fraternidade. Para a decepção dos que assim pensavam, logo em 2003 os EUA promoveram uma segunda invasão do Iraque, através da gestão presidencial de George W. Bush, desta feita usando do pretexto – sobejamente provado e demonstrado como vergonhosa mentira – de que aquele país do Oriente Médio, então governado por Saddam Hussein, possuía arsenais de armas químicas e, possivelmente nucleares. A invasão e ocupação da pátria soberana do Iraque, resultou na sua devastação quase que total, inclusive de patrimônios históricos e bíblicos da chamada Arte da Mesopotâmia, além do pior e do irreparável – a perda de 500.000 vidas humanas ou mais. Tamanho foi o morticínio resultante da ocupação norte-americana, aonde tribos e correntes religiosas muçulmanas foram jogadas uns contra outros, num fomento de atentados e assassinatos que, 20 anos depois, a vingança ainda os move. Dentre tantos artigos relativos a essa farsa, sugiro pelo menos este da respeitável alemã DW: dw.com/pt-br/guerra-do-iraque-uma-invenção-americana/a-43309906.
O nosso diligente leitor deve estar questionando o que teria a invasão do Iraque pelos EUA com a operação militar desta 5ª feira, 24, desenvolvida pela Rússia na Ucrânia? Certamente, que eu não poderia abordar uma indisfarçável invasão russa, a um país limítrofe e irmão, de entrelaçamentos históricos desde a fundação dos Principados e do Reino da Rússia, sem que se faça um desmascaramento inevitável e necessário de mais uma intromissão dos EUA nessa questão. Afinal de contas, por que os norte-americanos, que são useiros e vezeiros em atos de invasão a países livres e soberanos, vão se meter no conflito russo-ucraniano sob a desculpa de defender a autodeterminação da Ucrânia? Quem são os Estados Unidos para tomarem as dores da Ucrânia se eles não possuem laços étnicos, culturais, políticos ou religiosos para se prestarem como defensores desse país do leste da Europa? Diz o ditado popular: “Faças o que eu digo, mas não faças o que eu faço”. Ah! Sim, querem os EUA dar essa lição na Rússia? Entretanto, historicamente, não existe essa coerência norte-americana na defesa da autodeterminação dos povos. Lá nos anos 1950 se meteram na guerra entre as duas Coreias. Nos anos 1960 invadiram o suposto frágil e desarmado Vietnam, onde quebraram a cara, mesmo usando armas químicas, que tanto condenam – o napalm – foram derrotados. Em 1983, os EUA invadiram uma ilha e país de maioria afrodescendente, Granada, no Caribe, que implantara um governo de esquerda e se aproximara do regime marxista-leninista de Cuba. Em 2011, foi desumana e covardemente assassinado, em revolta popular insuflada pelos EUA, Reino Unido e França, sob patrocínio da ONU, o Líder Muammar Kadhafi, que, em 1969, derrubou a monarquia da Líbia e se aproximou da União Soviética, construindo um país próspero com a exploração do petróleo nacionalizado.
São muitas as intervenções externas e descaradas dos EUA, outras com a sordidez e sombras da CIA – Central Intelligence Agency.  Citemos apenas mais algumas: a ocupação do Afeganistão por mais de dez anos; o estímulo e participação na destruição da Síria, tradicional aliada da Rússia, que entrou na parada e evitou a queda de Bashar Al-Assad; o patrocínio de inúmeros Golpes de Estado e ditaduras sanguinárias na América Central e América do Sul, incluindo o Brasil de 1964.
Diante dessa amostragem de intervenções antidemocráticas e criminosas mundo afora, ainda restou dizer que em 2014, o Presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovytch, eleito democraticamente, tinha posição pró-Rússia. Como é habitual acontecer, através de manipulação externa dos EUA, houve revolta popular que o derrubou do poder, dando ensejo à eleição de um governo pró-ocidental, que busca se integrar à EU. Pior do que isso, deseja fazer parte da OTAN/NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte – uma força militar constituída nos tempos da Guerra Fria entre EUA e a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – sendo que a URSS se apoiava na força militar do Pacto de Varsóvia. Desnecessário dizer que, após a Queda do Muro de Berlim, a OTAN poderia ter sido extinta. Pelo contrário, ela foi ampliada para os antigos países da Cortina de Ferro, incluindo países que fazem fronteira com o atual território russo, como os Países Bálticos, criando um receio natural na Rússia. A admissão da Ucrânia à OTAN tem sido encarada como uma provocação e uma ameaça à Rússia.  Não foi por outra razão que a Criméia, importante base militar russa, que fora anexada em 1783 ao Império Russo, de novo foi incorporada à Rússia, em 2014, depois de ter sido doada pelo ucraniano e Primeiro Ministro da URSS, Nikita Krushevev, em 1954, a fim de reforçar “a grande e indissolúvel amizade entre os dois povos”. A Crimeia e a região portuária de Sebastopol tem população predominantemente russa, assim como a Província de Donbass, onde se encontram as autoproclamadas Repúblicas de Donestk e Lughansky.
É bom refletir que estas duas regiões – Donestk e Lughansky – se dizem livres da Ucrânia desde 2014, com governos locais pró-Rússia, mantendo uma resistência armada contra o exército ucraniano. A Rússia tem afirmado que a Ucrânia tem cometido verdadeiros genocídios contra russos habitantes do seu território. O caro leitor deverá ainda observar que, após a dissolução da União Soviética, muitos países balcânicos, que integravam a Federação Yugoslava, foram se autoproclamando independentes, tipo Eslovênia, Croácia, Macedônia e, depois, Montenegro. O cerne da Yugoslávia era a Sérvia, cujos líderes, fiéis ao socialismo, acabaram sendo presos e condenados pelo TPI – Tribunal Penal Internacional – inclusive, um deles, Slobodan Milosevic, morreu durante seu faccioso julgamento. A Bósnia Herzegovina se declarou independente em 1991, porém a população sérvia nela existente se recusava a abandonar a própria Sérvia. Houve grandes combates em Sarajevo e Srebrenica, com acusações de genocídio por parte dos sérvios contra a grande maioria muçulmana. Houve intervenções políticas da ONU; e militares por parte da OTAN, que efetuou bombardeios em larga escala.
Dessa última exposição, após a anexação da Criméia à Rússia, também considerando Etnia, História, Cultura e Religião, que hoje também valem para as novas Repúblicas de Lughansky e Donestk, escrevi um artigo para este jornal, no início de 2015, intitulado YUGOSLÁVIA PODE, UCRÂNIA NÃO PODE. A motivação veio da comediante e atriz da Rede Globo, Karla Fabiana, que fazia o papel de uma obesa nutricionista, no programa humorístico Zorra Total, no qual ela selecionava alimentos e guloseimas, “o que pode e o que não pode”, em quadros divertidíssimos. AQUI, tratando-se de geopolítica, quem determina quem pode se autoproclamar independente são os EUA e seus aliados europeus, mormente “mãe” Inglaterra e seu Reino Unido. Percebam que Donestk e Lughansky não podem se tornar livres, por vontade própria e com proteção militar da Rússia, ENQUANTO um ninguém, sem lastro de poder, um aventureiro, JUAN GUAIDÓ, foi reconhecido por Estados Unidos e a maioria da Europa, que tem o escudo militar da OTAN, como Presidente Encarregado da Venezuela. É uma hipocrisia sem fim que nunca engoli.
 

Comente, compartilhe!