Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
João Júlio da Silva
João Júlio da Silva PAPOENTRELINHAS João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé. Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com

Nuvens tenebrosas e o 11 de setembro

sexta-feira, 11 de setembro de 2020
Nuvens tenebrosas e o 11 de setembro

Neste 11 de setembro, que faz relembrar imagens internacionais de terror e golpe, o tempo é sombrio e algo de muito podre paira no ar deste país que se tornou minúsculo após a rasteira dada contra a democracia em 2016. Nuvens tenebrosas de um retrocesso histórico cobrem o Brasil.
Numa mesma data em que dois fatos repugnantes marcaram o cenário mundial, um no Chile em 1973 e outro nos Estados Unidos em 2001; no Brasil, o povo está convivendo com o fantasma da fome num quadro de desemprego e perda de conquistas trabalhistas e sociais.
Esse caos é consequência direta do fato de um preso político ter sido tirado fora da disputa eleitoral a presidente por determinação de uma justiça carrasca e partidária. Um absurdo em pleno terceiro milênio, repetindo as sombras de um passado não muito distante.
Neste 11 de setembro, o golpe militar no Chile está completando 47 anos e o atentado nos EUA, 19 anos. No Brasil, a data é relembrada apenas pelo que ocorreu nos EUA, como sempre destaca a tradicional mídia reacionária, ignorando por completo o golpe ocorrido no país vizinho.
Golpe contra a democracia é comum em solo latino, a história sempre se repete, como no tempo da ditadura militar, o Brasil ficou recentemente sob um regime golpista por dois anos, de 2016 a 2018, quando se instalou no país um governo ilegítimo, representante da elite das velhas oligarquias, tendo como porta-voz a partidária e tradicional grande mídia. Desde então, a democracia geme após a criminosa rasteira dos golpistas de plantão. A consequência disso está aí, foi colocado no poder um elemento desqualificado e desumano, que está há dois anos arrebentando com o país.
No atentado terrorista nos EUA teriam morrido mais de 3.200 pessoas e no golpe militar contra o Chile, milhares perderam suas vidas. Até hoje, não se sabe ao certo quantas pessoas foram assassinadas pelos golpistas no país vizinho.
Os dois fatos foram de grande magnitude e tristeza, mas não é pelo número de vítimas que se deve dizer que um foi mais trágico que o outro, pois vidas humanas se perderam devido a homens maus, compromissados com o imperialismo e o terror.
O Chile relembra mais uma vez o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. Em 11 de setembro de 1973, um golpe de Estado realizado pelas classes dominantes chilenas derrubou o governo da Unidade Popular, presidido por Allende, assassinado pelos golpistas. As Forças Armadas, sob a direção do general Augusto Pinochet, contaram com o apoio do imperialismo dos EUA, e o golpe foi articulado e financiado pela CIA e pelas transnacionais norte-americanas. E contou ainda com o apoio dos governos ditatoriais latino-americanos, inclusive o brasileiro, associados com o imperialismo de Tio Sam na denominada “Operação Condor”.
O golpe militar encerrou a experiência de um governo comprometido com as causas sociais, introduzidas no Chile em 1970, com o presidente Allende. O aparelho militar-policial realizou então um dos maiores banhos de sangue contra um povo da América Latina. Por que a mídia não se interessa por esse ato criminoso contra um país? Ora, são as regras do mercado financeiro, do capitalismo!
O 11 de setembro dos EUA será sempre lembrado em todo o mundo. Já o chileno, sequer é mencionado! Que a data chilena seja lembrada sempre, pois se trata sim de uma grande barbárie contra uma nação soberana.
Uma das últimas frases ditas por Allende naquele 11 de setembro de 1973 foi: “muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor”. Que este seja o sonho e a luta de todos aqueles que estão comprometidos com a democracia e a liberdade de um povo.
Falar do Chile é lembrar do seu poeta maior, Pablo Neruda, ganhador do Nobel de Literatura. Em janeiro de 1973 ele escreveu “Vem comigo”, que diz: “Por isto estou aqui em tua companhia: pelo Chile, sua azul soberania, e pelo oceano dos pescadores, pelo pão dos meninos cantadores, pelo cobre e a luta na oficina, pela agricultura e pela farinha, pelo bom companheiro e pela amiga, pelo mar, pela rosa e pela espiga, por nossos compatriotas olvidados, estudantes, marinheiros, soldados, pelos povos de todos os países, pelos sinos e pelas raízes, pelos caminhos e pelas veredas que levam a luz ao mundo inteiro e pela vontade libertadora das bandeiras vermelhas na aurora. Com esta união estão minhas alegrias. Luta comigo e eu te entregarei todas as armas de minha poesia”.
Mas em setembro daquele mesmo ano, os assassinos derrotaram a luz. As trevas imperialistas fizeram o serviço sanguinário, portanto, a data de 11 de setembro diz muito mais que os atentados contra os EUA. Os imperialistas sanguinários invadem países e matam inocentes como se fossem os donos do mundo. Mudam-se os presidentes, mas as guerras e os golpes continuam a matar, matar e matar.
Como são inspiradores e ainda atuais os versos de Neruda nos dias que correm,    pois os EUA continuam investindo contra países soberanos, desestabilizando governos legítimos, para que os entreguistas, praticantes do crime de lesa-pátria, entreguem suas riquezas e rasguem suas leis, como vem ocorrendo no Brasil. Eles, os imperialistas, sempre eles, deixam o mundo mais sombrio e triste.
E por oportunos e plantados 20 centavos das “farreatas” de 2013, golpistas canalhas desestabilizaram o Brasil, deram uma rasteira na democracia, instalaram uma ditadura parlamentar-jurídico-midiática, entregando o patrimônio nacional, acabando com direitos trabalhistas e destruindo o sonho de uma nação que ousou ser grande em determinado período de um governo democrático de políticas sociais. Por fim, chegou ao poder a monstruosidade das trevas.
E que abismo tenebroso os golpistas jogaram este país, onde um ser abjeto, tosco, desqualificado, imbecil ao extremo, nazifascista desequilibrado, que deveria estar atrás das grades, se candidata a presidente desta republiqueta de bananeiras e arrasta atrás de sua figura demoníaca, milhares se seres acéfalos e medíocres! Pior, por meio de mentiras, através das famosas “fake news”, chega ao poder do país, como se estivesse comandando uma falange. Um retrocesso histórico absurdo!
Os “manifestoches” reacionários abriram a porta do inferno, de verde e amarelo, e jogaram o país no abismo das trevas. E são os trabalhadores que estão pagando caro pela patologia do ódio que os “patotários” espalharam com suas farreatas golpistas.
Que a luta daqueles que sonham com um país soberano, livre e democrático, seja firme para o pleno restabelecimento da democracia e do Estado de Direito neste país que se tornou tão minúsculo!
Tempo de trevas, mas de resistência e muita luta!

 

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