Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
João Júlio da Silva
João Júlio da Silva PAPOENTRELINHAS João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé. Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com

Os dias maus também estão todos contados

domingo, 5 de julho de 2020
Os dias maus também estão todos contados A grande praga sombria, o Coronavírus, está à porta. (Foto: Divulgação)

     Triste tempo o qual estamos vivendo! Quando os dias são maus e não se pode ir a lugar algum é preciso paciência e sabedoria. Sim, os dias são maus e sair à rua pode ser muito perigoso, um encontro com a morte. Em tempo de pandemia é vital o distanciamento de todos, pois a grande praga sombria, o coronavírus, está à porta. Como se já não bastasse a desgraceira que domina todo o país!
Um imenso vazio toma conta dos dias, chega a doer a alma. Ouço ao meu redor os passos maltrapilhos do silêncio tropeçando em minha sombra. Ecoa em mim a minha ausência.
Enquanto isso, monstros engravatados metralham minhas palavras.Arrogantes, gritos medonhos surgem roubando o branco do papel. Rabiscam nomes indecifráveis até tomarem a folha com letras minúsculas. Está ditada a voz dos trovões. Por fim, a sombria manchete dos jornais desaba como tempestade anunciada.
O ódio saiu por aí como folha sem rumo levada por um vendaval que uiva seus impropérios. A hipocrisia toma vulto nos corredores do poder.
     Não, não vou embora para Pasárgada, pois não sou amigo de rei algum! No meu caminho não tinha pedra nenhuma e sim o enorme vazio da existência. Em minha terra nem terra tenho, trago comigo apenas o exílio nos Dias da canção. Navegar não é preciso, viver não é preciso, é urgente a necessidade de sobreviver. Não sou Pessoa de hastear Bandeira nos Dias de Drummond.
Jamais receberei o título de "Cidadão Honorário de Pasárgada". Não sou amigo do rei! O meu reino não é deste mundo.
Deixa estar! O tempo não se ilude em nos acenar e as mãos ensaiam um derradeiro adeus. Muitos já se foram, mas se deixaram ficar na vazia presença de tantas noites e manhãs. Vejo gestos inconfundíveis e posso ouvir ruídos, vozes que ainda habitam o palco que agora se veste de silêncio.
A idiossincrasia voa como pássaro metálico rasgando minhas lembranças. Meus olhos veem sinais, ícones caminhando pelas paredes da teoria.
Metamorfoses históricas extrapolam os limites de Pindorama e os caraíbas vão além do nheengatu. Uma foto linda e maravilhosa que não convence o sermão da sociologia.
A arte está definida numa pesquisa cinética como catarse da metodologia cotidiana.
O maniqueísmo da dialética se arrasta por dias sem fim, cambaleando na vã filosofia de uma sexta-feira sempre etílica.
Meios antropofágicos vagueiam culturas alienígenas na comunicação estética de mensagens dúbias.
Frágeis ideologias, que não sabem do ridículo certificado da ignorância, lutam pela essência do vácuo.
O momento é de fechar as cortinas, deixar o palco que foi o universo de muitos passos.
     Agora, mais do que nunca, estou solitário, tomado pelo sonho maior: fazer da vida a verdade suprema de todas as notícias.
Há muito tempo estou distante. Onde, as belas manhãs? Apagaram a fonte de luz, meus olhos não ousam o passado, mas ainda trago comigo o aroma rubro de uma energia revolucionária, que ousa vislumbraro mundo que planejamos ser o nosso jardim.
Atiraram dias sombrios e cabisbaixos em meu caminho, mas não impedirão o alvo por conquistar. Mais do que nunca sinto a necessidade de, a todo momento, escrever amor em minha alma. Sei que virá uma manhã quando poderei sorrir um outro ser. Já sinto no corpo a luz que me levará além das fronteiras deste mundo obscuro.
Sempre há uma esperança, os dias maus, assim como os demais, também estão todos contados.
     Uma poesia saudosa chora seus versos em mim e tenta derramar um gesto qualquer neste papel maltrapilho, um pedaço de jornal levado por um vento solitário e sem rumo pelas encruzilhadas vazias, gritando como um cigano a notícia feliz de se ter um grande sonho, mesmo em dias sombrios quando as palavras se fazem ausentes num silêncio que grita o horror de nada ter a dizer sobre coisa nenhuma, apesar das inevitáveis manchetes diárias.
O vento me leva pelas mãos, sou um verso livreque deseja todos osvoos da poesia...

João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé.
Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com/
 
 

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