Guaxupé, sábado, 27 de abril de 2024
João Júlio da Silva
João Júlio da Silva PAPOENTRELINHAS João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé. Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com

Dependência sem grito nem voz de independência

domingo, 6 de setembro de 2020
Dependência sem grito nem voz de independência

O Dia da Independência do Brasil está a cada ano passando mais e mais em brancas nuvens. Em 2020, ele está envolvido em tenebrosas trevas, numa dependência sem grito nem voz de independência. A data de 7 de setembro parece não dizer muita coisa, quase nada. Não há o que comemorar. Se antes o país era colônia de um país só, agora o mundo todo usa e abusa de suas riquezas, das que ainda restam. Atualmente, sob o domínio do obscurantismo, o Brasil está de quatro diante da ditadura do capital especulativo internacional e de seus exploradores. Mas, o grande verdugo que tudo faz e apronta, sem dúvida nenhuma, ainda é o imperialismo desumano e sangrento dos Estados Unidos.
Em um tempo em que nem o grito dos excluídos é ouvido, o povo rasteja na imundície da sarjeta em que foi jogado. O brado da voz rouca das ruas está entalado na garganta, sem forças, não se faz ouvir por aqueles que se acham donos de tudo, que entregam o país de bandeja aos neocolonizadores sob o engodo da globalização e de um patriotismo às avessas, que tudo desfaz, detonando o patrimônio público.
A soberania nacional é algo muito sério que hoje poucos dão importância devido ao estado de letargia em que vive a maioria do povo brasileiro. Se ele não abrir o olho em tempo, esta terra será completamente tomada pelo grande capital, que tudo toma e devora. Há um enorme risco de o país perder sua soberania. Até seu petróleo está sendo entregue de mão beijada, como se nada valesse, pelos demônios de plantão.
Como tudo na republiqueta de bananeiras, a Amazônia também está correndo sério risco de cair definitivamente em mãos especulativas se nada for feito em sua defesa. A situação é caótica. Aquele continente verde está como terra sem lei e sem dono, com as porteiras escancaradas para passar a boiada do destruidor agronegócio. As mãos criminosas do capital incendeiam a floresta, devastam o meio ambiente, e matam os povos indígenas, num crime ecológico sem precedentes. E o Pantanal mato-grossense está ardendo em chamas! O desgoverno entreguista, em meio a negociatas mil, dá gargalhadas na cara do povo, que está acuado em meio a uma pandemia que mata e multiplica sepulturas devido à falta de uma política de saúde pública. Além da pandemia, há também o vírus da imbecilidade tomando a mente de pessoas embasbacadas, domadas como gado verde e amarelo a abanar o rabo ao som do berrante do seu “capetão”.
Não se trata aqui de nenhuma especulação ideológica, como enxergam os seres obtusos, ou delírio nacionalista, mas de um fato concreto. Está em jogo a soberania nacional.
Que independência do país é essa? Segundo os livros de história, foi no dia 7 de setembro de 1822, que Dom Pedro 1º, próximo ao riacho do Ipiranga, levantou a espada e deu o famoso grito: "Independência ou Morte!" Há quem diga que não houve nem se ouviu grito nenhum.
Mas, passados 198 anos do suposto marco histórico, ouve-se um novo grito, mas é de desespero de um povo faminto e subjugado no abismo em que o país foi jogado após o golpe contra a democracia em 2016. Grito esse, sufocado por um silêncio absurdo em meio a uma letargia anêmica, um cenário propício para proliferação de seres tenebrosos que tudo devoram e exterminam.
Neste tempo sombrio é oportuno lembrar um verso do Hino da Independência que faz um alerta: “Não temais ímpias falanges que apresentam face hostil”. Essas falanges são capazes de tudo, até de vender, entregar as riquezas do país na bacia das almas. Por isso mesmo, se faz necessária a resistência sem tréguas para que os verdadeiros ideais da independência sejam reconquistados. Hoje, com a bandeira em luto empunhada, devido ao desmanche por que passa o país, que a luta seja cotidiana e ousada. Que a retorno da luz comece já nas eleições municipais deste ano, basta de trevas!
Então, que revigore o grito consciente dos excluídos e faça coro por este Brasil afora o ano todo, a todo instante, e atinja as sarjetas onde a voz rouca das ruas rasteja sem força para gritar mais uma vez, e em definitivo, o brado do Ipiranga: Independência ou morte!
Como nas gerais minas montanhosas, liberdade ainda que tardia! De onde nasceu o eco de independência de um gigante ainda por acordar. Que o Brasil desperte em tempo para os gritos sufocados da multidão de excluídos que rasteja pelas sarjetas da pátria mãe gentil.

Comente, compartilhe!