Guaxupé, quinta-feira, 28 de março de 2024
Entrevistas

Médico traça panorama da Covid em Guaxupé, dizendo que nem a gravidade da situação parece sensibilizar as pessoas

sábado, 23 de janeiro de 2021
Médico traça panorama da Covid em Guaxupé, dizendo que nem a gravidade da situação parece sensibilizar as pessoas O médico Éverton de Lima Oliveira traça panorama da Covid-19 em Guaxupé (Foto: Arquivo Pessoal)

Em entrevista exclusiva ao Jornal da Região, o médico guaxupeano Éverton de Lima Oliveira diz que a cidade pode ter um colapso no sistema de saúde a qualquer momento

Jornal da Região: Como você está vendo o atual panorama de Guaxupé com relação à Covid-19?
Dr. Everton: O panorama é ruim. Houve aceleração dos casos depois do Natal e seria necessário um curto, mas rigoroso isolamento da população, para que a circulação do vírus diminuísse, mas não é o que estamos vendo.

Jornal da Região: Você acha que com a UTI no limite, as pessoas conscientizaram-se um pouco mais da gravidade de tudo que estamos vivendo? Ou não?
Dr. Everton: Chegamos a ter 10 pessoas na UTI da Santa Casa, mas isso não parece sensibilizar as pessoas para a gravidade da situação. As pessoas estão anestesiadas.

Jornal da Região: Na sua opinião, o que causou esta explosão da doença na cidade?
Dr. Everton: Os dados que nós temos mostram claramente que as festividades de fim de ano e o conjunto de aglomerações, seja nas ruas ou nas residências, foram cruciais para o avanço da doença.

Jornal da Região: Agora, a Santa Casa de Guaxupé suspendeu internações para pacientes que não estão com Covid-19. Como você vê isso?
Dr. Everton: A Santa Casa fez o que lhe restou fazer. O que aconteceu já era uma possibilidade na primeira onda, mas agora o quadro se agravou demais e tornou essa decisão inevitável.

Jornal da Região: A cidade está preparada para enfrentar novos desafios com relação à pandemia e que poderão vir pela frente?
Dr. Everton: O quadro é difícil e pode se deteriorar muito rapidamente, de forma que Guaxupé pode ter um colapso do seu sistema de saúde a qualquer momento, se grande parte da população continuar a negar a gravidade da doença.

Jornal da Região: O início da vacinação causa esperança, mas com isso a população pode ficar mais à vontade?
Dr. Everton: A vacinação, iniciada recentemente, cobre uma parcela muito restrita da população ainda, porque temos poucas vacinas. A vacina nos traz esperança, mas não podemos abandonar a prevenção, o distanciamento social e o uso de máscara, de forma alguma.

Jornal da Região: Quais os efeitos colaterais da vacina a curto prazo?
Dr. Everton: A vacina mostrou-se muito segura. O mais comum e importante é dor no local da aplicação. A maior parte da população não vai sentir nada.

Jornal da Região: Em quanto tempo poderá se saber se a vacina realmente erradicará a doença?
Dr. Everton: A vacina não deverá erradicar a doença. Provavelmente a covid-19 se tornará uma doença com a qual conviveremos, mas para ter certeza disso, precisamos saber por quanto tempo a vacina protege as pessoas, e não temos ainda essa informação. É possível que tenhamos que nos vacinar regularmente, como acontece com a vacina da gripe hoje.

Jornal da Região: Comenta-se que a vacina, a longo prazo, poderá causar câncer de pâncreas em algumas pessoas. Existe alguma comprovação científica sobre o assunto?
Dr. Everton: Não. Tudo isso é notícia falsa.

Jornal da Região: Mesmo depois de vacinadas, as pessoas ainda deverão fazer uso da máscara, do álcool gel e continuar com o distanciamento?
Dr. Everton: Sim, por muito tempo ainda deveremos manter esses cuidados que, aliás, protegem contra outras doenças respiratórias como a gripe. A eficácia da vacina em manter as pessoas imunizadas no longo prazo ainda não é conhecida, e ainda não está claro se, mesmo vacinada, uma pessoa não poderia transmitir o vírus mesmo assim. Enquanto não temos essa informação, precisaremos nos precaver. Provavelmente esses cuidados serão necessários por todo o ano de 2021, ou mais.

*Dr. Éverton de Lima Oliveira é médico, com residência em Medicina Preventiva e Social, especialização em Medicina de Família e Comunidade; Perito médico federal do INSS. 
 

 

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