Guaxupé, sexta-feira, 29 de março de 2024
Marco Regis de Almeida Lima
Marco Regis de Almeida Lima Antena Ligada Marco Regis de Almeida Lima é médico, nascido em Guaxupé, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003). E-mail: marco.regis@hotmail.com

OS JAVALIS, AS ARMAS PESADAS, OS CACs e OS PARAMILITARES

quinta-feira, 7 de outubro de 2021
OS JAVALIS, AS ARMAS PESADAS, OS CACs e OS PARAMILITARES Foto: Divulgação

Não foi sem fundamento que o Brasil viveu momentos de tensão na última comemoração do nosso Dia da Independência. O cheiro de uma conspiração havia se difundido pelos nossos ares, sentido por uns e negado por outros. Os desejosos de uma ruptura institucional, que traduzimos para o popular como a implantação de uma ditadura, justamente aqueles instalados nos mais altos escalões do atual governo se faziam de dissimulados, questionando como que um Presidente da República, no exercício de mandato e do poder seria capaz de tamanho intento e por qual motivo. Porém, observadores políticos, dentre os quais me incluo, sempre notaram a inclinação do Presidente Jair Bolsonaro pelo autoritarismo, mormente pela defesa incondicional e simpatia pela ditadura militar instalada em 1964. Mais do que isso, cumprindo a tradição outorgada ao Brasil de que o nosso Presidente da República faça o discurso de abertura da Assembleia Geral, anual, das Nações Unidas, em Nova York, tanto em 2019, como neste ano, Bolsonaro insistiu, batendo na mesma tecla, de que o Brasil esteve à beira do socialismo, se passando como super-herói que teria evitado tal regime. Classifico esse palavreado e esse conceito como um borrão intelectual, mesmo que esses discursos vazios tenham sido destinados ao agrado do público interno brasileiro, ou seja para seus fanáticos seguidores, sem qualquer grandeza de um estadista, porquanto fazia uso de uma tribuna mundial e deveria falar para todos os povos. Tanto porque, em nenhuma dessas oportunidades, ele não foi claro o suficiente de que tenha evitado uma ditadura comunista, que nunca houve no Brasil, propagandeada em 1964. Pode ser que os governos do Partido dos Trabalhadores, com Lula e Dilma, tivessem estado à beira do socialismo, porque dentro dele não estiveram, haja vista que os banqueiros nunca se queixaram desse perigo, lucraram fartamente, bem como o Congresso Nacional e o Judiciário funcionaram dentro do figurino democrático. Mesmo na hipótese de que tenham aplicado metas socialistas, isto é, em favor dos mais pobres, isto não ofuscou o nosso regime democrático, não o colocou em risco, ao contrário de todo este período bolsonarista, pleno de controvérsias e ataques às diversas instituições. Somente na cabeça oligofrênica e paranoica de Jair Bolsonaro, e seus adeptos, o Brasil poderia despencar num abismo na eventualidade da volta da Esquerda ao poder.
 O ambicionado Golpe do último 7 de Setembro nasceu morto. Mesmo que o Presidente tenha tido a proeza inegável de mobilizar a maioria dos seus apoiadores para as ruas, num chamamento antecipado de mais de um mês. Caminhoneiros que fizeram paralizações em governos do PT, por causa do preço dos combustíveis, agora, contraditoriamente, se dispuseram a fazer greve não pelo absurdo a que chegaram os valores da gasolina, do diesel e do álcool, mas, para apoiar um governo sem rumo que, acusemos ou perdoemos, tem responsabilidade no elevado número de mortos na pandemia que nos assola. Entretanto, na frustração do Golpe, uma greve de caminhoneiros seria o mesmo que um tiro no pé, e o Presidente os decepcionou, apelando para a sua desmobilização. Fracasso maior para os bolsonaristas foi o Presidente ter apelado para a ajuda do ex-Presidente Michel Temer, num pedido de desculpas ao Ministro do STF, Alexandre de Moraes. Por outro lado, o fiasco dos objetivos do Movimento de 7 de Setembro se deu pela firmeza com que se comportaram o Congresso Nacional e o STF – Supremo Tribunal Federal. Também pelos posicionamentos em prol da Democracia, externados através de manifestos escritos ou orais de instituições empresariais, de importantes veículos da imprensa, de artistas, de organismos sindicais, de intelectuais, enfim dos brasileiros. Porém, entendo como fundamental o zelo de influentes membros das Forças Armadas, que têm repetido estarem a serviço da Constituição e não de governos passageiros, sobretudo Generais que fizeram parte deste Governo e dele se afastaram, alguns na Reserva: General Fernando Azevedo e Silva, ex-Ministro da Defesa; General Edson Pujol, ex-Comandante do Exército; General Otávio Rêgo Barros, ex-Porta-Voz presidencial; e o mais ácido crítico do Presidente, o General Santos Cruz, que comandou tropas da ONU no Haiti e Congo e foi Ministro da Secretaria de Governo.
Sendo grave o assunto, meu propósito é recriminar e incriminar este Governo que vai além da pregação da discórdia, desde que tomou posse. Em hora alguma Jair Bolsonaro se investiu na condição de Presidente de Todos os Brasileiros. Mesmo assim, lhe dedico o respeito pregado no livro bíblico de Romanos, 13:1-7, augurandoque vá até o final do mandato conquistado nas urnas. Mas, diante de seus espasmos autoritários, continuaremos em vigília. Por exemplo, denunciando sua política anticristã de facilitar o acesso da população às armas. No programa Fantástico da Rede Globo, de 19 de setembro passado, foi noticiado que o Presidente Bolsonaro se mobilizou e se empenhou através de 37 medidas, tipo decretos, portarias e projetos de leis, incitando e favorecendo que as pessoas adquiram armas, sendo indiscutível que, por detrás de tudo, ele tenha por objetivo principal a formação de grupos paramilitares, que são organizações civis com características de uma força militar, na sua estrutura e na sua organização, sem que estejam ligadas às Forças Armadas. O sonho dele, de tornar-se ditador, junto com um bando de desatinados, que usa do nome de Deus, em vão; da Família; da Pátria; e da Propriedade, são apelos nazifascistas, que já causaram muita destruição no mundo, mormente a 2ª Guerra Mundial.
Na realidade o citado programa Fantástico, da Globo, teve como chamada: “CAÇA AO JAVALI VIRA PRETEXTO PARA GRUPOS SE ARMAREM”. Foram muitas as denúncias. Por exemplo, de que uma pessoa possa possuir até 30 armas e comprar até 90.000 munições/balas por ano, o que daria chance que essa pessoa atirasse 246 vezes por dia. Sabemos que javalis selvagens foram introduzidos no Brasil pela fronteira com o Uruguai. Eles dão várias crias por ano, podendo uma única fêmea procriar 16 filhotes. O bando come plantações de grãos, até ovos. Tornaram-se uma praga, razão pela qual o IBAMA liberou sua caça em 2013. Desde então, vieram outros problemas, também denunciados pelo Fantástico em 10-7-2016 (Javalis selvagens são alvos de caçadores cruéis) e 16-12-2018 (Caçadores usam permissão para abater javalis para matar outras espécies protegidas por lei). Na verdade, se assistirmos aos três vídeos, acessados no Google, vamos constatar a falta de limites e de crueldade por parte dos caçadores. E não poderíamos esperar dignidade de gente que mata e judia por prazer. Mas, têm sido os javalis os passaportes para que pessoas do Bem e do Mal passem por testes de tiro e psicológicos para obterem o CR – Certificado de Registro – e cheguem aos armamentos. De modo geral se adquire o CR, através de clubes de tiro, caça e pesca – como a ASMiTE, inaugurada em Muzambinho, conforme noticiado pelo “site” muzambinho.com em 23-6-2019. Se os javalis são o passaporte para a aquisição de armas e munições, outra denúncia da reportagem do Fantástico é que já foram constatados o transporte de filhotes ou mesmo de fêmeas de uma região para outra, uma disseminação proposital, comprovada também pela velocidade em que essa população animal se espalhou. Em 2016 eram 563 o número de municípios onde eles estavam presentes, agora são 1336. Quanto aos clubes, que Bolsonaro sempre se refere como CACs – de caçadores, atiradores e colecionadores – eles podem se filiar a uma entidade nacional, a CTBC – Confederação de Tiro e Caça do Brasil.  A entidade não só promove torneios de tiro esportivo, como facilita que os filiados comprem pistolas, carabinas, espingardas e até fuzis, importados de variados países, tipo Turquia. Um catálogo na internet revela preços, cujo mínimo é de uns R$6 mil. Não são armas para pobres, embora Bolsonaro tenha dito para comprá-las, deixando de lado o feijão. Claro, quem pode investir até R$100 mil em armas, munições, roupas e acessórios vai comer churrasco com carne importada e não feijão. Este é para nutrir os pobres, que se deixam ludibriar pelo charme dos mais ricos ou de políticos demagogos.
Nas manifestações de 7 de Setembro, na Capital Paulista, um vereador do interior desse Estado, chamado Mardqueu França Filho, apelidado e conhecido como Samurai Caçador, fez um discurso inflamado pregando o combate aos “marditos que querem implantar uma ditadura”. Essa é a narrativa onde os conspiradores contra a Ordem Democrática invertem os fatos, tratando a todos como comunistas, sem distinção dos verdadeiros comunistas, mas colocando no mesmo jacá pessoas como João Dória, Rodrigo Maia, a maioria dos ministros do STF, Renan Calheiros e tantos direitistas. O Samurai aparece no principal vídeo do Fantástico, dizendo: “O javali veio assegurar o direito de armas prá nós”. Parte do mesmo enredo do Presidente que disse, no curralzinho do Palácio do Planalto: “Um povo armado jamais será escravizado”. No dia seguinte, um amigo do Samurai, Deputado Federal Jair Bolsonaro, divulgou um, vídeo procurando desfazer tudo que o time do Fantástico apurou em dois meses de investigação. Nossa esperança está logo ali, dentro de um ano. A exemplo dos Estados Unidos, que enxotou D.Trump, espero que venha um governo e novas leis que cessem todas as facilidades dessa desgraça, que são as armas, seus circuitos de difusão e até uma certa promiscuidade que temos observado desses CACs com as várias forças de segurança, locais e rodoviárias.
 
 
 
 
 

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