Guaxupé, quarta-feira, 24 de abril de 2024
João Júlio da Silva
João Júlio da Silva PAPOENTRELINHAS João Júlio da Silva é jornalista em São José dos Campos (SP), natural de São Pedro da União e criado em Guaxupé. Blog https://papoentrelinhas.wordpress.com

Consciência Negra contra o deplorável racismo

domingo, 22 de novembro de 2020
Consciência Negra contra o deplorável racismo

Quinta-feira, 19 de novembro de 2020, véspera do Dia da Consciência Negra, um homem de pele preta é assassinado a socos e pontapés em Porto Alegre por seguranças de uma unidade de uma famosa rede de supermercados. Uma pessoa ser espancada até a morte é algo inaceitável numa sociedade que se posiciona como civilizada.
Se tamanha selvageria de seres covardes não causa revolta e tristeza em uma pessoa, abominável é ela por não se abater pela desgraça de um semelhante.
Não importa o que a vítima fez no verão passado, se já está fichada na polícia, isso é problema da Justiça, se o seu comportamento no local foi inadequado, nada justifica uma atitude tão repugnante. O caso não é isolado, a rede de supermercados já foi palco de outras posturas de violência contra pessoas, principalmente negros, e até contra animal.
Não fosse a crueldade seguida de morte já absurda, o ser rastejante que foi colocado no planalto das trevas ainda criticou a revolta que ocorreu em algumas unidades do supermercado em várias cidades. O episódio no Rio Grande do Sul desencadeou atos contra o racismo no país. “Seu lugar é no lixo”, disse a imunda criatura sobre a pessoa que se revolta. Ora, ora, o lixo da história já está reservado aos malditos que propagam o ódio e a violência!
Para piorar, o vice, outro ser deplorável, foi também tenebroso ao se manifestar, dizendo que não existe racismo no pais. “Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil”, disse o esverdeado parasita.
Quem realmente luta por uma sociedade igualitária, com justiça social, não pode jamais deixar que essa morte absurda seja apenas mais uma em meio a tantas, que não se transforme em apenas mais um número nas estatísticas. Que não seja esquecida, que não seja mais uma banalidade na violência contra os mais vulneráveis.
A perseguição contra negros é cotidiana país afora, principalmente o massacre sofrido pela juventude negra nas periferias. Não bastassem a discriminação, desigualdade, pobreza e tantas outras mazelas, o povo preto é também o que mais sofre nas mãos dos agentes da segurança pública.
Neste tempo de retrocessos, com o racismo em alta, sendo tolerado por quem deveria combatê-lo, a luta contra tantos absurdos deve ser de todas as pessoas que tenham um mínimo de humanidade. É intolerável que seres, considerados humanos, se sintam indignados com os protestos que acabam causando certos danos materiais, embora o seguro cobre tudo, e sequer se constrangem com o assassinato de uma pessoa. E se fosse um branco de olhos claros, hem!? Aí a postura seria bem outra, com certeza. Uma vitrine quebrada mexe muito mais com essas pessoas alimentadas pelo ódio que a morte de um semelhante.
Portanto, a luta contra o racismo é uma luta por justiça. Já passou da hora de dar um basta para a herança cultural da escravização de um povo massacrado e oprimido. Esse povo que se livrou da senzala e foi jogado na favela e nas periferias, tem todos os direitos que os brancos possuem. Que esse povo preto e perseguido possa ter também direito à liberdade de ir e vir, dignidade de ser humano, e que seja respeitado no seu direito à vida.
No supermercado hostil do capitalismo cruel, que separa seus produtos por gôndolas, prateleiras e corredores, a carne negra é a mais barata. A sociedade consumista e racista está com as mãos sujas de ódio e morte. A Casa Grande persiste em estalar os seus chicotes, mas da senzala ainda ecoa um grito de libertação, é Zumbi chamando o seu povo para a luta contra o racismo, pois vidas negras importam.
Por tudo isso, que o crime cometido em Porto Alegre não seja transformado em apenas mais um caso de violência, que não seja banalizado como tantos outros cometidos contra negros. Que todo racista seja devidamente punido com rigor!
O 20 de novembro deste ano foi tomado por tristeza e também por lutas contra o deplorável racismo. Para que fatos assim sejam evitados e condenados que o Dia da Consciência Negra deve ser todos os dias do ano, por consciência, igualdade e justiça do povo negro.
Miserável país é este, jogado no abismo e sob o comando genocida das trevas, que maltrata, espanca e abate o seu próprio povo!

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